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{Por gentileza comentem, votem. Boa leitura}

Próximo ao lago de um pequeno horto florestal, Even rabiscava as folhas de um caderno mediano, jogando nele palavras aleatórias que lhes viam à mente.

A ponta de seus pés batiam no chão coberto em folhas secas, ocasionando uma batida de uma música.

O tronco onde o mesmo se sentava era firme, mas ele ouvia sons de madeira se rachando. Talvez fossem animais dentro dele ou somente o seu próprio peso sobre a peça velha que causasse aquele som.

Além da madeira, ouviu passos pisando de leve às folhas, como se tivesse medo de as machucar.

Ainda cabisbaixo, Even olhou para o par de tênis azul marinho, com linhas brancas e um cadarço ainda mais escuro do que o tecido do próprio calçado.

A calça era justa até a altura das panturrilhas, já mais acima, folgada e aparentemente confortável.

Seguindo sua trilha até mais em cima, Næsheim mal pode conter o seu sorriso por ver Isak por aquelas bandas.

Os olhos extremamente esverdeados piscavam devagar, fazendo os cílios abraçarem e distanciarem a cada vez que realizava esse movimento.

Even notou também que os cabelos aloirados agora tinham uma cor mais desbotada; que seja, ele gostaria de ver o tom original dos cabelos do moreno.

Num jogo de olhares e sorrisos, os dois rapazes ficaram se entreolhando durante alguns minutos até Even se levantar e fechar o seu caderno.

Valtersen gostaria de ver o que ele estava a fazer ali, mas preferiu nada dizer; daria ao maior o direito de dar início à conversa.

— Podemos caminhar até o lago?! — sua voz estava rouca e entupida, como se o mesmo estivesse doente ou há muito sem nada a dizer.

— Yeah! — acenou com a cabeça, levando as mãos aos bolsos da camisa e iniciando sua caminhada.


Um ao lado do outro, em silêncio, pisando nas folhas secas e talvez pensando que em alguns minutos, uma chuva poderia os atingir.

O lago não era tão longe de onde Isak e Even estavam alguns passos atrás. Em sua margem, havia algumas ramificações de plantas aquáticas.

Mais à frente, um pequenino píer, onde Isak se lembrou que ali dera o seu primeiro beijo, entre seus quatorze ou quinze anos.

Olhou para trás e pendeu a cabeça para o lado, observando o de fios lisos.

Ele havia deixado seu caderno entre as raízes da árvore para conseguir subir nela com facilidade.

Seus braços se esticaram para o galho mais firme da árvore, e logo Even precisou levantar suas pernas para tomar impulso e se acomodar.

Suas pernas balançavam no ar, e com um sorriso inocente e manhoso, pareceu pedir a Isak para fazer o mesmo.

— Não sei se consigo chegar aí em cima… — semicerrou os olhos o fitando.

— Não seja preguiçoso…

Valtersen bufou e fez seus lábios baterem um no outro. Segurou-se no tronco e apoiou os pés nas pequenas cavidades que o permitiam subir.

Se apoiou nos galhos baixos e repetiu as ações do maior, só que recebendo a ajuda do mesmo para sentar ao seu lado.

O sol frio refletia na água, que só se movimentava por conta dos pequenos peixes. Via-se também o reflexo do solado de seus tênis, só que não tão nítido.

Even deitou a cabeça no ombro de Isak, fechando os olhos pelos cabelos deste mesmo cheirarem à cacau.

Dedilhando as veias das costas da mão de Isak, Even entrelaçou-a a sua, todos esses atos seguidos de formas impensáveis.

Limpou a garganta e respirou fundo antes de tomar a fala. — Como sabia que eu estaria aqui?! — seu sussurro golpeou o pescoço do menor.

— Eu não sabia, mas senti a sua presença por aqui… Decidi caminhar um pouco e o encontrei…

— Sentiu?! — Isak afirmou — Como?!

Valtersen já esperava essa pergunta, tanto porque ele vinha treinando o seu discurso desde o dia em que ocorreu o acidente.

Klara o aconselhou e o pediu para falar com calma com o encaracolado, já que provavelmente a sua reação não fosse tão previsível.

Ele poderia correr ou aceitar Isak do jeito que ele era.

— Eu esperei muito tempo para contar a alguém sobre isso, mas contar a alguém que não fosse da minha família.

— Pois bem, conte-me então…

— Prefiro contar em terra firme porque essa altura está me dando vertigens.

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