Capítulo II

44 7 0
                                    

Victor olhou no seu relógio e viu que já eram 7:30 da noite. As luzes do colégio estavam todas apagadas. Sozinho no portão, lamentava:

- Para variar, vou sair daqui nove horas outra vez!

Andando de um lado para o outro, Victor estava impaciente. Então, o farol de um carro quase o cegou por uns instantes. O carro preto que chegara parou à sua frente. Já estava prestes a abrir a porta, pensando ser o carro de sua mãe, quando o vidro da porta desceu. Do breu que estava o veículo, uma voz conhecida lhe perguntou:

- Quer uma carona até sua casa, Victor?

*          *

Victor acordou com dor de cabeça. Depois de perceber que não estava sendo levado para casa, o motorista do carro que em que entrou o aplicou inesperadamente uma injeção. Desacordado, não viu mais nada.

- Onde eu estou? - olhando o pequeno cômodo onde estava, percebeu que existia uma janela (alta demais; não a alcançava) e uma porta.

Levantando com certa dificuldade, o garoto se arrastou até a porta e começou a esmurrá-la:

- Quem está aí? Me tirem desse lugar!

O garoto pôde ouvir do lado de fora novamente a voz conhecida:

- Fique quieto! - se dirigindo a alguém que estava com ele, disse ainda: - Cuide dele, preciso voltar.

Recomeçando a esmurrar e chutar a grossa porta de madeira que os separava, o rapaz atiçou a raiva do encarregado de cuidá-lo:

- Pare com isso, seu idiota! - e, abrindo uma pequena abertura lacrada da porta, encarou o menino .

Provavelmente Victor não esqueceria tão cedo daquele olhar. O homem, que nunca vira antes, passou pela abertura um copo d'água e mandou que ele bebesse. Depois lhe deu uma maçã e disse:

- Este é o seu jantar. Se contente com isso.

Victor não estava entendendo o que estava acontecendo. Parou e sentiu vontade de chorar. Pensou nos amigos, Alfie e Oliver, na namorada, Sophie, e depois nos pais... Ah, foi nessa hora que tudo fez sentido.

Recostado em um dos cantos de seu cativeiro, caiu em prantos. Fez esforço para se lembrar dos detalhes de tudo o que aconteceu; tinha esperanças de ser salvo. Lembrou do carro preto, do motorista e esse homem; esse tinha um detalhe importante, e Victor fez questão de memorizá-lo quando o homem passou a mão pela abertura da porta para lhe entregar a comida...

*          *

O sinal toca no colégio Wosterbridge. Apesar de sua sala ser no 1° andar, Oliver estava no portão, procurando por Victor.

- Mas que estranho! Ele não costuma faltar.

Para não ficar mais atrasado do que já estava, atravessou correndo o corredor do prédio e subiu as escadas. A porta da sala estava fechada.

- Posso entrar, professor? - bateu na porta.

- Entre. Da próxima vez vai ficar para fora. - professor Cooper odiava ser interrompido. Quando perdia a linha de raciocínio, precisava começar tudo outra vez, frase por frase, o que fazia a aula de História um pouco repetitiva - Agora que estão todos na sala, o que acharam da visita ao bosque Trollope?

- Foi muito boa - algumas vozes tímidas deram resposta ao professor.

- Quando era pequeno, sempre ia ao bosque. Ah, como gostaria de ter ido com vocês! Conheço aquele lugar como ninguém! Bom, mas sem mais enrolações, a História nos espera.

*          *

No horário de almoço, houve um grande alvoroço no colégio. A notícia se espalhou rápido.

- Tem uma viatura da polícia aqui no portão da escola! - as pessoas faziam questão de contar fofocas.

Gerando insegurança nos alunos - muitos deles sequer tinham visto um policial na vida! -, o pânico começou a se alastrar. Exagero? Talvez um pouco.

Alfie e Oliver foram chamados por Doutor Scott à sala da diretoria, que ficava no 1º andar. Abrindo a porta da sala, que estava fechada, os dois rapazes foram surpreendidos com a presença de dois policiais junto ao diretor.

- Meninos! Estávamos esperando vocês. Estes são delegado Dylan e seu ajudante, policial Marlow.

- É um prazer conhecê-los! - o delegado cumprimentou os garotos seguido pelo policial.

- Prazer. - Alfie não pode deixar de reparar a mancha que Marlow tinha na mão; era pequena, mas parecia um triângulo. Achou aquilo engraçado.

- Primeiro gostaria de fazer algumas perguntas a vocês. Soube que são muito amigos de Victor, estou certo? - Dylan começou a falar - Soube também que Oliver foi o último a falar com ele, certo?

- O que o senhor quer afinal de contas? - a falta de paciência de Oliver falou mais alto.

- Mais respeito, garoto mimado! - policial Marlow também mostrou ter o pavio curto.

- Retomando o que eu estava dizendo, Oliver foi o último a ter contato com Victor. Preciso saber o que conversaram.

- Oras, nada de mais! Ofereci uma carona, porque os pais dele ainda não haviam chegado, mas ele recusou. Depois disso fui embora. Mas por quê quer saber disso?

- Recebi uma denúncia ontem à noite. Os pais desse garoto o estavam procurando. Victor não voltou para casa. Ele está desaparecido.

Onde você está, Victor?Onde histórias criam vida. Descubra agora