Deixando o que Marcus julgava ser um cemitério para trás, eles seguiram pelo vale.
Chegaram próximos a uma floresta e enquanto se preparavam para caçar Marcus viu um grupo de homens a distância. Rapidamente eles avançaram até os estranhos que se dispersaram em fulga, mas um foi capturado.
- Diga a ele que estamos procurando pela Águia dourada, Escar. Pergunte...
Marcus falava com o punhal apontado para o sujeito até ser interrompido por Escar que o segurava com o braço envolta do pescoço dele.
- Diga você à ele.
Desde os primeiros contatos com os nortenhos, era Escar quem vinha fazendo todas as intermediações, pois conhecia a maioria dos dialetos das tribos ou a língua livre, falada pela maioria dos povos da região.
Em alguns momentos Marcus desconfiava de suas informações. Eles vinham se relacionando muito bem, mas sua intuição lhe dizia que Escar estava escondendo informações dele. E parecia levá-los a lugares desnecessários.
- O quê? - Marcus perguntou atônito.
- Ele fala latim. É um romano.
De fato o homem tinha os traços característicos de um romano. Exceto pelos longos cabelos e a barba comprida. Mas ele balbuciava alguma coisa no idioma local e não parecia disposto a dizer nada em outra língua.
- Tem certeza, Escar? - perguntou Marcus irritado.
Se aquele homem fosse um de seus conterrâneos, pela aparência dele dava para julgar que era muito mais velho que eles. O que o tornaria um legionário ou algum dos soldados que deixaram o forte ou mesmo os homens que foram atrás da Águia. E o fato de que havia um grupo com ele só reforçava tais ideias.
- Olhe o queixo dele. Os elmos deixam uma cicatriz no queixo dos soldados romanos. - Disse Escar também irritado. Sabia que Marcus desconfiava dele.
Ao levantar o rosto do sujeito Marcus viu entre os fios da barba a cicatriz profunda que ele também possuía. Era um legado de honra e os homens faziam questão de manter seus rostos limpos para exibir a marca que lembrava a todos que eles haviam prestado serviço militar genuinamente.
Não restava dúvida. Aquele homem além de romano era um desertor que escondia entre os fios do rosto a sua origem. Marcus o puxou pelo casaco de peles que ele vestia dos braços de Escar e o arremessou ao chão com violência.
- Seu cretino! Covarde de merda!
Se atirou sobre ele pronto para lhe socar, mas Escar se jogou contra Marcus o afastando e impedindo dele efetuar as agressões contra o estranho que permaneceu no chão assustado.
- Pára! Você está louco?! Não tem respeito pelos que se foram e nem pelos mais velhos, romano? - disse Escar aos berros sobre Marcus que o empurrou dizendo.
- Nunca mais ouse me atacar, escravo!
- Eu não sou seu escravo! - Escar levantou e ajudou o homem que ainda estava caído a se erguer. - Não vai ser matando ele que você vai conseguir recuperar a sua maldita águia!
- Você não entende! Ele é um traidor e só há uma sentença para traidores: morte! - respondeu Marcus ainda no chão. Uma ameaça ou uma advertência velada ao seu companheiro.
O homem observava a discussão e resolveu interferir falando em um perfeito e audível latim.
- Agradeço sua ajuda, jovem servo, mas seu senhor tem razão. Eu sou um covarde e traidor; tenho escondido quem sou por trás dessa barba e cabelo, mas isto nunca será o suficiente pra me esconder de minha vergonha.
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A Águia (EM REVISÃO)
Historical Fiction"Se eu te perguntar agora: 'Quer ser meu príncipe?' Você deixa sua armadura e fica comigo para sempre?" 🎶Two men in love 🎙️The Irrepressibles No século II d.C. um jovem oficial romano procura um artefato de valor simbólico e pessoal que pertenc...