dois.

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Os médicos deram-me uma injecção, onde eu acabei por adormecer, mais uma vez.

Comecei a abrir os olhos lentamente e a luz do dia atrapalhou-me um pouco a visão, mas assim que virei o meu rosto vi a minha mãe a dormir, muito calmamente, mas Ashton já se encontrava bem acordado. Assim que reparou no meu regresso ao mundo dos vivos, deu um pequeno sorriso.

"Hey." Caminhou até mim, onde sentou-se na beirinha da cama. "Como te sentes?"

"Aham, nem sei."

"Porquê que o voltaste a fazer, Blake?" Perguntou. Eu sabia que ele faria esta pergunta.

"Porque...não há explicação, Ash."

"Há sim, a mãe contou-me que o pai ligou e que tu falaste com ele. Eu sei que as coisas não correram bem." Merda, ela tinha mesmo de lhe contar? Porra. "Foi por isso que o fizeste?"

"Sim." Admiti. "Precisava de libertar a minha dor e foi a única maneira que eu encontrei para o fazer." Solucei. "Desculpa, Ash."

Não disse nada, simplesmente me abraçou cuidadosamente. Era isso mesmo que eu precisava, dos seus braços em redor do meu corpo. Sempre me senti protegida nos braços do meu irmão.

A minha mãe passado uma hora acordou. Eu já me encontrava a tomar o pequeno-almoço com o Ash. Um pequeno sorriso começou a formar-se nos seus lábios.

"Desculpa." Sussurrei, assim que ela se aproximou de mim.

"Shh, está tudo bem." Abraçou-me.

Como é possível a minha mãe dizer que está tudo bem, quando não está? Está tudo mal, na verdade. Esta aproximação que o meu pai quer ter connosco assim tão repentina, fez com que tudo que estava a fazer para parar de me magoar, voltasse e eu odeio-o por isso. Ele não vale nada e eu nunca lhe vou perdoar.

Tenho alta agora. Já estava pronta, bem, usava as roupas de ontem. O médico veio falar comigo.

"Blake, acho que você deve procurar ajuda." Como assim, ajuda?

"Como assim?"

"Acho melhor você ir para uma reabilitação. Você tem várias cicatrizes nos seus pulsos e isso tem de parar."

"Mas eu consigo parar. Eu estava bem, isto..." mostrei as ligaduras "...isto foi apenas uma recaída. Eu estava bem há mais de 6 meses."

"É verdade, Dr. John. Ela estava bem." Confirmou o meu irmão.

"Mas mesmo assim, acho melhor procurar ajuda."

"Mas eu não preciso dela." Respondi, rispidamente. Este gajo está a irritar-me e não é pouco.

"Blake, é o melhor para si."

"Você não sabe o que é melhor para mim. Você não me tem acompanhado durante estes meses ou até anos que eu sofro disto, portanto não venha com merdas dizendo que ir para uma reabilitação é melhor para mim." Estalei.

Não pronunciou uma única palavra. Ashton arrastou-me até lá fora, enquanto a minha mãe falava com ele.

"Miss Stella, você devia mesmo convencer a sua filha a ir para a reabilitação, ela precisa mesmo de ajuda."

"Eu sei, mas eu e o meu filho temos sido o suporte dela. Ela estava bem, Dr. John. Ela não se mutilava há mais de 6 meses. Ontem, recebemos uma chamada que a deixou muito perturbada. Aquela chamada, fez com que ela se refugia-se a libertar a sua dor através dos cortes."

"Fale com ela e tenta convencê-la."

"Assim o farei." Disse. "Bem, obrigado e até um dia, Dr." Apertaram as mãos.

"Até um dia, Miss Stella."

Já estávamos no carro a aguardar que a minha mãe chegasse. Estava a demorar tanto tempo. Estava a fumegar. As palavras daquele animal ecoaram na minha cabeça. Entretanto a minha mãe chegou e o Ashton logo arrancou.

"Ele quis convencer-te a enviares-me para a reabilitação, certo?" Perguntei à minha mãe, apesar de já saber a resposta.

