A partir do capítulo quatro a estória entra em um novo arco, no qual são desenvolvidos os personagens e nos mostra como é a vida na sociedade hipotética do livro na visão de várias pessoas diferentes. Com maior ênfase em Lenina e Bernard.
O conceito de felicidade é muito bem explorado por Huxley. Na distopiaapresentada no livro as pessoas são condicionadas a serem felizes, ou melhor, a se sentirem felizes por serem quem são. Afinal, se alguém for um épsilon ele é condicionado para se sentir feliz sendo um épsilon e a achar que a maior infelicidade do mundo seria ser de outra casta, como um Alfa, e a recíproca é verdadeira. Assim quem quer que você seja será "feliz", afinal eles ouvem milhares de vezes que "actualmente, toda a gente é feliz" (HUXLEY, 1932, p. 37).
Se essa é a forma que a maioria das pessoas veem o mundo lá, isso não é unanimidade. Existem alguns aos quais o condicionamento não funciona tão bem e esses percebem o quão ridículo é o mundo no qual vivem. Percebem que eles não são verdadeiramente felizes, como foi o caso de Bernard, que na verdade a felicidade e todos os outros sentimentos possuídos pelos habitantes da sociedade em questão são, como o sangue que recebem quando embriões, pseudo sentimentos produzidos em laboratório. Não os é permito sentir algo único, próprio de se mesmo, tudo o que sentem tem que ser sociável, pois "quando o indivíduo sente, a comunidade ressente-se" (HUXLEY, 1932, p. 45).
Bernard, na qualidade de psicólogo, ou simplesmente de pessoa diferente, sabia que aquilo que eles tinham não era a verdadeira felicidade, tão pouco liberdade. Graças ao condicionamento eles faziam o que se esperava, agiam como se esperava, eram células em meio a uma sociedade que dependia da ação predestinada de cada um. Porém não os eram permitidas grandes individualidades, a comunidade oferecia algo que chamava de felicidade, objetivos de vida, coisas que ela mesma impunha como satisfatória e não permitia o direito de questionar, não pela força, mas sim pela ideologia, ideologia essa que tirava a liberdade das pessoas pensarem, agirem, ou até mesmo saber como seria pensar de verdade sem o condicionamento, sem as drogas. Como seria a verdadeira vida, isso é o que Bernard queria saber, no entanto aos olhos dos outros já presos naquela podridão da sociedade era apenas loucura e esquisitice, já aquela felicidade condicionada era a verdadeira felicidade e não a que vem de sua própria individualidade, essa gera tristeza por ser muitas vezes inalcançável. E é justamente esse ponto abordado por Huxley que tanto assusta os seus leitores, pois os habitantes de sua sociedade hipotética simplesmente não sabiam do que riam ou que tinham parado de pensar (POSTMAN, 1985).
E é nesse contexto que duas pessoas tão diferentes, em uma sociedade em que todos deveriam ser parecidos, como Lenina e Bernard, se aproximam. Ela possui um condicionamento, salvo por alguns desvios ao decorrer da trama, perfeito. E ele, o qual é acusado de ter recebido álcool em seu pseudo-sangue, possui um condicionamento desastroso. Como todo mundo é de todo mundo e Bernard é um psicólogo, sendo assim um dos poucos que pode visitar a reserva de selvagens, onde ele e Lenina resolvem passar as férias juntos.
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Resenha de Admirável Mundo Novo
De TodoSei que aqui é um espaço destinado a publicações de livros. Entretanto, esse foi de longe o melhor texto que já escrevi e quero fazer um paralelo da minha evolução na escrita para saber se vale a pena voltar a me dedicar. Este é o material original...