Capítulo 2

99 6 0
                                    

Na semana seguinte, decidi que não iria pra escola. Minha mãe me apoiou, eu estava decidindo o que eu queria fazer. A médica disse pra ela que eu podia ter uns dois meses a mais se levasse uma vida saudável nesse meio-tempo. Achei a idéia meio idiota. Eu me esforçara pra ter um corpo bonito minha vida inteira (nunca consegui, claro) me privando dos junks-foods e doces, então agora tudo que eu queria nesse ultimo mês era comer tudo que me desse vontade e engordar uns vinte quilos.

–Bela música, você tem uma voz linda também filha. Por que não canta? – minha mãe havia entrado sorrateiramente no meu quarto e me escutado cantar “When I Look at You” . Dá pra ver que eu amo essa musica, vivo tocando.

–Quero pedir uma coisa. – falei me virando pra encarar ela, sentada na cadeira do piano. Apontei para a cama e ela se sentou nervosa.

–Sim?

–Quero o que sempre sonhei. – falei.

Eu estava pensando nisso havia um tempo. Desde antes de tudo aquilo. Eu queria ir para Londres, minha cidade dos sonhos, e logo depois para New York, pra tocar na Broadway. Pareçe viajem, eu sei, mas eu lembro até hoje a noticia de que uma menina tinha feito um concerto de violino na Broadway, depois de ser vista tocando por um diretor famoso , num teatro de Londres. Ela foi aplaudida de pé nas duas ocasiões. Era isso que eu queria. Minha mãe sabia muito bem que sonho era esse, dei uma olhada cautelosa pra ela, que olhava pra baixo.Nos tínhamos dinheiro e ela podia arranjar isso, mas eu queria merecer.

–Esperava que você não nos pedisse isso. – ela disse triste.

–É meu sonho.

–Eu sei, o que eu não sei é se vai ser bom pra você.Acho que tenho medo ...

–Eu sei que se eu for eu vou conseguir mãe –falei meio tensa- O que eu não sei é se você acredita em mim, depois de tudo o que disse, eu achava que sim.

Ela riu.

–Por isso que eu sempre tive orgulho de você. Às vezes filha, eu temo pelo seu futuro, então vejo como você esta calma com relação a isso –puxei o casaco para cobrir mais o pulso esquerdo, um pouco nervosa. – e vejo como tenho uma filha linda e corajosa, Ally. Você e sua irmã sempre foram meus maiores triunfos.

Me levantei e dei um abraço nela.

–Eu posso ir então?

–Desde que queira. – ela deu de ombros. – Eu pago passagem e estadia, estou confiando plenamente em você filha, e sei que você ainda vai me dar muito orgulho, mais do que já dá.

Dei uma risadinha sem graça e me sentei ao seu lado na cama.

–Quero saber algumas coisas básicas também. – falei.

–As três perguntinhas? – Essa era uma brincadeira que tínhamos quando queríamos nos comunicar rápido, ou por a conversa em dia. Sei que a maioria dos adolescentes odiaria, mas eu gostava, era uma coisa minha e da minha mãe. Era especial.

–Sabe que sim . – ri sem graça. –Primeira pergunta : pai?

Ela mordeu os lábios e não me olhou nos olhos.

–E então? – balancei ela.

– Por que quer falar sobre isso agora? Depois de 17 anos?

–Eu planejava descobrir – disse corando levemente, ela fez uma cara indignada – Mas meus planos tiveram que ser adiados. E eu quero ouvir de você mamãe,eu quero saber quem foi ele.

–Mas você não pode . – ela disse, meio que se balançando pra cá e pra lá.

Minha mãe teve que nos sustentar sozinha até eu ter oito anos, quando recebeu a herança da Tia Elena. Pode-se dizer que desde então, nossa vida foi bastante luxuosa. E bem divertida. Apesar disso, nunca tive uma vida fácil, o bullying e o fato de não ter um pai.Minha irmã achava um absurdo uma pessoa rica se cortar ou deixar intimidar, mas eu fazia isso. Isso sempre me deixava bem pra baixo, mas dessa vez eu queria tirar tudo a limpo, enquanto minha irmã estava na escola e eu tinha certeza que não nos ouviria.

–Mamãe, eu quero a verdade! Nada além disso, por favor! Sabe como é horrível isso? Ele ter morrido antes mesmo de eu ter conhecido ele direito? Só tenho algumas fotos. Quero saber como ele era.

–O que você sabe sobre ele? – ela perguntou, ainda de cabeça baixa.

–Que era muito bonito, britânico. Ahn, acho que é só isso. – eu dei um sorriso sem graça.

–Seus olhos são exatamente iguais aos dele. – ela não queria me olhar nos olhos ou era impressão minha?!

–Mãe. Pode me falar.

–Ele não morreu. – como assim? – Ele encontrou uma mulher, jovem, bonita e com um lindo corpo. Ele nunca queria tanto compromisso e quando descobriu que eu esperava a segunda filha, fugiu como o covarde que era.

–VOCE MENTIU? – gritei, me levantando imediatamente.

–Não queria que sofresse por esse canalha, ele não merece filha ... –ela começou.

–VOCE MENTIU! COMO PODE MENTIR PRA MIM TODO ESSE TEMPO? – berrei, chorando.

–Eu não queria ...

–EU ODEIO VOCE! – berrei limpando as lagrimas. Senti uma pontada na cabeça e cai no chão.

–Você esta bem? – minha mãe perguntou vindo até mim.

–NÃO ME TOCA . – gritei – Me larga, me deixa. Eu vou pra Londres hoje! HOJE!

–Eu arrumo tudo pra você, mas você tem que entender... – ela começou.

–Para, se você não quiser eu me arranjo sozinha – disse chorando.

–Eu vou arrumar tudo.Hotel e passagem.E quanto a sua irmã?

–Eu deixo uma carta pra ela. – disse irritada, minha mãe saiu sem reclamar. Depois de meia hora eu ainda estava no chão na mesma posição, quando ela veio me avisar que conseguira a passagem de avião para as quatro da tarde (daqui a uma hora) e estadia num hotel cinco estrelas de Londres.

Escrevi uma cartinha bem tensa pra minha

irmã, mas ela entenderia. E se não entendesse,

eu não ligava. Estava sendo egoísta mesmo,

eram meus últimos dias, estava dentro dos meus

direitos. Arrumei a mala com o máximo possível

de roupas quentes e peguei um dinheiro no cofre.

Meu carro ia ser mandado pra Londres logo após

minha chegada, então eu iria de taxi pro

aeroporto internacional de Los Angeles. Eu

estava muito irritada, mais ainda, me sentia

traída pela minha própria mãe. Isso era mais do

que eu podia aguentar.

Swan SongOnde histórias criam vida. Descubra agora