Ângela Madeleine

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O dia de ontem tinha passado extremamente rápido depois daquilo que aconteceu, eu ainda estava completamente perplexa com a situação, sem muito esforço eu já podia me arrepender de muitas das minhas escolhas que me fizeram chegar até aqui. Muitas perguntas rodeavam minha mente e poucas delas tinham respostas significativas.

Me mantive no quarto de Gabriel desde o ocorrido, estava assustada e nunca precisei tanto de calmantes quanto precisei essa noite, Gabriel tinha saído pela manhã para que a viajem para Nova York acontecesse mas eu já não tinha certeza se queria ir, se queria continuar com isso, se queria continuar com Gabriel e, Deus, até se ainda queria essa criança. Pude ouvir as vozes lá de baixo, aparentemente não existia privacidade nesta casa já que tudo que se falava podia ser ouvido em qualquer um dos cômodos.

Gabriel havia chegado, eu já podia ouvir a discussão com Hernando, os dois se odiavam nesse pouco tempo eu tive essa certeza e eu não culpava Gabriel, seu irmão parece completamente frio e sem qualquer empatia por ele ou qualquer um senão ele mesmo e o legado maluco desta família.

"Está tudo pronto!"

"Sem espera agora, vá buscar a garota. Vocês viajam imediatamente."

Com isso eu tinha certeza que já não podia voltar atrás, ou podia? Não a certeza de mais nada e tudo que eu podia pensar de verdade agora era em Ben, tudo aconteceu tão rápido e eu não tinha me dado conta de que ainda não tinha notícias dele e com certeza ele não tinha notícias minhas, não podia imaginar o que estivesse sentindo. 12 anos e sozinho com aquele monstro velho, eu precisava leva-lo comigo, e decido. Bennett vai para Nova York comigo.

- Vamos!

Sou tirada de meus pensamentos quando Gabriel entra no quarto, lhe encaro por breves segundos e me levanto tomando coragem.

- Bennett vai comigo.

- Quem? O seu irmão? Não fale besteiras, precisamos ir.

Ele parecia apagado agora, desde o ocorrido com aquele homem ele estava diferente, seco e eu podia ver a preocupação nos seus olhos. Seja quem for, seu recado foi bem dado.

- Bennett vai comigo. – Insisto.

- Que seja, precisamos ir.

Só me dei conta de que não tinha nada quando me arrumaram uma mala para pôr os pertences e tudo que eu pude por nela foram 3 peças de roupa que Lily me emprestou e quase tinha a certeza que eu não teria chance de que fossem devolvidas.

- Tudo pronto? – Gabriel Pergunta.

- Não tenho roupas...

- Essa que está vestida está boa para a viagem. Compramos nova em Nova York vamos.

(...)

T

ínhamos acabado de entrar no carro e estávamos indo em direção ao porto, viajaríamos de navio para Nova York, eu podia sentir meu corpo rígido a cada momento e mais uma vez o pensamento veio a minha mente.

- Bennett. Dirija para minha casa.

- O que?

- Você disse que poderíamos levar ele, dirija para minha casa.

Insisto sem olhar para ele, não podia encara-lo ou iria chorar novamente.

- Não podemos.

- Porra, Gabriel. Dirija para minha casa! – Explodo desta vez.

- Tudo bem, inferno. Você vai nos complicar. – Grita ele também. E em poucos minutos o carro para na frente da minha casa. – Seja rápida.

Saio do carro ignorando aquilo que ele diz, corri gritando o nome de Bennett, precisava ser rápida. Logo a porta é aberta e meu pequeno irmão também corre para os meus braços.

- Ei, Oi. Você está bem? – Pergunto quase chorando.

- Onde esteve? Ele disse que você tinha nos abandonado e que nunca iria voltar.

Seus olhos brilhavam por me ver, mas também estavam marejados.

- Temos que ir, rápido antes que.

- Que porra você está fazendo aqui sua vadia? Eu disse para nunca mais voltar. – Meu pai aparece em seguida.

- Não vim por você, vamos Bennett. Seja rápido.

Me apresso em levantar e segurar sua mão mas sou empurrada e somos separados. Eu pude ouvir o grito de Bennett e o de Gabriel ao ver aquilo, ele estava segurando meu pescoço.

- Largue ela seu idiota! – Bennett berra e corre em nossa direção, tudo acontece muito rápido mas quando posso perceber ele está no chão, havia sido jogado.

- Seu, seu... – Eu me debatia e um tiro é escutado.

Senti a mão sair do meu pescoço com o susto e meu pai se afasta para trás. Gabriel tinha atirado para cima e agora segurava meu braço enquanto gritava coisas ao pai, eu era arrastada para o carro enquanto meu irmãozinho agora estava sendo levado para dentro de casa, nos braços daquele monstro.

- Nova York. Estarei em Nova York, eu venho buscar você... – Eu consegui gritar enquanto era arrastada e jogada no carro.

A cena acontecia em câmera lenta e eu ainda podia ver Bem sangrando no chão enquanto eu era erguida pelo pescoço. Já com o carro seguindo caminho eu volto a mim.

- QUE PORRA VOCE FEZ.

Grito em lagrimas para ele. Ele tinha deixado Bennett, tinha deixado ele lá com aquele homem e eu não podia imaginar que coisas boas poderiam sair daquilo.

- ELE NÃO É PROBLEMA NOSSO, PORRA.

Eu não podia estar mais decepcionada, eu estava destruída por completo agora. E Gabriel era parte disso e mesmo que eu quisesse eu não podia voltar atrás.

Ali estávamos, frente ao enorme navio que me tiraria da minha antiga vida e mesmo que eu gritasse que não queria mais ir, os homens armados atrás de mim diriam o contrário e mesmo contra a minha vontade eu seria mandada para lá porque agora, todos eles sabiam que no meu ventre eu carregava o próximo a comandar eles.

- Eu espero que desta vez, você faça tudo certo.

- Pra me livrar de você pode ter certeza que vou calcular meus passos.

- Andrew e Roger irão com você, pra ajudar você a ficar... na linha.

Eles conversavam na minha frente e eu me mantinha calada, não a nada que pudesse dizer.

(...)

E foi assim, a viagem durou uma semana completa de navio e agora estávamos em Nova York. Eu chorei durante toda a viagem e ainda sentia que podia desmoronar, meus únicos amigos foram os comprimidos para manter a calma.

- O taxi está chegando. – Avisa um dos caras que tinha vindo conosco.

- Certo. – Gabriel concorda. – Onde está Roger?

- Trazendo as malas.

- Ajude-o. – O cara encara Gabriel com desdém, mas sem questionar se vira indo em direção ao outro onde estavam as malas.

- GABRIEL!

Abafei minha boca com as mãos quando ouço os disparos e encaro perplexa aos dois corpos que estavam no chão agora. Os dois caras estavam mortos no chão. Eu não conseguia me mexer.

- Não fique ai parada, temos que ir. Rápido.

Sou puxada por ele e meu corpo o acompanha enquanto na minha mente ainda estava presente aquela cena. Ele tinha matado duas pessoas na minha frente.

PierrotOnde histórias criam vida. Descubra agora