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Fevereiro de 2009

- Boa tarde Livie – sorri para mulher atrás do balcão.

- Boa tarde Phil. Sabe que ainda faltam 15 minutos para o horário de visita, não?

- Ah, Livie. Qual é? – fiz biquinho me escorando no balcão. Ela revirou os olhos rindo fraco.

- Você ainda vai me trazer problemas garoto. Entra logo – sorri e depois de agradecer, caminhei pelo corredor logo entrando num dos quartos.

- E aí, Porter – entrei no quarto sorrindo.

- E aí, Couto – a garota de cabelos ralo sorriu em minha direção.

- Te trouxe uma rosa – entreguei a flor branca.

- Já disse para parar de arrancar as flores do Jardim da tia Esmeralda – brincou sentindo o cheiro da Rosa.

- Engraçadinha – deitei na cama onde ela estava sentada.

- Sou a comédia em pessoa – sorri  sem mostrar os dentes.

- Phill, chegou cedo hoje – Katy, a mãe de Natasha, entrou no quarto.

- Saí da escola mais cedo – dei de ombros.

- Eu sinto tanta falta da escola – Tasha se jogou para trás, deitando ao meu lado.

- E eu queria poder estudar pela internet, como você faz – ri nasalado.

- Vai por mim, você não queria. Pela internet não tem amigos, não tem como zuar os professores, não dá para atirar bolinhas de papel nos outros.

- Você atira bolinhas de papel em mim todo dia – olho para ela que olhava para o teto.

- Se eu estivesse na escola, não faria isso com você – deu de ombros.

- Um dia você vai poder voltar, querida – Katy disse arrumando algumas coisas numa mesa.

- E depois de alguns meses vou ter outro ataque e vou voltar para o hospital, como todas as vezes – revirou os olhos.

- Veja pelo lado bom, você tem a mim – sorri sem mostrar os dentes – Se você não estivesse no hospital, não teria me conhecido.

- Se eu não estivesse no hospital, é porque não teria câncer – me encarou.

- Mas você não tem mais câncer.
- Mas sofro com os efeitos colaterais dele.

- Mas vai se curar deles.

- E todos me dizem isso há dez anos, mas não me curei.

- Chega dessa conversa, Tasha – Katy pediu – vou levar as suas roupas na lavanderia – disse e saiu do quarto.

- Tenho uma coisa para te contar – virei o rosto para encarar Tasha.

- Eu também tenho – me olhou também.

- Ok, pode falar primeiro.

- Não, fala você.

- Não, você fala – rimos.

- A gente fala junto, ok? – concordei e suspirei fundo.

- Meus novos remédios estão fazendo efeito.

- O Inter de Milão quer me contratar.
Falamos juntos e eu arregalei os olhos.

- Isso é sério? – perguntei sorrindo e nos sentamos na cama.

- M-Milão? perguntou chocada.

- Isso quer dizer que você vai voltar para casa?

- Esquece isso – balançou as mãos – você vai para Milão? – franziu a testa.

- Sim. Quer dizer, assim que fizer 18 anos, o que é daqui alguns meses – sorri abertamente.

- Você não pode ir para Itália – ela negou – E se eu sair do hospital? E se eu voltar para escola? Você precisa estar lá comigo, Philippe.

- Eu sei, mas é meu sonho.

- Eu tive muitos sonhos, mas tive que desistir – riu nervosa.

- E eu já disse que é errado, se quiser ser médica precisa persistir e...

- Você não pode se mudar – levantou.

- Eu preciso – me levantei também – você sabe que é meu sonho desde criança, Natasha – falei indignado por não estar tendo seu apoio.

- Mas...

- Não é porque você não pode seguir seus sonhos por causa de uma doença, que eu não posso seguir os meus – falei alto e vi ela encolher os ombros. Merda. – Natasha... – abaixei o tom da voz e seus olhos marejaram – eu não queria ter dito isso – dei um passo à frente e ela deu um para trás.

- Sai daqui – sua voz saiu fraca.

- Tasha...

- Sai daqui – sua voz aumentou e suas lágrimas escorreram.

Respirei fundo e dei dois passos para trás antes de virar e sair do quarto, logo saindo do hospital.

leucemia ⭐{Philippe Coutinho}Onde histórias criam vida. Descubra agora