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–  Ashton

  

    Eles falam do quão bonita é a mente dela e o seu amoroso coração. Dizem que os seus olhos são os mais lindos que alguma vez viram. Espontaneamente, Ashton inveja isso. Inveja todo o amor. Pensa que os seus pensamentos sempre foram tão escuros, nunca bonitos. E o seu coração? Acha que apenas continua a pulsar, mantendo-o vivo, embora se sinta morto. Diz que os seus olhos não têm vida, – apenas lhe mostram o que há de mau neste mundo.

    E ao fazer estas pequenas análises, tenta perceber porque não o amam. De qualquer das formas, sabe o que é, e acha que sabe distinguir o possível do impossível.

    Está redondamente enganado. Nunca ninguém lhe mostrou as boas coisas da vida, nunca ninguém o tentou fazer. Mas isso está prestes a mudar.


*


    Levanta-se mais uma vez da cama que o acolheu esta noite. Já não sente sono. Não lhe custa sair do quarto, não lhe custa lavar a cara com água fria. Está tão habituado à mesma rotina que nem tem que se esforçar. Anda como se fosse um ser invísivel até à cozinha depois de se vestir. Pega numa maçã e dá uma trinca na mesma, continuando a andar até à porta da entrada. Coloca a mala atrás das costas e decide caminhar até à escola.

    E é nesta parte do dia que se sente satisfeito, – quando retira os fones e o telemóvel da mala e se põe a ouvir música.

    Fecha os olhos e caminha no pavimento de granito, húmido da chuva que cá passou a noite passada, tombando a cabeça para trás para poder levar com o vento fresco no rosto.

    Ashton prefere a sua própria companhia. Contudo, ele acha que a sensação de se sentir sozinho mesmo quando está rodeado de pessoas é uma porcaria.

    O seu momento pacífico acaba quando sente um toque no ombro. Continua a andar, como se nada tivesse acontecido. Porém, aquela voz à qual já se habituou soa neste espaço aberto, fazendo com que se vire.

    "Sim, Emma?" – deixa escapar o nome dela. A rapariga franze o sobrolho, não se lembrando de lho ter dito, o que faz com que o rapaz comece a ficar nervoso.

    "Tu... Sabes o meu nome?" – pergunta ela – "Eu sei que me disseste o teu há alguns dias, mas eu..."

    "Emma, tu também me disseste o teu nome" – diz Ashton, engolindo em seco – "Senão como é que eu o saberia?"

    "Pois, sim... Tens razão" – ela assente, sorrindo de canto.

    "Então... O que querias?" – o adolescente decide perguntar, passando uma mão pelos seus cabelos. Ele tinha que mudar o tópico desta conversa o mais rápido possível. Não queria contar a Emma como é que tinha descoberto o nome dela. Sim, este rapaz era um pouco curioso...

    "Posso andar contigo até à escola?" – ela inquire, receando a resposta. Ashton pensa duas vezes antes de lhe responder. Existe uma parte dele que a quer mandar embora, e outra que, pela primeira vez, acha que ser frio com esta rapariga não a vai afastar, pelo contrário... Então, assente levemente, retirando um dos fones do seu ouvido. Deixa-o cair sobre a camisola larga e longa, colocando uma mão no bolso das calças.

    "Obrigada" – Emma sussurra, esboçando um sorriso. Estão a interagir, – estes adolescentes estão a interagir, pela segunda vez. E Ashton não parece chateado com isso.

    "O que estás a ouvir?" – ela continua a conversa, olhando em volta.

    "Mayday Parade" – ele responde, dando-lhe o fone que antes tinha estado pousado sobre a sua camisola. Emma aceita-o de boa vontade, colocando-o no ouvido. E, no caminho até à escola, ficam ambos a ouvir música. A adolescente fica calada, pois, impressionantemente, está a adorar a melodia que Ashton lhe proporcionou. O rapaz observa-a pelo canto do seu olho enquanto ela faz pequenas batidas na sua perna, à medida que andam. E, espontaneamente, começa a reparar nos pequenos detalhes do seu rosto, nos pormenores do seu corpo, nas suas atitudes. Quer parar, antes que comece a deixar entrá-la no seu mundo, como aconteceu com Grace, mas, ao mesmo tempo, quer aventurar-se.

    Então, respira fundo, fechando os olhos. Quando os abre, ambos estão a alguns metros da escola. O rapaz cruza o seu olhar com o de Emma, fitando o seu angélico rosto, e não consegue evitar esboçar um curto e pequeno sorriso, que coloca esta rapariga num estado de completa bênção.

    Ela acena afirmativamente com a cabeça, como se estivesse a despedir-se. Ashton entende o seu gesto, retribuindo o mesmo. Emma retira o fone do seu ouvido, pousando-o sobre o peito do adolescente (agora nervoso). Sem palavras e sem olhar para trás, começa a caminhar, até atingir a escola. Pára à entrada para saudar a funcionária, e, depois, continua a andar, deixando Ashton confuso, e, principalmente, curioso, o que não é uma boa combinação.



Sweaters ➤ Ashton Irwin [Dropped]Onde histórias criam vida. Descubra agora