Gabriel Pierrot | Os Gêmeos

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Nova York.

Dez meses haviam se passado desde a noite em que me livrei dos carrapatos que Hernando havia botado para nos vigiar. Por entrelinhas eu me mantinha por dentro do que acontecia no condado no Brooklyn. A situação estava cada vez pior, boatos circulavam por toda Nova York e rivais comemoravam a queda da alocação.

Hernando não era um problema desde que pisamos na cidade e não poderia ser diferente, desde aquela noite venho trabalhando em nossa discrição, e mesmo que fosse uma situação de merda nós estávamos quase felizes, se não fosse o fato de que Ângela não era ela mesma desde a noite em que deu a luz. Eu não sabia qual poderia ser a minha reação ao ver meu filho e mal podia esperar para que acontecesse logo, e quando aconteceu eu não me reconheci, estive estático, alegre e mesmo sendo pego de surpresa quando não apenas um, mas as duas crianças nasceram, mesmo assim eu não podia estar mais feliz. Diferente de Ângela, desde esse dia estava distante, mal tocava nos nossos filhos, se não para amamenta-los

Pensei bastante sobre como chamaríamos os garotos já que Ângela não mostrou qualquer interesse nisso e minha cabeça gritava a cada vez que somente eu pensava, só decidi uma semana depois de seu nascimento, estive em dúvidas em relação aos nomes mas não pude deixar de sentir um alivio quando assinei aquele papel e lá não estava mais uma vez os mesmos nomes que acompanhavam minha família a 4 gerações. Também me questionei em relação ao sobrenome, Ângela não quis de forma alguma que levassem o seu sobrenome, Summer. Não tive qualquer escolha se não lhes condenar com o peso do meu, negar-lhes qualquer um dos nossos sobrenomes era negar-lhes, talvez, quem seriam. E mesmo com todos os demônios que eu sabia que carregariam eu também sabia que eles seriam os primeiros homens desta família com liberdade e com toda certeza eu sei que sua coragem será imensa.

"CALADO"

A voz de Ângela ecoa pelo pequeno apartamento em que estávamos morando e em seguida pude ouvir o choro de um dos meninos, respirei fundo e caminhei até o único quarto do lugar. La estava ela, sentada sobre a cama com os olhos fixos nos dois meninos deitados sobre a cama, Jamie era o que chorava, dos dois era o mais agitado.

- Ele não cala a boca. - Ela diz com um certo peso em sua voz.

- Ele é uma criança, Ângela. - Digo indo em direção a cama e pegando o menino no colo. - Já os amamentou?

- Já! Tudo que eu faço é amamentar eles. Tudo que eles fazem e cagar, chorar e comer.

Encaro ela sem dizer nada, a maneira como diz aquilo me deixa quase sem palavras era como se não os quisesse.

- Eles são bebes... Tenha paciência.

Ela me encara agora em silencio e semicerra seus olhos, podia ver o cansaço estampado em seu rosto.

- Que foi que houve com você?

- O que quer dizer? - Pergunto.

- Desde que chegamos nessa droga de cidade você finge que nada aconteceu, como se tudo fosse completamente normal e como se isso realmente fosse alguma espécie de vida feliz.

Seus olhos marejavam a cada palavra que dizia e essa era a primeira vez que dizia algo assim. Me mantive calado e balancei Jamie enquanto o acalmava, ele já estava menos agitado. Julian dormia sem nenhum trabalho na cama em que estava.

- Não vai dizer nada, Gabriel?

Mantenho o silencio e continuo a balançar o menino em meu colo, não permitiria que ela trouxesse tudo de volta como se não tivesse acabado. Essa era a nossa vida agora, gostasse ou não.

- FALE ALGUMA COISA, GABRIEL!

Desta vez ela explode e com isso os dois meninos agora voltam a chorar.

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