"Promete que nos ligas todos os dias." a minha mãe pediu, ajeitando as lapelas do meu casaco, como se fosse o meu primeiro dia de aulas desde sempre. Como se eu fosse a Rosalind que entrou agora para a escola com seis anos.
"Eu prometo." jurei, mesmo sabendo que tal não se iria concretizar. Eles têm uma vida muito ocupada, e agora, comigo na universidade, será difícil arranjar tempo para conversas com os meus papás.
"E tem cuidado. Existem sempre pessoas perigosas por aqui." o meu pai avisou.
"Eu sei pai. Não te preocupes com isso, tu sabes que eu tenho cuidado." confortei-o.
"Não deixes nenhum bandalho fazer-te mal, está bem?" ele pediu, dando um beijo na minha testa.
"Está bem." respondi educadamente.
"Se algum te tocar, liga-me! Eu venho aqui e trato-lhe da saúde." ele disse e eu quase caí na tentação de me rir. O meu pai é muito pacífico, e, com toda a certeza, não iria fazer mal a ninguém.
"Eu ligo, fica descansado." eu acalmei-o e fiz um pequeno sorriso, sabendo que chegou a hora da despedida. Os meus olhos começaram a picar e eu puxei as lágrimas para trás.
"A minha bebé já a sair de casa." a minha mãe disse com emoção e as lágrimas a embargar a sua voz. Ela não estava preparada para que a sua única filha saísse de debaixo das suas saias tão cedo.
"A minha princesa a enfrentar o mundo." o meu pai acrescentou e vi também os seus olhos brilharem.
"Por favor, não chorem. Eu vou ter cuidado e não estamos assim tão longe uns dos outros." eu disse a tentar aliviar aquele momento.
"Amo-te." os meus pais disseram ao mesmo tempo, para mim.
"Amo-vos." respondi e abracei-os ao mesmo tempo, deixando algumas lágrimas caírem.
E eles partiram, deixando-me à entrada do meu complexo de dormitórios a ver o carro partir. Acenei quando eles passaram por mim dentro da viatura e vi-os desaparecer na estrada.
Respirei fundo e olhei em volta. Via os diferentes complexos das diferentes faculdades da universidade. Economia, literatura, ciências ambientais, desporto, história, ...
Olhei novamente em volta e vi estudantes de mala ao ombro, livros nas mãos. Fotocópias voavam aqui e ali. Grupos de alunos passavam ao longe e o meu olhar ficou preso num rapaz com um gorro que observava tudo assim como eu. Perguntei-me se ele seria estudante. Tinha ar de ser, mas o seu olhar sério fazia-o parecer mais velho alguns anos.
Decidi ignorar e olhei para a minha direita, um casal, acho eu, estava a dar beijos. A rapariga a ser esmagada pela altura do rapaz contra a parede. As mãos dele no rabo dela e ela puxava-lhe levemente o cabelo. Ouvi uns sons estranhos saírem das bocas deles e nem quis saber o que eram. O meu nariz franziu e eu decidi voltar para o meu dormitório, pois tinha as malas para desfazer e queria tomar um banho antes de ir dormir.
Entrei dentro do dormitório e fitei as paredes bejes. Estavam despidas de qualquer enfeite e eu suspirei. Não tinha nada a ver com o meu quarto em casa.
O meu quarto em casa tinha paredes brancas, alguns quadros com fotografias de paisagens, fotografias que eu tinha tirado. Um armário branco, com pegas prateadas estava encostado à parede em frente da minha cama e a minha cama era toda ela branca e grande, o dobro ou o triplo desta minúscula cama de dormitório.
O meu armário também era muito maior do que o do dormitório e espero não ter que o partilhar, senão estou tramada.
Respirei fundo e comecei a desfazer as minhas malas, arrumando a roupa no armário, os sapatos todos organizados aos pés da cama e na minha secretária, coloquei o meu horário, uma lata com canetas, lápis, corretores e etc, e na estante por cima da secretária, coloquei os meus romances preferidos, assim como livros de outros géneros que eu também gostava.
Sobre a secretária deixei também o meu dossier com folhas prontas a serem utilizadas e alguns livros que nos tinham sido recomendados para comprar.
Suspirei quando tudo estava arrumado e fui ao armário, de onde tirei roupa interior lavada, umas jeans um pouco justas, mas não muito, e uma sweat que eu gostava muito, cinzenta e com um padrão tribal preto.
Peguei nos meus produtos de higiene e olhei as horas antes de abrir a porta. São 21h30. Hm, talvez os chuveiros estejam desocupados.
Pousei o meu telemóvel dentro da gaveta da minha secretária, e saí do dormitório, tendo a certeza de que o fechava atrás de mim.
Guardei a minha chave dentro da bolsa dos produtos de higiene e dirigi-me para as casas de banho onde estavam os chuveiros.
Entrei num cubículo/cabine e fechei a porta, pendurando a minha toalha num dos três cabides que existiam na porta. Tirei a minha roupa, pendurando-a também no segundo cabide e a roupa que eu iria vestir em seguida, estava pousada num pequeno banquinho que estava dentro da cabine, mas que ficava longe do jato de água.
Liguei a água quente e esperei que aquecesse enquanto abraçava o meu corpo.
"Ahahahah." ouvi risos do outro lado da porta e encolhi-me mais.
"Shhhh, olha que ainda te ouvem." ouvi uma voz feminina.
"Ninguém nos vai ouvir. Seremos rápidos." uma voz masculina respondeu e eu abri imenso os olhos. Isto era a casa de banho das raparigas!
"Hmmmm, amor. Estou toda molhada e tu aí com conversas da treta."
"Oh fodasse. Não me excites mais caralho." o rapaz respondeu e ouvi-os entrar num compartimento. Engoli a seco. Não seria capaz de tomar banho com eles aqui.
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Melody
Fanfiction"Devias de deixar a tua vida correr como uma melodia." Ele disse junto do meu ouvido. "Como assim?" perguntei, um pouco confusa. "Por vezes tem de ser calma e suave, outras vezes mexida e animada, e por fim, também deve ser triste e dolorosa." ele e...