"Não, fiquei a assinar os papéis da tua alta." Porquê que ela está a mentir? Conheço-a tão bem.

"Porquê que estás a mentir? Conheço-te bem demais para distinguir quando falas verdade ou quando mentes."

"Pronto, Blake." Suspirou. "Ele queria convencer-me e sinceramente..."

Interrompi-a. "E sinceramente, achas que é o melhor para mim." Como? Oh meu deus.

"Blake, a verdade é que tu precisas de ajuda."

"Mas que...estás mesmo a falar a sério, mãe?" Até a minha mãe? Meu deus, como é possível?

"Sim, querida." Baixou o olhar.

"Não fales mais comigo."

"Estás a ter atitude de criança." Elevou o seu tom de voz.

"Então deixa-me de ter." Estalei. "Pensava que podia contar contigo e com a tua ajuda, mas visto que queres convencer-me a ir para uma reabilitação, está dito que não posso." Disse. "E por favor, não fales comigo."

O meu irmão nem se envolveu nisto desta vez. Achei melhor que não o fizesse, pois também não queria chatear-me com ele. Neste momento, ele é o meu único apoio, visto que aquele boi do Dr. John virou a cabeça da minha mãe do avesso. Apetece-me matar aquele idiota. Filho da mãe, mas quem é que ele pensa que é?

Assim que cheguei a casa, fui tomar um banho. Necessitava de tirar este cheiro a hospital de mim. Só me fazia lembrar aquele animal. Ai, que raiva. Que fiz a deus para me estar acontecer isto? Provavelmente ter um pai que me abandonou e que fez com que a minha vida deixasse de fazer sentido.

Já estava pronta. Precisava de sair de casa, não quero estar neste ambiente. Peguei nas chaves do carro e logo desci as escadas com bastante rapidez.

"Ei, onde vais Blake?" Ouvi a voz do Ashton.

"Preciso de sair. Estar aqui não me está a ajudar a pensar."

"Queres companhia?" Perguntou.

"Na verdade, não." É a primeira vez que nego a companhia do meu irmão. "Quero estar sozinha, Ash." Respirei fundo. "Espero que entendas."

"Sim, claro que sim." Assentiu.

Espero mesmo que ele não fique chateado comigo, mas eu preciso mesmo de estar sozinha. Preciso de pensar no que hei-de fazer com a minha vida. Tirei o meu carro da garagem e andei sem rumo. Estava tão distraída com os meus pensamentos que quase atropelei o rapaz que me salvou. Parei bruscamente o carro e logo saí.

"Oh meu deus, peço desculpa. Eu estava distraída...eu não queria."

"Tu és sempre assim? Tão distraída?" Perguntou, chateado.

"Não." Mexi no meu cabelo. Faço-o sempre que estou nervosa. "Desculpa." Voltei a repetir.

"Quando eu te disse ontem que nos víamos por aí, não estava a falar desta maneira." Voltei ao dia de ontem, quando este rapaz me salvou de ser atropelar.

Ri. "Desculpa, não consegui evitar." Tentei abafar o meu riso. "Mas mais uma vez, desculpa."

"Já podes parar de pedir desculpa. Está tudo bem." Deu um pequeno sorriso.

Isto foi estranho. A forma como o seu sorriso me acalmou, é algo fora deste mundo. Começamos a ouvir as apitadelas dos outros carros, pois eu estava a provocar fila.

Virei-me para trás. "Caralho, eu ia atropelar uma pessoa, tenham respeito." Gritei.

Pelo menos os carros mais próximos do meu, pararam. Virei-me para ele de novo e vi que estava chocado com o meu comportamento. Pois, é normal. Presumo que ele não está habituado a este tipo pessoas. Acho que ele é uma pessoa calma, ao contrário de mim.

"Aceitas tomar um café?" Perguntei.

"Sim." Sorriu.

"Entra no carro." Sorri.

Entrei no carro, onde vi-o a contornar o meu carro. Ele é extremamente bonito. Conduzi até ao café mais próximo. Acho que vou ter um dia interessante e agradável, talvez. É disso que eu preciso.

my salvation.Where stories live. Discover now