empty winter

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Parte I — O lago.

Harry senta no banco vazio, em frente ao lago vazio, em um parque vazio, cercado por ruas vazias. E talvez ele se sinta um pouco vazio também.

Não está nevando, mas está tão frio que ele não sente seus dedos, sua boca provavelmente está roxa, além de ressecada e dolorida.

Ele coloca a garrafa de vodka no chão, as mãos dentro do casaco e fita o lago congelado por longos minutos.

Para onde ele irá se começar a nevar?

Harry apanha a garrafa do chão e toma um longo gole. Queima. Mas está tudo bem, porque isso é a única coisa que ele consegue sentir.

Será que tem algum hotel aberto, barato e com um quarto disponível?

Isso tudo é culpa de Harry, se ele não fosse tão ingênuo...

Esse seria o seu sexto natal sozinho, então ele pensou que seria agradável ligar para sua mãe e tentar consertar as coisas, mesmo que isso significasse pedir desculpas por algo que ele não pode mudar. Harry estava até mesmo praticando ouvir as ofensas em silêncio, tudo para não ficar sozinho.

Bom, não deu certo e ele estava fora da casa antes mesmo de todos os parentes chegarem.

Então Harry vagou por longos minutos em uma cidade desconhecida até chegar a um bar, mas o dono fechou por volta das dez e ele ficou sozinho novamente.

Quando Harry encontrou o parque, alguma coisa o puxou para dentro e, bem, pular a grade não foi tão difícil.

Quais as chances de ele morrer de hipotermia?

Se ao menos ele tivesse sua mala consigo, poderia vestir todas as suas blusas e tentar não morrer de frio, mas ele havia deixado sua pequena bagagem em um guarda-volumes.

— Ei, cara, posso me sentar ai?

A voz vem do nada e ao mesmo tempo de todos os lugares. Da esquerda e da direita, tão abrupta que, se não fosse o susto, Harry juraria que era coisa de sua cabeça.

— Jesus Cristo! — Grita ele dando um pulo e quase derrubando a garrafa de vodka — que susto do caralho — acrescenta colocando a mão livre em cima do coração.

A pessoa da uma risadinha e senta ao lado de Harry com um palmo de distância.

— Prazer em conhecê-lo — diz ele estendendo a mão a Harry —, meu nome é Louis.

Harry olha primeiro para a mão pequena de unhas roídas, depois para o braço coberto por uma casaco pesado até os ombros e depois para o rosto de bochechas profundas e olhos azuis, com nariz vermelho e sorriso simpático.

Ele sorri e aperta a mão de Louis com o coração ainda batendo rápido.

— Harry — sussurra ele tão baixo que se os dois não fossem as únicas pessoas na Terra, Louis não escutaria.

Sim, os dois provavelmente são os últimos, porque em um mundo tão vazio, com Harry conformado que estava sozinho, encontrar uma terceira pessoa seria a própria definição de improvável.

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