Definitivamente, o caos havia se apoderado dos professores, dos alunos e do Colégio. Três assassinatos eram de mais. Com mais esta última morte, em plena luz do dia, embaixo dos olhos de todos, era quase impossível manter a normalidade das coisas.Expulsos pelo policial da escolta, com seu revólver na mão, todos foram aos poucos para suas casas.
Enquanto diminuía a aglomeração de pessoas que assistiam à cena digna de um romance policial, Doutor Rian foi sendo levado para a viatura estacionada em frente à escola. A cena do crime, o corpo e a tesoura foram isolados do contato dos curiosos para as investigações da perícia, que logo ia chegar.
Do outro lado, era triste o que acontecia. Que situação lastimável! Margarett, aos prantos, chamava pelo filho que não mais podia respondê-la. Amparada por Bethany e por alguns que demonstravam compaixão, a senhora só conseguia se lamentar.
Mas e Alfie? Onde estava? Ele já estava indo para casa. Sua mente trabalhava a mil por hora. Tudo o ele pensava estava errado? Ele tinha certeza que já sabia quem eram os culpados, mas depois do que aconteceu naquele dia...
Estando em casa, ainda refletindo, o garoto ligou a televisão e tudo o que passava no noticiário era isso: uma repórter na frente do colégio, com uma multidão de bisbilhoteiros atrás dela e várias viaturas cercando o local.
A cidade inteira comentava o ocorrido. "Aquele lugar se afundou de vez", diziam alguns. "A violência chegou em Longbridge", falavam outros. "O Colégio Wosterbridge não tem mais salvação", sentenciavam ainda. De fato, depois de tudo o que acontecera, o tão caro prestígio da instituição foi à lama. Envolvido em tantos escândalos, o povo acabou descobrindo que o lugar estava prestes a falir.
Sem contar que ele ainda tinha um diretor fugitivo e um vice diretor acusado de assassinato. Era, sem dúvida, o fim do colégio.
* *
- Me soltem! Não precisam me prender, eu não fiz nada! - Doutor Rian tentava se desvencilhar das mãos dos policiais.Sua chegada à delegacia foi no mínimo "calorosa" e "acolhedora". O povo se reunira às portas do lugar, esperando o assassino. Longbridge era uma cidade muito pacata. Algo como o que houve agitava a população.
Quando a viatura trazendo o vice diretor chegou e este mesmo desceu, algemado, ele foi insultado de todas as formas possíveis de se imaginar. Flashes de câmeras de repórteres frequentemente o cegavam. Ele era empurrado por todos os lados. Logo seu rosto estaria estampado nos jornais.
Toda aquela algazarra e gritaria só acabou quando o Delegado Dylan mandou que todos fossem embora, sendo rude na voz. Porém, quando o delegado, os policiais e o acusado entraram na delegacia, a barulheira do lado de fora recomeçou com toda a força.
- Tirem as mãos de mim! Sou inocente!
- Isso é o que veremos daqui a alguns dias no seu julgamento - disse o delegado. Depois falou com Marlow, que estava por perto. - Marlow, leve-o até a cela.
- Sim, senhor - disse, rápido e grosseiramente.
Relutando, Rian foi levado pelo policial até uma das celas da delegacia. Ficaria lá até o dia em que fosse julgado.
* *
- Está na hora de voltar, Stacy! - Doutor Scott conversava com a prima pelo telefone.- Voltar agora? Ficou louco? Viu o que aconteceu?
- É justamente por isso que tenho que voltar. Não se fala em outra coisa, é claro que eu vi. Não posso me esconder mais. O que o delegado pode fazer comigo? Nada! Não tenho culpa no cartório suficiente para ser detido.
- Mas você se escondeu todo esse tempo e exatamente agora resolve voltar?
- Auto lá, não estava "me escondendo". Vim aqui para arrumar alguma forma de salvar o colégio da crise que ele está passando.
- Ahhh! E onde você está agora? Fazendo algum curso, por acaso? - Stacy falou com ironia, pois sabia que o que o primo dizia não era verdade.
- Guarde sua ironia para você mesma.
- Me respeite!
- Enfim - ele cortou a discussão antes que eles brigassem -, tenho que voltar! Preciso saber por que Rian fez aquilo. Agora sim o colégio foi para o fundo do poço! - Scott dava a impressão de se preocupar mais com a escola do que com os crimes que aconteceram envolvendo ela.
- Ainda bem que você reconhece isso! Quando eu mesma digo ninguém acredita!
Os dois ficaram conversando por mais alguns minutos, mas logo terminaram a ligação. O diretor chegaria à cidade no dia de amanhã, pois estava um pouco longe de Longbridge. Ele afirmou que assim que chegasse iria à delegacia.
As notícias do terceiro assassinato envolvendo o Colégio Wosterbridge chegavam rápido por toda a região, especialmente nas cidades banhadas pelo Rio Clegg. O movimento turístico com certeza diminuiria até que tudo estivesse resolvido. Até mesmo a ponte Royal Clegg, que ligava os extremos da cidade onde estava acontecendo tantos crimes, receberia menos visitantes, a ponto de em plena manhã - momento mais movimentado do dia - não haver ninguém andando por ela, nem a pé nem em veículos.
* *
A noite havia chegado, mas a paz e a tranquilidade estavam bem longe de Alfie. O garoto pensou por toda tarde no que acontecera pela manhã. Afinal de contas, quando isso iria acabar? Quando sua vida voltaria ao normal?Cada noite, todas as cenas dessa trama absurda passavam pela sua cabeça, e, cada novo dia que raiava, as cenas só aumentavam em vez de diminuírem. Ele se sentia inútil. Estava ali, em sua casa, sem poder fazer nada para ajudar o amigo. E aquela pergunta sem resposta repetidamente martelava em sua mente: "Onde Victor está?".
- Por quê não consigo fazer alguma coisa??? - ele falava, com raiva de si mesmo.
Pensando muito, resolveu que no de amanhã iria à delegacia tentar ter uma conversa com Rian. Alfie era menor de idade, mas daria um jeito de conseguir o que ele queria.
Naquele momento, em meio às circunstâncias, Doutor Rian era sua última esperança de descobrir a peça que faltava nessa história, aquilo que ainda não fazia sentido.
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Onde você está, Victor?
Mystery / Thriller[CONTO] O Colégio Wosterbridge vivia tempos difíceis, mas o pior ainda estava por vir. Em duas semanas, quatro crimes acontecem envolvendo o mesmo lugar. Um mistério, três assassinatos e um desaparecimento. Muitos são suspeitos, mas quem é o verdade...