– Emma
Emma Edwards adorava livros. Adorava o cheiro deles e a textura das páginas. Apreciava a maneira de como eles se iriam encaixar nas suas mãos como se fossem a única coisa que lhe faltava. A peça de puzzle perdida. Emma gostava de romances, de dramas, de ficção, mas sobretudo amava poemas. Iria passar horas a tentar compreendê-los, a relê-los vezes e vezes sem conta até perceber a mensagem do autor. Ela era um mistério. Quem não gostaria de a ouvir falar com um brilho nos olhos sobre a paixão platónica que tinha por livros? Não havia um único dia em que ela não fosse à biblioteca da escola para ler, acompanhada por uma chávena cheia de café. Supostamente era proíbido comer ou beber lá dentro, mas a bibliotecária deixava Emma fazê-lo. Talvez compreendesse o seu amor por livros...
No meio disto tudo, havia algo que a intrigava. Um adolescente de cabelos acastanhados e olhos cor-de-avelã, que andava na sua escola. Emma observava-o todos os dias, sem ele notar nisso. Ela observava-o a comer na cantina, sossegado e isolado no seu próprio Mundo. Ele usava sempre camisolas longas e quentes que chegavam a tapar metade das suas mãos. Emma queria falar com ele, mas não tinha coragem. Achava que tinham muito em comum, mesmo que não se conhecessem. Por exemplo, ela via-o na biblioteca a procurar por poemas. Ela amaria ir ter com ele para se debaterem sobre o assunto, mas tinha medo. Tinha medo de ser ignorada, talvez. O rapaz parecia demasiado tímido, quieto e fechado e ela não queria forçar as coisas. Pelo que dizem, tudo acontece quando tem que acontecer, não é?
Bem, se fosse assim, Emma estava neste preciso momento a passear pelos corredores da escola, porque tinha que ser. Os seus cabelos castanhos estavam presos num rabo de cavalo e ela usava roupas normais e casuais. Observava toda a gente com alguma atenção. Ela habitualmente fazia isso. Talvez fosse a sua curiosidade imensa.
As suas aulas não eram secantes, ela pensava. Emma gostava de aprender, era uma adolescente diferente. A sua disciplina preferida era português porque podia ler textos e poemas feitos por pessoas importantes. Às vezes ela só necessitava de alguém que a compreendesse, de alguém que pudesse estar do seu lado... As suas poucas amigas não a entendiam e por isso agora ela mantinha-se calada, deixando as opiniões trancadas a sete chaves na sua mente.
Emma sabia que os seus dias eram passados da mesma forma que os anteriores, mas estava bem com isso e nem pretendia mudá-los. Era uma boa rotina.
Quando o último toque de saída se fez soar, ela apressou-se a sair, arrumando todos os livros na mala com uma grande rapidez. Assim que ultrapassou a porta de saída, chocou contra alguém mas nem se preocupou em verificar se a tal pessoa estava bem. Correu até à biblioteca e soltou um suspiro de alívio quando lá chegou. Ainda estava aberta. Entrou em silêncio e foi para a secção de poesia, deixando depois as pontas dos dedos pegar no habitual livro.
Sentou-se numa cadeira ao acaso e inalou o cheiro do livro antes de o abrir. Os seus olhos pousaram-se nas folhas com algo nelas escrito, e começou a ler baixinho:
"Cada um que passa na nossa vida,
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa sós.
Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade da nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso."
*
Quando saiu da biblioteca olhou para uma das janelas interiores, observando assim a chuva de pouca abundância, que caía sem parar no chão de granito. Emma olhou para um dos bancos e viu um rosto que lhe era familiar. Era o tal rapaz que a intrigava, de alguma forma. Decidiu arriscar a sua sorte e retirou o chapéu-de-chuva que tinha dentro da mala, abrindo-o. Caminhou até ele com o objecto por entre os dedos e sentou-se no banco velho onde o adolescente estava, protegendo de seguida os dois da chuva com o material impermeável que segurava na mão.
"Porque estás aqui, sozinho?" – ela perguntou, examinando os olhos cor-de-mel do rapaz. Até lhe custava saber que ninguém lhe dava valor, que ninguém reparava nele.
"Acho que a vida quer que eu esteja assim" – ele respondeu-lhe após alguns segundos, evitando o contacto visual e não perguntando a Emma porque raio é que ela tinha vindo falar com ele.
"Eu não acho" – Emma acabou por dizer – "Acho que o que tens a fazer é desafiar a vida" – e com estas últimas palavras, levantou-se e deixou-o sozinho no banco, a processar tudo o que tinha acabado de acontecer.
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Sweaters ➤ Ashton Irwin [Dropped]
Fanfiction☁ ☁ ☁ ❝ Costumava odiar a vida antes de te conhecer. Pensava que quanto mais queria desaparecer, mais preso aqui ficava. Contudo, tu fizeste-me perceber que existem coisas boas neste Mundo. Passei a amar as camisolas quent...