back to december

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A cafeteria fica a poucos quarteirões de seu apartamento, ainda assim, Harry não frequenta o estabelecimento — é mais caro que a Starbucks em frente ao prédio que trabalha.

Todavia, naquela noite de nove de dezembro, com os avisos de nevasca Harry decide sair de casa. Ele sempre se sente sufocado com esses avisos, pois significam ficar preso em seu apartamento minúsculo esperando alguém tirar toda a neve da rua.

Está quente do lado de dentro, mas Harry não coloca seu sobretudo no gancho ao lado da porta, apenas segue em direção ao balcão, onde uma pessoa é atendida, pacientemente, ele espera sua vez.

— Eu quero um Mocca. Com açúcar. E você poderia colocar naqueles copos para a viagem? Vou tomar aqui, mas prefiro à canecas — pede ele pegando sua carteira no bolso.

O senhor que está atendendo Harry apenas o encara. Pisca e olha para o papel em suas mãos, anotando o pedido de Harry.

— Obrigado — acrescenta ele.

— Cinco libras — diz entediado, arrancando o papel do bloco.

— Fique com o troco — murmura Harry entregando o dinheiro. — Feliz Natal.

— Feliz Natal, garoto.

Ele espera pela bebida no balcão, olhando distraidamente para os enfeites de Natal.

— Aqui — diz o senhor empurrando um copo pelo balcão.

Harry está prestes a agradecer novamente quando o nota, sentando na mesa mais distante do restaurante, com o computador ligado iluminando seu rosto.

Por breves segundos, Harry se permite olhar para ele.

Têm sido anos desde a última vez que se viram pessoalmente. E tem sido um longo tempo desde que Harry se permitiu olhar para a foto dele por mais que breves segundos, observando como ele envelheceu e mudou, mas ainda se parece com o mesmo.

Temendo que ele o veja, Harry se afasta, escolhendo a mesa mais próxima da saída que encontrou disponível, próxima a uma mãe com sua criança, as duas com canecas fumegantes de chá.

Não é saudável para Harry permanecer naquele local, mas ele se torna incapaz até mesmo de pensar direito depois de perceber a presença esmagadora de Louis, seu ex-namorado, amor de sua vida, sua paixão, a personificação de tudo que um dia importou para ele, sentado casualmente nos fundos de uma cafetaria de Londres, naquele dia gelado de dezembro.

Existe outras coisas importantes na vida de Harry agora, apesar de serem, em sua maioria, banais, era preciso preencher sua vida com algo que não fosse Louis Tomlinson.

Antes, quando ainda estavam juntos, Harry já pensava assim, mas era fácil associar e incluir Louis em todas as atividades que ele se interessava. Os dois viviam juntos, afinal de contas.

Quando os pais de Harry pararam de falar com ele ao perceberem que seu relacionamento não era uma rebeldia da faculdade, Louis se tornou sua única família, assim como a mãe dele, que acolheu Harry mesmo que não fosse sua obrigação.

Depois do término, ele teve que aprender a guardar seus gostos para si, nenhum de seus amigos prestava atenção nele como Louis. Então ele aprendeu a se conter.

Seu conceito de família também mudou e ele percebeu que a solidão aparece nos momentos mais inusitados.

Os dois terminaram em um mês de dezembro. Seis anos atrás. Pouco antes de completar cinco anos que Harry pediu Louis em namoro no Festival da Árvore.

Com a cabeça baixa, Harry toma seu café, permitindo-se sentir toda a tristeza que Louis deixou quando foi embora.

Harry superou o término. Ele saiu com outras pessoas e seguiu em frente, mas Louis sempre será uma ferida aberta, pois foi importante demais. A pretensão de Harry era nunca mais vê-lo pessoalmente, mas uma vez que isso aconteceu, é como se toda a neve acumulada no topo de uma montanha estivesse descendo e levando tudo em seu caminho.

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