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Não conto o tempo que fico no banho fervente, mas saio dele bem mais calmo do que quando entrei.
— Mary, você pode me arrumar uma toal… —paro no meio do caminho, surpreso demais para falar.
Ela está na parada, trêmula e chorosa.
Eu vou até ela e me sento a sua frente, nervoso.
— O que aconteceu, querida?
Não escondo a minha preocupação em excesso.
Seu rosto está vermelho, as têmporas coradas e as bochechas molhadas de lágrimas cruéis. Quero toca-la, secar o seu pequeno rosto daquele sofrimento mas tenho medo de parecer invasivo demais com tal atitude.
— Me diga, por favor —seguro suas mãos, puxando-as em puro nervosismo. — Diga pra mim, Mary!
Ela se encolhe e aperta-se contra os joelhos.
Eu a seguro, puxando-a num abraço.
— Seu telefone, James —balbucia contra meu pescoço. — Eu… Não devia ter visto!
— Do quê você está falando?
— Me perdoe, por favor!
Seguro seu rosto com as mãos e olho para ela sem entender. — Está tudo bem, querida —conforto-a.
Sinto-me curioso com a situação.
Ela é tão forte e corajosa, que, vê-la chorando de tal maneira me faz sentir certa impotência.
Eu devo ir até o quarto de Falcão?
Não. Ele provavelmente está no treino.
Espere.
Que horas são?
Me estico para puxar o meu telefone e percebendo, ela se afasta de mim. — Eu sinto muito! —sussurra.
Eu desbloqueio a tela e fico surpreso ao ver que já passaram das meio dia. Nada incomum. O telefone vibra novamente em minhas mãos com uma mensagem de Daniela. Fodido. Estou muito fodido.
Daniela Ospina: David me disse que escutou o médico dizer que você vai ficar de fora do mundo.
Daniela Ospina: Fico feliz por isso. Deus te cobrou.
Largo o telefone no chão, atônito.
Fecho os olhos o mais rápido que consigo, tentando conter a vontade de chorar que me atinge em cheio.
Estou fora da Copa do Mundo.
— Hey —Mary me abraça apertado por trás.
Estou sem reação. Sentindo-me amaldiçoado.