゚⋆ nineteen ⋆ .༄

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"Para tornar a realidade suportável, todos temos de cultivar em nós certas pequenas loucuras"

•ू♡

Dois dias depois

Loucura, os valores mais básicos foram questionados. Eu estava mais bipolar do que nunca, ou melhor, polipolar, eu estava faltando na escola por dias, minha mãe e Polly nem se deram conta.
E

xistiam dias em que eu só pensava em beber, mesmo sendo menor de idade, também existiam dias que eu queria colocar os gêmeos no microondas e observar eles rodando naquele pratinho minúsculo, mas em todos os dias, eu só pensava em uma coisa, Jughead, mas eu também pensava em outra coisa todos os dias... Outra coisa que eu não parava de notar, eu estava obcecada, eu não notava isso, mas quando eu estava fazendo qualquer coisa, momentaneamente eu começava a tocar aquelas manchas. Eu sempre tocava nas manchas, elas doíam um pouco, não tanto quanto antes, mas aquele lugar continuava doendo sempre e eu sempre estava pensando naquilo, querendo ou não. Às vezes eu nem prestava atenção nas coisas á minha volta, eu só estava mergulhada em pensamentos. Comecei a repetir as frases que ele falava pra mim, aquelas frases sujas. Comecei a me apegar a elas, eu repetia elas. Quando menos esperava, eu estava fazendo comida, mas então eu sentava no chão da cozinha e relembrava aquilo.

Eu tentei esquecer, tentei sair de casa
ou mesmo do meu quarto, mas sempre que eu pegava o telefone ou abria o WhatsApp, eu sentia a fisgada ficar maior, onde eu fosse, aquilo me perseguia. Eu sentia uma fisgada, uma coisa, um aperto no peito quando eu lembrava daquilo. Eu chegava a parar de respirar, eu sentia como se estivesse sendo apertada, como se eu pudesse sentir as mãos daquele babaca apertando o meu pescoço e batendo em mim. A dor voltava e eu nem tocava a região. Logo eu respirava rápido, não conseguia mais andar, me segurava nas paredes, mas meus dedos não se cravavam nelas. Eu chorava, ria, eu ignorava as coisas a minha volta e me aprofundava em meus pensamentos, tudo parecia gélido. Sentava na cama e só sentia as manchas doendo, não sentia o fofo da cama, não sentia os meus pés descalços tocando o piso frio, não sentia a ponta dos meus dedos, eu sentia somente ele me batendo e eu lembro, que eu de certa forma... Gemia? Eu estava hipnotizada, era de dor e eu sentia aquilo começar a doer em seguida.

Me enrolei nas cobertas e fiquei parecendo uma "minhoca" mas eu não estava brincando de minhoca,
eu estava vendo o meu rosto no espelho, eu via as marcas e o meu cabelo.

Um corte, dois cortes, a minha risada, eu pensava em parar de rir, eu não parava. Eu conseguiria fazer isso? Eu estava chorando e enxugar as lágrimas nunca havia sido tão difícil. Decidi rir, eu cerrava os dentes, eu bati no espelho com os meus punhos fechados e quebrei ele por inteiro, mas eu ainda conseguia ver os meus olhos nele e eu conseguia ver também os cortes. Então me dei conta, que a minha polipolaridade estava mais em choque do que nunca, não é só como se fosse um dia em que alguma característica minha estava mais acentuada do que outro dia, era como se existissem diversas Betty's, sendo elas uma brava,

uma triste, uma quebrada, uma preguiçosa, uma cansada, uma viciada e uma desnutrida, mas acima de tudo, eu me dei conta, que todo o dia eu era uma diferente, que naquele instante, elas brigavam pra tomar o controle. Era uma briga interna, como uma guerra dentro da minha mente. Eu chorava e ria, sentia dor e prazer. Ignorava o ambiente externo, estava fazendo tudo isso, mas eu não estava sentindo nada e ao mesmo tempo sentindo tudo, mas eu estava solitária e eu também estava outra coisa, louca.

Algo se encaixou, um click. Jug havia me dito que eu não precisaria ficar sozinha, mas ficar sozinha era meu único destino naquele momento. Eu era descente? Eu sera um estorvo. Não entendia nada que a escola tenta enfiar na minha cabeça, eu não conseguia ser mais sociável, fui extremamente rude com a Veronica, eu não ia bem na vida íntima com Jughead... E acima de tudo Chuck, eu não me guardei, eu não consegui, eu não conseguia mais levar essas coisas, carregar isso. Eu era um fardo, um estorvo, não só pros outros, mas pra mim também. Eu não conseguia cooperar comigo mesma, nem com meu ambiente externo e eu ainda estou rindo disso tudo. A minha parte consciente tenta me trazer as memórias da festa pra eu ir em frente, mas a minha parte instintiva tenta me fazer rir pra eu me sentir melhor. Eu não sou uma mais, eu não coopero comigo mais. O que eu estou fazendo aqui? Eu não sirvo pra cuidar dos gêmeos, eu não sirvo pra agradar a minha mãe, minha irmã, a Veronica, o Archie e ele...

Talvez fosse a hora de dar um ponto final nisso tudo, se a minha história está fadada a ser dor e sofrimento, então eu quebro a caneta e mancho as páginas de tinta.

As long as you love me ⋆ ᵇᵘᵍʰᵉᵃᵈ Onde histórias criam vida. Descubra agora