Capítulo III

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O dia raiava do lado de fora do pequeno cômodo, e a luz do Sol tentava atravessar as frestas da pequena janela, mas não conseguia entrar o suficiente para iluminar o local.

Sentado em um dos cantos do cativeiro, Victor olhava para a janela e desejava com todas as forças estar do lado de fora. A noite tinha sido difícil. Ele não havia dormido quase nada. Às vezes, remoendo a história, chorava; outras, sentia raiva. Mas nunca tinha sido alguém que chorasse muito, mesmo com desprezo dos pais. Decidiu não lamentar mais, e bolar uma forma de sair dali.

Olhando para os poucos raios de Sol que o acompanhavam em sua solidão, o garoto tentava juntar as peças:

- Por que ele me sequestrou? Não faz sentido algum! Nunca pareceu alguém compulsivo por dinheiro! E para onde me trouxe? Ah, se eu alcançasse aquela janela... - levantando-se, tentou alcançar a abertura, mas foi inútil.

Nesse momento, um barulho estranho ecoou pelo pequeno lugar: seu estômago roncara. Se lembrou que só tinha comido uma maçã ontem à noite. Pondo as mãos nos bolsos da calça, procurou pelas balas que sempre carregava com ele, mas encontrou algo diferente. Tirando seu canivete do bolso com certa surpresa, percebeu que havia esquecido que ele estava lá.

Agora todos os filmes de ação que tinha visto e os livros que leu teriam alguma serventia. Victor tinha um plano; ousado, mas tinha. Talvez fosse a sua única chance de conseguir escapar.

*          *


- Que tipo de piada é essa? - Alfie não se conteve e riu da cara do delegado.

Acredito que não seja necessário contar que a expressão séria dos policiais e do Doutor Scott fizeram o garoto perceber que era verdade. 

- Mas, mas... Não é possível uma coisa dessas!

- Rapaz, tenho 20 anos de carreira policial e , levando em conta as circunstâncias, é bem provável que ele tenha sido sequestrado.

- Sequestrado? Mas por quem?! Não é possível...

- Não faça perguntas idiotas menino; se soubéssemos quem sequestrou seu amigo acha que estaríamos aqui jogando conversa fora? - policial Marlow realmente tinha um pavio curto. 

Conseguir estressar Alfie era tarefa quase impossível, mas Marlow havia conseguido. Encarando o policial com sua maior cara de raiva, lhe disse:

-Quem o senhor pensa que é para falar assim comigo? Posso parecer ingênuo, mas é isso o que eu não sou!

Marlow por um instante colocou a mão por cima da arma que trazia à cintura. Percebendo o clima pesado, Doutor Scott interveio:

- Senhores! Acalmem-se! Vamos voltar ao assunto, tudo bem?

Nesse momento, a porta da sala foi aberta.

- Desculpem pelo atraso. Tive alguns imprevistos. - Doutor Rian falou, afobado.

- Quem é esse senhor? A conversa  seria apenas entre nós, Doutor Scott. - Dylan esperava uma resposta.

- Esse é Rian, o vice diretor. - Scott deu seu recado silencioso a Rian com olhar: "Tinha que ter chegado antes!" - Chamei ele porque não estarei aqui para acompanhar a situação. Hoje mesmo saio da cidade, para procurar um curso de especialização em Economia.

- Espere um pouco: sair da cidade? Agora? Não acha um pouco suspeito, Doutor? - o tom sarcástico do delegado era evidente - Não seria uma coincidência o aluno mais rico do colégio desaparecer  e o senhor estar buscando formas de tirar este lugar do buraco, seria?

Espantado com a pergunta inesperada, Doutor Scott começou a suar. Ele não tinha nenhum argumento relevante para tirá-lo da situação.

- Por que não me responde, Doutor?

- Eu... eu... mas... - se não bastasse o suor, o homem começou a gaguejar.

- Estou de olho no senhor, Doutor Scott. - dando as costas para os que estavam na sala da diretoria, o delegado e seu ajudante saíram do local.

Doutor Scott estava vermelho. Começou a juntar as coisas que estavam em sua mesa e guardá-las em sua maleta.

- Doutor, o que foi isso? Por que não respondeu?

- O que o senhor está fazendo?

- Ei??

- Eu preciso ir!

Correndo saiu da sala. Desceu as escadas rapidamente e fugiu pela saída de emergência. Perseguido pelos meninos e por Rian até o estacionamento, montou no carro e foi embora.

*          *

- Escute o que estou dizendo: se Victor foi realmente  sequestrado, foi o Doutor Scott que fez isso. - Oliver estava argumentando.

- Realmente. Não imaginei que ele ficaria tão nervoso! Mas o que ele fez foi muito suspeito! Por que fugiu daquele jeito? - Alfie disse.

Os dois cochichavam suas ideias pelos corredores do colégio. Não queriam ser escutados. Imagine se aquele bando de adolescentes medrosos soubessem que seu diretor fugiu e que um dos colegas desapareceu? Eles ficariam malucos. De qualquer modo,  não queriam causar ainda mais desconfiança pela escola. Quando fizeram uma curva no corredor, deram de frente com a senhora Margarett e seu carrinho  de limpeza.

- Meninos! Não os tinha visto hoje! Como vão?

- Poderíamos estar melhor, senhora Margarett. - Alfie respondeu com um pouco de tristeza na voz. Ele tinha um carinho especial pela senhora; ela era para ele como que uma segunda mãe.

- Mas por quê?

- Victor foi sequestrado - dessa vez foi Oliver quem disse.

- O que? Victor? O amigo de vocês? Não pode ser!

- Os policiais que estavam aqui vieram até o colégio investigar. Victor sumiu ontem à noite.

- Ontem à noite? Meu filho poderia ter sido levado junto! - senhora fez cara de espanto. Seu filho, professor Cooper, era o auxiliar administrativo do Colégio Wosterbridge  e quase toda noite ficava até tarde para organizar as planilhas de pagamentos, despesas e ganhos da escola.

Os três ainda ficaram conversando por mais alguns minutos sobre o assunto. Senhora Margarett falou:

- Garotos, tenho que ir. Preciso continuar meu trabalho. Faço sempre com calma, porque não é bom fazer nada com correria, não é mesmo? Vamos rezar para que Victor volte logo. Até qualquer hora!

- Até!

Lá se foi a senhora, empurrando seu carrinho de limpeza pelo corredor.

Onde você está, Victor?Onde histórias criam vida. Descubra agora