┤ Não em casa ├

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     A garota de cabelos cinzas se apressou em abrir a porta do carro

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     A garota de cabelos cinzas se apressou em abrir a porta do carro. Logo estava com os pés sobre a grama molhada do Campo dos Corvos, a poucos metros daqueles grandes edifícios de alvenaria. Fugiu-lhe o fôlego por um instante, e lá permaneceu estática, sem saber o que era aquilo que estava sentindo. Seus olhos recaíram sobre a maior edificação no coração do campus: a arquitetura lembrava a de um castelo, e nem as rachaduras nas paredes, ou as heras crescendo pelos alicerces, conseguiam tirar a sua grandiosidade — na verdade, o conjunto só o tornava mais extravagante.

     O céu exibia um tom cinzento de quase amanhecer, mesmo que já não fosse. Era uma manhã fria e escura, tão triste quanto a garota cujos cabelos pareciam reflexos das próprias nuvens. O vento soprava forte, e trazia com ele um chuvisco que alfinetava a pele, junto a um aroma de flores mortas e de terra molhada, tão sufocante que causava pigarros. A menina desamarrotou a saia com as palmas das mãos, vestiu suas madeixas com um capuz vermelho e cruzou os braços. Era prenúncio de uma bela manhã.

     O velho se juntou a ela e seguiu seus olhos.

     — Incrível, não é? — Ele pôs as mãos na cintura, estupefato. — Eu disse que você gostaria — acrescentou, abrindo um sorriso convencido.

     A jovem virou-se para o homem esguio e curvado como as árvores que vira na estrada.

     — Claro, vô — respondeu ela, sarcástica. — O acampamento de férias que eu sempre quis.

     — Esse é o espírito, pequena! — ele bradou com rouquidão, junto a um tapinha no ombro de sua neta.

     Os dois passaram pelos portões de ferro forjado do prédio central, revelando um vasto hall de entrada mal iluminado por algumas luminárias suspensas. O pé direito elevado, em combinação com os amplos vitrais na parede, criava um clima de misticismo e grandiosidade.

     O ranger do portão e dos passos no piso de madeira envelhecida atraíram os olhares de um aglomerado de adolescentes no final do saguão.

     — Mais uma! — anunciou um deles com entusiamo, apontando — agora falta só um.

     Uma mulher de curtos cabelos alaranjados vestindo um blazer vinho abordou a jovem e seu avô:

     — Sejam bem-vindos, eu sou a inspetora Marsha — apresentou-se, com seus dentes brancos à mostra — vocês são o senhor e a senhorita... — ela parou, arqueando as sobrancelhas nitidamente desenhadas.

     — McDowell — completou a garota.

     A mulher de salto alto cantarolou seu sobrenome até o encontrar em uma prancheta em suas mãos.

     — Aqui está, Nicole Allen McDowell — informou, com uma animação que escorria falsidade. — Venha para o meu escritório, querida, ainda há uns detalhes para acertar.

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