é que eu tentei te explicar na confusão das metades dos meus axiomas e argumentos desconexos que a história do mundo ocidental está deitada de forma desconfortável em uma rede de falácias, mentiras, genocídios e ganância.
eu quis colocar a mão nos teus arranhões e limpar o sangue que já escorria por suas outras cicatrizes, mas você me disse não, não me toca e eu tive que respeitar seu direito de decidir sobre seu próprio corpo - a rotina, tal como a morfina, pode fazer bem e te viciar, anestesiar a dor pela paz ou por escapismo porque tudo depende da dosagem.
em dado momento eu tentei compreender como o paternalismo e a cultura patriarcal hegemônica da nossa sociedade brasileira desde mil oitocentos e guaraná com rolha envenena os meus atos mais sutis, os meus pensamentos mais ligeiros quando eu combati a fixação de olhar toda mulher de cima a baixo no momento em que ela entrava no ônibus - eu senti vergonha, mas resistir, constranger-me e desnaturalizar esses atos é uma espécie de se lutar contra.
eu não tinha compreendido o sentido de resiliência e força antes da minha avó sentar comigo e me contar sobre o êxodo de Alagoas pra São Paulo deixando oito filhos porque não poderia trazer todos e não suportaria mais humilhação e tapas, quando minha tia me falou sobre como quanto mais ela cuidava dos irmãos mais ela ficava e eles iam pra São Paulo e como ela riu e chorou quando compreendeu que ficava porque era ela quem cuidava de quem ficava eu não compreendi o sentido de dor até pouco tempo atrás e eu encaro a ironia de ler trechos já não cruéis o suficiente para evitar que eu desça a página;
líquidos tempos que me consomem, diferente de bukowski o que me mata não é algo que eu ame.
eu tentei te dizer que mais de setenta porcento do território holandês está abaixo do nível do mar e que seus canais, seus diques e tecnologia permitiram que ali se tornasse um lugar habitável como metáfora pra falar que o meu peito é dor injustificada porque a existência precede a essência e a minha está se tornando dor aos poucos a primeira grande bolha especulativa foi ali porque as tulipas começaram a ser usadas como títulos especulativos tal o mercado financeiro hoje vende as nossas almas
não sei como trazer qualquer coisa que eu quero pra perto do meu peito e choro uma vez ao ano eu estou seco seco seco seco belchior me aconselha em palo seco
a ideia de meritocracia me sufoca, as políticas públicas na área da educação afunilam meu futuro eu sou Ícaro, mas tenho apenas uma asa.
(Daniel Cordeiro)
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textos cruéis demais para serem lidos rapidamente.
PoesiaPlágio é crime! méritos ao autor(a) do livro ou textos. obs: não tem uma ordem de capitulo, leiam como preferirem.