Alejandro Bennett Sumner Jamie Pierrot

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Já se passavam dois dias desde a ilustre aparição de Bennet na delegacia, ele tinha nos tirado de lá e nos trazido para uma casa sutilmente afastada do resto da cidade, o que era estranho, mas não tão estranho quanto ele ter ficado os dois dias inteiros sem dizer um pio sobre o porquê tinha nos ajudado. Julian estava tão desconfiado quanto eu e ambos arquitetávamos uma maneira de sair desse lugar mas o cara era um pé no saco.

- Desçam, eu não vou perder mais tempo com vocês.

A porta é aberta e Bennett diz apenas isso antes de fecha-la novamente. Julian me encara.

- O que vamos fazer? – Julian pergunta.

- Descer. Tem uma ideia melhor?

- Você só pode estar de brincadeira. Nós nem conhecemos o cara.

Encaro meu irmão por breves segundos e me levanto antes de responder, respiro fundo e semicerro meus olhos encarando a porta.

- O cara nos tirou na cadeia, no mínimo eu quero saber o porquê.

- Ele também nos trouxe para uma casa completamente afastada e nos manteve aqui por dois dias sem dizer nada. Você já foi mais esperto, Jamie.

- Nós matamos um cara e saímos da cadeia numa boa por causa de alguém que não conhecemos. Se você juntar um mais um vai perceber que nós somos importantes para esse cara. – Abro um pequeno sorriso. – Além do mais, eu gostei do carro dele, se ele se meter a besta nos livramos dele e eu ganho um carro novo. Vamos descer.

Julian não disse mais nada e apenas fez aquela cara que eu conhecia bem, depois disso nos descemos e lá estava o cara sentado com uma xicara de café e uma pilha de papeis sobre a mesa na sua frente e juntos dos papeis estava uma arma.

- Achei que teria que buscar vocês pessoalmente.

- Temos problemas de confiança tenho certeza que entende. – Ironizo.

Ele me encara em silencio e toma um gole do seu café.

- Com certeza não puxaram isso da mãe de vocês, isso explica porque ela está morta e vocês não.

Fico em silencio depois do que ele diz e encaro Julian e então volto para ele, desta vez sem qualquer humor na voz.

- O que sabe sobre Ângela?

- Digamos que eu a conhecia melhor do que vocês. – Ele faz uma pausa e então põe a xicara de café sobre a mesa, estrategicamente colocada ao lado da arma. – Ângela era minha irmã.

Mais dois tiros são disparados e logo depois eu observo o caixão descer. Em nenhum momento sinto vontade de chorar, talvez fizesse mas seria de alívio. Meu pai estava morto e eu agora estava aqui, enquanto ele era enterrado com todas as honrarias de um homem decente que tinha servido seu país anos atrás. Ele não passava de uma imagem do homem que ele tinha sido um dia e eu tinha acabado com sua miséria com minhas próprias mãos noite passada. Gerard Lopez era um amigo da família e general do exército, ele era a razão de eu estar aqui e não sendo enviado para a prisão.

Aos 9 anos minha mãe morreu de pneumonia, meu pai que tinha voltado da guerra com traumas que o atormentavam se afundou na bebida e em seu próprio mundo. Eu só tive minha irmã depois disso e quando ela engravidou, meu pai a expulsou de casa. Eu tinha 12 anos na época que vi minha única irmã, minha família ir embora e eu tentei, tentei com todas as forças defende-la, ir com ela. Mas isso resultou em vários hematomas por meu corpo e um braço quebrado, causado pelo meu próprio pai.

Os anos seguintes foram uma miséria, sem notícias de Ângela e com meu pai cada vez mais bêbado. Tinha ataques de fúria e tentava sempre me agredir. Passei a evitar estar dentro de casa, passava a maior parte do tempo na escola ou na rua. Mas eu sempre tinha que voltar e foi quando tudo aconteceu, cansei de apanhar, de viver escondido e atormentado. Dessa vez ele tentou me bater, mas eu não era mais uma criança e eu revidei, dei tudo de mim, toda fúria acumulada, todo ressentimento, todo ódio. Eu não conseguia parar e mesmo quando ele morreu, eu continue. No relatório policial consta como legítima defesa mas eu sempre vou saber a verdade, eu queria mata-lo.

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