Capítulo cinco - que dia é hoje?

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Rosa Wellington

Meu corpo todo doía, era como se tivesse sofrido uma queda considerável. Eu podia sentir um ardor nas minhas bochechas e gotas de suor escorrendo pelo meu corpo em partes que nem imaginava que poderia transpirar, eu detestava calor.

Mantive meus olhos fechados enquanto sentia minha cabeça girar. Meu esqueleto fazia um movimento lento quase como um balanço para lá e para cá, era quase imperceptível. Tentei me acostumar com o zumbido em meus ouvidos, com o calor insuportável e com um cheiro de carvão muito forte, era quase sufocante.

Quando abri os olhos me acostumando com o que via pensei:

Algo deu errado!

Pelos meus conhecimentos básicos de navio, aqui não é a proa. Permaneço imóvel. Meu corpo estirado no chão como um cadáver numa cena de crime.

Eu estava na sala das caldeiras. Olho para o teto e depois observo ali mesmo do chão um corredor extenso com grandes caldeirões de aço tampados. Pela pequena grade posso ver as labaredas de fogo dançar dentro deles.

Bom, isso explica o calor insuportável. Por um momento pensei que poderia estar no meio da boca de um vulcão, parecia que meu corpo ia derreter.

Tento respirar fundo, mas o ar aqui é pesado demais, quase impossível de puxar pelos pulmões. Sinto uma pequena vibração vindo em direção a minha cabeça como se estivessem caminhando na minha direção. Logo um homem com um palito de dente na boca se inclina na minha frente com as mãos na cintura.

Belos braços

Ele está todo sujo de fuligem, seus olhos me encaram desconfiados e ele tira o palito da boca e fala algo. Percebo que não consigo escutar, o zumbido é alto demais.

- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? - ele grita. Finalmente consigo entender o que diz.

O encaro totalmente sem reação, e mais dois homens se inclinam sobre mim. Quando finalmente me acostumo com o zumbido no meu ouvido, escuto eles conversarem sobre mim como se não estivesse lá.

- Dá onde essa menina saiu? - um homem de cabelo grisalho e todo sujo fala para outro.

- É cada louca que me aparece. Está chegando nossa hora de pausa, deixa esse saco de batatas aí - os dois homens falam para o moço do palito e depois saem andando.

Saco de batata é teu rabo, penso.

Meus olhos acompanham a movimentação e depois de um tempo consigo me colocar sentada. Minha cabeça ainda gira, mas não tanto quanto antes.

- O gato comeu sua língua? - o homem se agacha na minha frente e coloca o dedo indicador na minha testa pressionando com curiosidade - Hein, cabelinho de fogo.

Como se tivesse me dado um choque me levanto ao ouvir suas últimas palavras. Quase tropeço nos meus pés e sou amparada.

Droga, Jonathan!

- Calma aí, aqui não é lugar para garotinhas da sociedade. - Desdenha e acabo revirando os olhos.

- Por acaso você viu um homem magricelo e de óculos grandes por aqui?

- Oh, foi ele que te deixou nesse estado gata? - dá uma risada alta - Tem tantos lugares para curtir e vocês decidem fazer isso aqui... - fala meio incrédulo e olho para ele impaciente.

- Não é o que você está pensando.

- Nunca é - rebate e volta a colocar o palito na boca.

Respiro fundo e logo me arrependo de fazer isso. O ar poluído entra queimando minhas narinas. Olho em volta e observo a bolsa de couro jogada no chão, abaixo e a pego passando pela minha cabeça.

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⏰ Última atualização: Dec 13, 2019 ⏰

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