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–  Ashton

  

    A vida sempre fora injusta com ele. Desde pequeno até adolescente. Ashton encarava-a como se ela fosse um tipo de monstro que o perseguisse, que o torturasse. A única coisa que o mantia vivo, a inspirar e expirar oxigénio, era o seu pequeno irmão. Às vezes, fazemos escolhas, outras vezes, elas fazem-nos a nós. Quando o rapaz de cabelos acastanhados ouviu isto pela primeira vez, vindo do seu avô, achou totalmente absurdo, pensou que não tinha sentido, mas, em adolescente a sua opinião tinha mudado drasticamente.

    Por vezes, tomamos escolhas pelo bem das outras pessoas, mas também as podemos tomar pelo nosso próprio bem. Digamos que Ashton não pensava em si, apenas nas pessoas que tinham mais importância para ele, como o seu pequeno irmão, Jack. Ambos não tinham pais, pois estes tinham morrido num acidente de carro. A partir desse momento, Ashton Irwin passou a odiar carros. Não queria entrar dentro deles e preferia andar a pé até à escola. Era algo traumatizante. Irritava-lhe o facto de estimarem tanto um bem material que poderia ser arruinado num abrir e fechar de olhos.

    Ele e Jack viviam com os seus tios; ambos tinham sido um grande apoio na pior fase da sua miserável vida. Ashton acreditava que, desta vez, não podia ser salvo. É claro que sabia que, se os seus pais estivessem vivos neste preciso momento, iriam querer que ele vivesse a vida ao máximo, mas era difícil. Era uma tortura acordar e saber que nunca iria voltar a ver a mãe a cozinhar ovos mexidos para o pequeno-almoço e o pai a ler o jornal de notícias com uma chávena de café na mão. Ashton não poderia voltar a sentir os braços da sua mãe à volta dele sempre que tristeza percorresse o seu corpo, e não ouviria nunca mais o seu pai a ralhar com ele. Esta era uma das coisas que ele mais sentiria falta. Dos raspanetes que recebia por ficar acordado até tarde a tocar a bateria. Nunca mais tocou nela após o acidente. Provavelmente acabaria por a deitar fora.

    Aos 16 anos, Ashton gostou pela primeira vez de uma rapariga. Ela sempre lhe dissera que amava coisas diferentes, fora do vulgar. Querendo impressioná-la, o rapaz de olhos esverdeados comprou-lhe uma rosa, pintando-a de preto de seguida. Apareceu à porta de casa dela e deu três toques na mesma, sendo recebido por ela, Grace McFly. Ela convidou-o a entrar, porque, quem é que não gosta de um bom mistério?

    Ashton deu-lhe a rosa, murmurando de seguida, "Pintei-a de preto. Sei que não gostas de coisas demasiado normais."

    E, impressionantemente, Grace fez algo que deixou Ashton completamente espantado, – beijou-o. Nos lábios. Ela foi o seu primeiro beijo assim como a sua primeira foda, mas aquilo não durou muito tempo. O adolescente percebeu que tudo o que nos faz feliz não dura muito tempo. Que num momento podia estar a pensar no quão sortudo era e no segundo seguinte podia receber uma mensagem a dizer que Grace tinha morrido.

    Como é óbvio, Ashton chorou. Chorou como se não houvesse amanhã. Não apareceu no seu funeral, porque é para isto que os funerais servem, – para despedidas. Ele não se queria despedir dela, mas, eventualmente, teria que o fazer. Porque é que ele perdia sempre as pessoas que amava? Seria algum tipo de azar que tinha?

    Durante o ano seguinte passou a ir até ao cemitério depois das aulas. Sentava-se ao lado da campa e conversava com a alma dela, que talvez estaria a tomar conta dele. Quem sabe?

    Por vezes, Ashton bebia alcóol. Trazia uma garrafa velha de lícor e tentava afogar as mágoas. Esquecia-se do sofrimento, temporariamente. Porque na manhã seguinte, acordava com uma gigantesca dor de cabeça e com Grace na sua mente, mais uma vez. Conseguiu seguir em frente, mas prometeu a si mesmo que nunca mais se iria apaixonar. Lá sabia ele que essa promessa se iria quebrar.


Sweaters ➤ Ashton Irwin [Dropped]Onde histórias criam vida. Descubra agora