Uma lesão nunca fora o suficiente para me fazer desistir de algo que queria. Uma lesão nunca me parou ou me impediu de realizar sonhos. Eu nunca deixei que um problema me fizesse não sentir-me capaz, mas é como se de repente eu estivesse mesmo incapaz de qualquer coisa.
Fui barrado da seleção. Tudo bem, senti um ódio repentino a princípio, seguidamente a gigantesca impotência de nada mais poder fazer com minha vida, mas então, repentinamente descubro que ainda tenho a vantagem para consertar algo. Lusmary Garcia. Eu não podia deixar a meia-irmã de Falcão ir embora sem antes escutar de meus lábios que também estou afeiçoado a ela e que ela não deve me odiar. Eu sei que sou uma junção fodida de problemas e confusão mas enquanto bato descompassadamente os meus dedos contra o metal do elevador, pensando e repensando em milhares de palavras que quero dizer a ela, sei que também gosto dela e não posso voltar para a Alemanha e fingir que nada disso aconteceu.Eu ainda não pensava em exato o que começar a dizer quando a visse, mas tentaria algo tipo: “Eu sei que são apenas alguns dias desde que te vi a primeira vez, mas, acho que também me apaixonei”
Não, não. Eu não podia simplesmente dizer palavras vazias sobre amor sabendo que envolvia muito mais que isso. Eu realmente estou atraído por Mary? Sim, estou. Estou lúcido quanto a essas sensações; Entretanto, eu não era capaz de dar-lhe ao menos uma explicação se ela me perguntasse sobre a gravidez de Daniela quando eu ao menos tinha aquela explicação para mim mesmo.
Quando foi a última vez que transamos?
Eu gozei dentro dela?
Eu não lembro.
E me sentia estupidamente idiota por pensar nisso.
Não, James. Ela é sua esposa.
Eu estava louco. Uma parte de mim ansiava desesperadamente encontrar Mary e pedir-lhe um pouco de paciência até que eu pudesse arrumar uma forma de me divorciar amigavelmente de Daniela ainda fazendo parte de seu ciclo de gestação. Outra parte me pusera numa posição em que eu sentia que seria um completo cuzão por sequer pensar na possibilidade de desfazer-me da mulher com quem fui casado durante anos enquanto ela espera um filho meu.
Está tudo ficando esbranquiçado. Confuso.
Quando o elevador abre no andar térreo, ultrapasso o saguão o mais depressa que minha perna lesionada consegue caminhar, desejando do fundo de meu peito que nenhuma das pessoas espalhadas por aquele espaço reconheçam o meu rosto da tevê e me impeçam de prosseguir até o lado de fora.
Chamo por um táxi e dou o endereço do hotel onde os famíliares da seleção estão hospedados questionando-me por quê diabos Daniela inventou de se hospedar num lugar longe deles? Lembro do princípio de nosso relacionamento, quando ela amava estar perto de todos e de seus pais e das mulheres dos caras e das crianças quando Salomé ainda estava se criando em seu ventre. Dani era alguém doce, carismática e amigável, e agora parece o oposto disso tudo. O quê mudou, afinal?
O Real Madrid? O Bayern? Não faz sentido.
Ospina também jogava por grandes clubes, não havia necessidade de Daniela ter mudado com minhas mudanças de clubes depois da última Copa.
— É este o local, senhor? —o motorista do taxi me pergunta em inglês. Agradeço as muitas aulas que tive durante as férias, pois o compreendo.
— Sim, obrigado!
Pago a corrida e salto para fora do carro.
Na recepção do hotel em que ela está hospedada, recebo o cartão-chave do quarto de Mary sem a menor hesitação por parte dos funcionários. Acho o ato totalmente insano, mas aceito de bom grado.