— Bom dia ex cunhadinha. — o Levi gritou quando eu acordei— Dormiu bem?
— O que aconteceu ontem?— perguntei com a voz dele ainda ecoando na minha cabeça— O que você está fazendo aqui?
— Nossa ex cunhadinha, você já foi mais gentil comigo, e deveria continuar sendo, já que muito provavelmente eu estarei de castigo por socar a cara daquele ignorante medieval, e por passar minha ultima noite junto da minha irmã velando o seu sono.
— Como assim ultima noite?
— A Olívia está indo morar com a nossa mãe, e não tenho certeza se te odeio ou te amo por isso, talvez eu volte a sentir raiva de você quando tirar a imagem daquele projeto de ser vivo te tocando como se fosse seu dono.
— Não me lembro de muita coisa, mas obrigada por me ajudar, se você não tivesse aparecido... — deixei aquelas palavras não ditas pairando no ar, em parte, porque ouvi-las em voz alta, doeria mais do que qualquer idiota, ou qualquer navalha teria feito.
— Eu apareci. Ok? Não pense no que teria acontecido, você só estaria se torturando.
Concordei com um aceno de cabeça, e ele me entregou um remédio para a enxaqueca rindo de mim abertamente.
— Ex cunhadinha, tem certeza de que você tem dezessete anos? Essa não pode ser sua primeira ressaca.
— Tenho certeza absoluta, a não ser que 1991 tenha sido a mais tempo.
Ele sorriu de lado, me lembrando a irmã, e continuou calado apenas me observando, parecia estar com a cabeça longe, mas não disse nada até que me fez uma pergunta tão aleatória que me lembro até hoje e que resume quem era o Levi:
— A Sarah beija bem?
E aquele era o Levi, mesmo eu sendo a ex namorada da irmã que ele viu na noite anterior beijando outra garota, e mesmo ele tendo, provavelmente, quebrado o nariz de alguém por minha causa, essa era a unica coisa sobre a qual ele falaria daquela noite, pelo menos ele não tinha me chamado de ex cunhadinha. E era por isso que eu o adorava e odiava. Nós continuamos a conversar até quase a hora do almoço, quando ele pediu desculpas por me "abandonar" e disse que se demorasse mais talvez não encontrasse a Olívia em casa.
Aceitei as desculpas, mesmo sabendo que ele tinha dito a ultima parte para me machucar, (ele não perderia a oportunidade por nada) quando ele saiu, eu estava tão fraca que me virei e dormi, mas não antes de prometer:
— Nunca mais vou beber.
Cochilei, talvez por meia hora, ou talvez mais, e acordei com o barulho do portão sendo aberto.
Levantei da cama, com medo de serem assaltantes, e com a esperança de ver a Olívia parada no batente da porta. Não sei se fiquei mais aliviada ou decepcionada ao ver a Sarah na porta me olhando com um misto de pena e medo estampado no rosto.
— Lis...eu...— ela começou sem jeito.
— Você...— cortei, impaciente.
— Eu queria te pedir desculpas por ontem, as coisas saíram um pouco do controle.
— Um pouco? Tem certeza? Posso até não me lembrar direito, mas acho que o seu namorado me ameaçando de estupro não é pouco.
— Estupro? Não. Ele só queria...te ajudar.
— Me estuprando?— estava quase achando graça.
— Meu Deus Lis! Não! Concordo que aquela não era a melhor forma, mas nós só queríamos te ajudar. Que ideia fixa...
— Nós? Como assim nós?
— Desde que eu contei pra ele que vocês eram amigas ele se mostrou disposto a ajudar.— grande ajuda—Achei que ele fosse conseguir ontem...
— A Olívia nunca foi minha amiga. Ela era minha namorada,— ela arregalou os olhos e chegou a quase sorrir—sim era, mas não pense que é por causa da ajuda do seu namorado, nós terminamos porque eu fui burra o suficiente para trocar ela por quem eu achei que era minha melhor amiga. E antes de eu te expulsar da minha casa, saiba que não preciso desse tipo de ajuda, a melhor coisa que já me aconteceu foi ter me apaixonado por uma mulher. E se você não pode aceitar isso, não temos mais nada para conversar.
— Então eu vou embora, mas saiba que, se você mudar de ideia, ele ainda quer te ajudar.
Engoli a raiva e todas as palavras ofensivas que queria gritar, mas aquela visita tirou boa parte do meu autocontrole, porque depois que ela saiu, me ouvi dizendo:
— Homofóbica mal amada.
Passei o resto do dia me perguntando como a Sarah tinha entrado na minha casa e percebi que se ela conseguiu, o namorado e os amigos dele também poderiam entrar, cheios de boas intenções, no meu quarto durante a noite.
Então me lembrei da chave de segurança que minha mãe sempre deixou na caixa de correio e entendi que já estava na hora de aposenta-la definitivamente, então me levantei, desci os degraus da cozinha, que ficava ao lado do meu quarto, atravessei a lavanderia o mais rápido que pude e subi toda a parte lateral do meu quintal, só para não passar pelo quarto da minha mãe, quando cheguei, finalmente, ao meu destino descobri que eu, do alto dos meus 1,55 de altura, não alcançava a caixa de correio e fui até a varanda buscar um banquinho de madeira que fazia parte de um conjunto de chá muito rosa que eu havia ganhado quando era criança.
Com o portão devidamente trancado e a chave já no lixo, conferi os armários da cozinha e comecei a fazer cálculos e a me preparar para os meses mais longos da minha vida.
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Fantasmas do Fim do Mundo
RandomHeloísa viveu boa parte da sua vida em uma cidade pequena com suas próprias regras e costumes, nos quais nunca se encaixou e pelos quais tanto se machucou, mas agora ela está de volta e irá descobrir que os fantasmas de seu passado ainda estão vivos...