Eles realmente pensaram que a Olívia estava me "influenciando", e estavam tentando para-la tão arduamente que quando cheguei na escola, depois de uma semana deitada me desidratando e sem comer, eu havia sido trocada de sala e tenho certeza de ter ouvido o vice diretor murmurando algo como "eu sabia que aceitar esta garota na nossa escola não era uma boa ideia". Fui para minha nova sala e vi ela olhando para mim, parecia que eu era um fantasma, e provavelmente me parecia mesmo com um.
Me sentei em uma carteira perto da janela e fiquei olhando o espaço entre a parede da minha sala e a parede do prédio ao lado enquanto sentia o sol no meu rosto, ninguém veio falar comigo e eu também não quis falar com ninguém.
As aulas se seguiram, uma após a outra, enquanto eu absorvia os conteúdos apenas parcialmente. Quando soou o intervalo não quis me levantar, principalmente depois que vi a Olívia parada à porta me observando, pedindo, com um olhar, permissão para entrar.
—Você está bem? — ela perguntou ao se sentar à minha frente.
—Na medida do possível, quer dizer, minha mãe está morta porque meu pai é um imbecil e agora tenho que estudar com os babacas que passaram a minha infância me espancando enquanto minha melhor amiga, que também está aqui, não fazia nada, mas sim, tirando isso eu esto bem.
—Primeiro: você acha que eles te trocaram de sala por minha causa? — ela respirou fundo, suas costas estavam curvadas, parecia que ela tinha um peso enorme sobre os ombros e não consegui evitar pensar que esse peso era eu — Segundo: que cara é esta?
—Primeiro: provavelmente. Segundo: se você estivesse na minha casa durante a ultima semana você entenderia.
—Você me deixou estar lá? — ela se levantou e eu segurei o braço dela.
—Me desculpe. — falei — Por descontar tudo em você, eu sei que você só estava preocupada comigo, mas é..., é difícil, depois de todo esse tempo me fazendo de forte, aceitar que eu estou fraca. Me desculpe — repeti.
Ela me abraçou, como já havia feito outras vezes, mas daquela vez era diferente. Eu podia sentir seus braços tremendo em volta de mim, suas pernas estavam trêmulas, ela parecia estar contendo as lágrimas, eu não sabia o que estava acontecendo com ela, e me culpei por não ter percebido antes, durante todo o tempo em que ela estava lá, me apoiando, me ajudando, quem precisava de ajuda era ela.
Não disse nada sobre isso quando ela me soltou. Com aquele abraço, assinamos um contrato, nos apoiaríamos e ajudaríamos mutuamente, e rezaríamos para que isto fosse o suficiente.
Aquilo precisava ser o suficiente, eu não podia perdê-la, não podia perder mais ninguém.
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Fantasmas do Fim do Mundo
RandomHeloísa viveu boa parte da sua vida em uma cidade pequena com suas próprias regras e costumes, nos quais nunca se encaixou e pelos quais tanto se machucou, mas agora ela está de volta e irá descobrir que os fantasmas de seu passado ainda estão vivos...