O Que Aguarda O Selvagem

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Mas na verdade ir para a ilha era mais uma recompensa do que um castigo. Pois na ínsula eles viveriam com as mais incríveis pessoas da sociedade, indivíduos esses que por algum motivo perceberam suas individualidades, que conseguiram tomar consciência de que na verdade a sociedade ideal deles é um pesadelo, tornando impossível uma adaptação com os que tiveram uma lavagem cerebral perfeita. E mais, lá poderiam ter contato com a verdadeira arte, com a ciência pura e com os seus instintos.

Ainda existiu mais um preço a ser pago pela harmonia: a religião. Afinal de contas Deus não se enquadrava mais na sociedade em questão, não era necessária uma fé já que não existiam perdas, eles eram sempre prósperos e jovens por toda a vida. Portanto, a religião se tornou um supérfluo perigoso, tanto que a população ficaria escandalizada com livros como a Bíblia Sagrada. Porque "Deus não é compatível com as máquinas, a medicina científica e a felicidade universal" (HUXLEY, 1932, p. 108), então se fez necessário uma escolha e a comunidade deles escolheu abandonar a religião e abraçar o novo mundo.

E se formos pensar bem, talvez nós acreditemos por também sermos condicionados a acreditar como o Selvagem foi quando conviveu com os nativos. Como foi dito pelo antes excelente físico e agora administrador residente da Europa ocidental, Deus com certeza deve existir e na nossa sociedade ou na aldeia do selvagem por muitas vezes é extremamente necessário que exista. Mas em uma sociedade utópica em que todos já são naturalmente felizes e satisfeitos ele pode até existir, porém já não se faz tão necessário, talvez sua existência acabe por ser até um incomodo para as pessoas.

Contudo, para alguém como o John era impossível se manter em tal sociedade, quando seus amigos partiram para a ilha, ele fugiu e se isolou em uma cidade pequena defronte ao mar. Já tomado pela loucura promovida pela culpa da morte de sua mãe, pelo sentimento que teve por Lenina e pela desastrosa adaptação em qualquer um dos dois mundos, ele começou a se martirizar. Mas o pobre Selvagem continuou a ser perseguido pelos civilizados, nem em sua mais audaciosa fuga o foi permitido ser livre, sendo tratado então como um macaco em um zoológico pelos que o julgavam inferior e diferente. Então ele apelou para o que talvez fosse a única oportunidade de ser livre, de não ser mais perseguido, de não ser mais considerado diferente, de não ser mais infeliz, de simplesmente não ser...

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