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Março de 2018

- No que tanto pensa? – Violet me tirou dos pensamentos.

- Nada. Só estou nervosa por começar a trabalhar hoje - dei de ombros.

- Hoje? Já estamos trabalhando duro há quase dois meses.

- Estamos estudando aqui há quase dois meses - a corrigir.

- Não sei para quê. Você já é médica, para que estudar mais? - revirou os olhos.

- Eu sou médica geral. Precisava desse tempo para me atualizar em ortopedia.

- Nem se preocupa com isso, Tash. Eles já assinaram o seu contrato mesmo - ri de suas palavras.

- Quero fazer meu trabalho do melhor jeito - ela revirou os olhos de novo.

- Que seja - deu de ombros voltando ao mexer no celular.

Mesmo sendo formado em medicina e sendo uma das melhores médicas gerais do Rio de Janeiro, eu precisava estudar um pouco mais ortopedia para fazer o meu trabalho. Foi por isso que dois meses antes de começar a trabalhar, eu e minha melhor amiga, Violet, decidimos vir até a Rússia. Eu seria a médica Ortopédica da seleção brasileira, que fez questão de escolher a dedo os melhores para a equipe preparatória dessa Copa. Violet seria a nutricionista dos jogadores, o que era ótimo, pois ficaríamos juntas. Nosso contrato começaria oficialmente hoje, mas eu e Vi já estamos instaladas no hotel.

- Natasha - virei o rosto e vi Violet me encarando - eu tô te chamando a quase 10 minutos.

- Desculpa, eu estava distraída.

- Não me diga - debochou - eu pagaria por seus pensamentos.

- Eles não valem tanto – ri – Já disse que só estou nervosa pelo trabalho.

E realmente estava. Mas não era só isso. Estava nervosa, pois sabia quem seria um dos meus pacientes. Eu repensei milhões de vezes se deveria aceitar a proposta da seleção, por medo de reencontrar Philippe. Se não fosse por Violet me encher o saco para aceitar, provável que agora estaria em meu consultório no Rio. Couto e eu não tivemos uma despedida muito feliz e isso me atormentou durante meses, me fazendo recair e voltar hospital logo depois ter saído. Sempre era ele quem me fazia melhorar e daquela vez, foi ele quem me fez ficar pior do que qualquer outra vez. Eu já havia me curado, já não tenho mais leucemia e não tenho medo de recair, porém tenho medo do reencontro com Coutinho e das lembranças que isso pode me trazer.

- Você não sabe mentir, Natasha. Mas já que você não vai me contar... - deu de ombros – Mas agora vem, daqui a pouco precisamos ir ao estádio. - me puxou para fora da área da piscina e voltamos para nosso quarto.

Assim que chegamos, vimos um bilhete deixado pela organização, dizendo que a van que nos levaria até o campo estaria nos esperando em uma hora. Foi o tempo exato para tomarmos banho e nos arrumarmos.
Quando chegamos no hall do hotel, vi toda a equipe da seleção, desde os preparadores físicos aos fotógrafos e psicólogos. Todos seriam levados nas vans para o primeiro dia. Depois de nos passar algumas ordens, perdidos e cronogramas, entramos na van. Sentei no meio de Violet e uma garota loira, que parecia estar extremamente nervosa.

- Olá - sorri para ela – nervosa? - ela riu quando percebeu que batia o pé freneticamente.

- Demais.

- Natasha, prazer - estendi a mão e ela apertou.

- Annelise, o prazer é meu.

- Então, Annelise, o que te traz tanto nervosismo? - perguntei brincalhona.

- Eu vou fotografar a Seleção Brasileira sei minha equipe de trabalho - ela suspirou - sou horrível em trabalhar com estranhos e ainda por cima fotografando uns homens daqueles - ri nasalado - Você é psicóloga?

- Não, médica ortopedista.

- Nossa, me parece complicado.

- Um pouco - sorrir de lado.

- Não está nervosa?

- Na verdade, estou. Mas estou me esforçando para controlar – rimos.

Fomos o caminho todo conversando e logo Violet se intrometeu na conversa. Annelise parecia ser bem legal e se não me engano, já havia ouvido falar de sua equipe de fotografia, que pelo que ela disse, era bem famosa no Sul. O campo em que chegamos não era bem o estádio, mas um campo menor, para os treinamentos. Fizemos um pequeno “tour” para conhecermos as principais partes, como sala onde o psicólogo trabalharia, vestiários, salas de entrevistas, consultório e saídas de emergência. Logo após fomos levados ao campo, onde de longe já se podia ver o time brasileiro treinando.

- Rapazes - reconheci o treinador que gritou - venham conhecer a nossa equipe.

Os homens pararam oque estavam fazendo e vieram para perto de nós, e assim que deram sinal positivo para os fotógrafos, o som de fotos sendo tiradas foi ouvido. Primeiro eles apresentaram o psicólogo, que eram senhor que aparentava ter seus 30, quase 40 anos. Depois a equipe de fotografia, onde pensei que Annelise ganharia um treco por ficar tão vermelha. Violet também foi apresentada e ganhou alguns olhares a mais. Então os médicos.

- Nossa equipe médica também conta com a ortopedista, Natasha Porter - Tite me olhou e eu sorri.

- Nana! - Neymar finalmente me viu e veio ao meu encontro, me envolvendo num abraço - Não sabia que estava aqui - falou enquanto Tite continuava as apresentações.

- Quis fazer surpresa - sorri aberto.

Eu conhecia Neymar a alguns anos, desde que fiz os ultrassons de David Lucca, seu filho. Nos tornamos bons amigos quando David nasceu e até chegamos a nos visitar quando fiz alguns exames em Bruna, sua atual namorada. Neymar me abraçou de lado para, novamente, prestar atenção  em que seu treinador falava e só então olhei para frente, me arrependendo amargamente por ter feito isso. Philippe estava ali, parado enquanto me olhava com uma expressão surpresa, confusa e nervosa ao mesmo tempo. Consegui ver seus músculos ficarem tensos quando nossos olhares se encontraram, e se não fosse por estar apoiada em Neymar, com certeza teria caído, pois senti minhas pernas fraquejarem. Desviei meu olhar para Violet que me encarava confusa, provavelmente por eu não ter contado sobre conhecer o Neymar. Apenas dei de ombros e respirei fundo, rezando mentalmente para não ter que conversar com Philippe tão cedo, mesmo sabendo que de uma forma ou outra isso iria acontecer.

E aí? Ja voltaram das férias?

leucemia ⭐{Philippe Coutinho}Onde histórias criam vida. Descubra agora