O texto que tem um início consideravelmente lento, e que não apresenta a priori nenhum personagem com grande detalhamento, no entanto, faz bem o seu papel de introduzir e contextualizar um mundo que consegue ser ao mesmo tempo distópico e próximo da realidade do leitor. Nos três primeiros capítulos é relatado como funciona a "produção" de novas pessoas e o seu condicionamento para viver em sociedade, e como essa ferramenta é usada para deturpar a moralidade e a forma de ver o mundo tida como padrão tanto hoje quanto na época em que o livro foi escrito, isso era feito para que assim a população vivesse em união e alcançasse o que eles chamam de verdadeira felicidade.
Nessa explicação do funcionamento da sociedade, o escritor deixa claro que a divisão de castas apresentada é bem rígida e que não é permitida, nem almejada pelos seus membros, uma mudança. As pessoas as têm definidas ainda antes de nascer, podem ser alfas, betas, gamas, deltas ou épsilons. E são condicionadas a amar o que fazem e a não sentir inveja nem das castas superiores, nem das inferiores, como é relatado nesta passagem:
As crianças alfas estão vestidas de cinzento. Elas trabalham muito mais que nós, porque são formidavelmente inteligentes. De fato estou muito contente por ser um Beta, pois não trabalho tanto. E, depois, somos muito superiores aos gamas e aos Deltas. Os gamas são patetas. Estão todos vestidos de verde e as crianças Deltas estão vestidas de caqui. Oh, não, não quero brincar com as crianças Deltas. E os epsilões são ainda piores. São tão estúpidos que nem sabem... (HUXLEY, 1932, p. 18).
Além do condicionamento psicológico, os embriões, e mais tarde as crianças, sofrem também condicionamentos físicos. Como quando são expostos ao frio e ao mesmo tempo a sensações desagradáveis, para que assim associem aquele a uma coisa ruim, obrigando os novos indivíduos quando adultos a viverem em locais quentes, como nas minas nos trópicos, assim eles produzem ótimos mineiros que não saberiam viver em outro lugar. Afinal, para eles "o segredo da felicidade e da virtude: gostar daquilo que se é obrigado a fazer. Tal é o fim de todo o condicionamento: fazer as pessoas apreciarem o destino a que não podem escapar" (HUXLEY, 1932, p. 13).
Para que cada um fique em seu devido lugar, além do condicionamento, é muito usada por eles técnicas que consistem em reduzir a capacidade de raciocínio dos membros das castas inferiores. Como colocar álcool no pseudo-sangue dos embriões ou reduzir o oxigênio concedido a eles, afinal "nada melhor que a falta de oxigênio para manter os embriões abaixo do normal" (HUXLEY, 1932, p. 12). Até porque para que cada um viva feliz, além do ambiente, é necessária uma hereditariedade adequada, e no caso isso significa, uma inteligência adequada.
Além da lavagem cerebral voltada para que saibam bem qual é o seu lugar, a população é condicionada a sempre estar consumindo manufaturados o que acaba fortalecendo o capitalismo. As pessoas são levadas, por exemplo, a gostarem de esportes ao ar livre, para praticá-los, além de precisarem fazem uso dos meios de transporte, precisam comprar aparatos de aparelhagem complicada. Tanto que para ser criado um novo esporte é necessário que ele exija tantos equipamentos quanto o desporto que exige mais equipamentos vigente. Também são condicionados a gostar do novo, de que o velho é ruim, "os fatos velhos são detestáveis... Nós deitamos sempre os fatos velhos. Mais vale destruir que conservar" (HUXLEY, 1932, p. 27), ou seja, que nunca devem consertar as coisas, que sempre devem comprar objetos novos.
Se por um lado elessão levados a amar coisas comerciáveis, por outro são condicionados a odiartudo aquilo que não pode ser comprado. Como quando ainda bebes são oferecidos aeles flores e logo depois são submetidos a uma descarga elétrica e a um barulhoincessante, o que depois de várias repetições, gera um verdadeiro terror a elesa tudo que se relaciona à botânica. Afinal de contas, a natureza é gratuita,não oferecendo assim nenhum trabalho para as fábricas, o que torna, sobretudonas classes inferiores, uma futilidade completamente dispensável (HUXLEY, 1932).
A sociedade futurística do livro também sente medo dos sentimentos mais exaltados da população, levando assim que tais pensamentos não existam. Quando crianças eles são levados a associar a morte a uma coisa normal, brincando e comendo doces em meio aos enfermos, eles passam a apreciá-la e não a temê-la. Além disso, são desencorajados a terem amores e paixões, pois sentimentos tão fortes podem gerar conflitos, afinal de contas "cada um pertence a todos" (HUXLEY, 1932, p. 23). E também são levados a sempre terem os seus desejos rapidamente realizados, criando uma sociedade mimada que é acostumada a nunca demorar mais de uma semana para ter tudo o que querem desde objetos aos seus desejos sexuais, tanto que ainda quando crianças são levadas a terem brincadeiras eróticas.
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Resenha de Admirável Mundo Novo
RandomSei que aqui é um espaço destinado a publicações de livros. Entretanto, esse foi de longe o melhor texto que já escrevi e quero fazer um paralelo da minha evolução na escrita para saber se vale a pena voltar a me dedicar. Este é o material original...