P O R C E L A I N ( JIKOOK )

In The Grave

 Como você caiu dos céus,
ó estrela da manhã, filho da alvorada!
Como foi atirado à terra,
você, que derrubava as nações! Você, que dizia no seu coração:
"Subirei aos céus;
erguerei o meu trono
acima das estrelas de Deus;
eu me assentarei no monte da assembleia,
no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto
que as mais altas nuvens;
serei como o Altíssimo". Mas às profundezas do Sheol
você será levado,
irá ao fundo do abismo!

Isaías 14:12-15

Jeon Jungkook

Pensamentos sobre morte nunca rondaram, de fato, a minha cabeça. Mas depois que eu te encontrei, eles eram notoriamente as únicas coisas em que eu conseguia pensar. "Descansar" em um buraco escuro e sem oxigênio parecia ser mais reconfortante do que estar na sua presença, meu bem. Não que eu não a quisesse, pelo contrario, mas perceber que você estava ali apenas para saciar seu efêmero apetite por dinheiro magoava minha alma.

Meu anjo havia se tornado lúcifer, caído por ceder aos seu desejo e sede por poder. E eu ? Bem Jimin, eu não conseguiria fazer nada para que você retornasse ao céu. Então se você não poderia subir para o paraíso novamente, eu desceria até o inferno para ter você do meu lado. Porque se era sua intenção tirar até o ultimo tustão que eu tinha então, teria que me aguentar por toda a eternidade. Eu iria te seguir até a próxima reencarnação.

Lembro com exatidão quando você me contou sobre sua crença e foi como se a partir dali tudo fizesse sentido para mim. Eu sentia no fundo da alma que nossa ligação era do passado, e isso doía como o inferno. Hoje só consigo imaginar a quantas vidas estou ligado a esse sofrimento que não parece ter fim por mais que eu tente escapar. Espero que em outras vidas eu tenha sido capaz de tirar uma sorte melhor.

Park Jimin

Sinto meus joelhos doerem contra a grama bem cortada, meus olhos ardem e o maxilar travado por tempo demais deixa uma sensação dolorida se apossar de meu rosto. As lagrimas que antes se encontravam quentes em meu rosto, agora secam gradativamente devido as lufadas de vento que vem de encontro a mim. Minhas mãos tocam a lapide negra de granito pouco empoeirada, e o contato com a pedra fria traz um arrepio direto para a minha espinha.  Eu havia matado você, Jungkook,de forma fria e copiosa. 

As lagrimas que insistiam em cair não eram de paixão por um grande amor ter partido repentinamente, na verdade, elas eram um misto de remorso e medo. Eu havia te matado e de acordo com a igreja o meu caminho para o inferno já estava traçado. Dei dois socos singelos sobre a cripta na esperança de que eles o atingissem, de fato, mesmo que eu soubesse que agora você nunca mais seria capaz de sentir alguma coisa. Se eu era uma especie de demônio para você então eu te tinha como meu inferno particular. Hoseok agora me condenava,   e Namjoon se mostrava indiferente a situação, o dinheiro tinha se acabado e as contas gradativamente iam se acumulando.

Eu não tinha mais nada que valesse a pena insistir, sera que nos seus últimos dias você se sentiu assim, Jeon ? sentiu que não pertencia mais a esse mundo ? porque agora é exatamente como me sinto. A punição por ter arrancado a sua vida parece cada vez mais próxima de mim.

ANTES

Os dedos de Jungkook batiam nervosamente sobre a mesa arrumada de forma cuidadosa, pertencente ao restaurante de culinária francesa, lugar que Jimin pedia para ir a algumas semanas. Mas agora o mais novo havia arrumado um motivo perfeito para finalmente, levar o outro até o local. Ambos estavam trajados formalmente, afinal aquele ali não era um lugar qualquer. A caixinha guardiã do singelo anel, localizado no bolso da frente do paleto de Jeon parecia pesar uma tonelada.

- Jimin - Puxou a atenção do mais velho para si, fazendo com que esse repousasse a taça de vinho tinto sobre a mesa.

- Sim ? - Ele estava curioso, mesmo já sabendo do que se tratava, queria saber como o pedido seria feito e que tipo de anel um clichê como ele escolheria.

 - Eu sei que você pode achar um pouco cedo, e que passou por um momento difícil depois que aquele babaca te deixou, mas a vontade de ter você só para mim é maior que minha linha de raciocínio - Deu uma risada nervosa-Você aceita namorar comigo ?

Tirou o anel do bolso e abriu a caixa colocando sobre a visão do outro, o artefato comprado com muito carinho, viu de imediato os olhos do outro adquirirem um leve brilho. Um minuto de silencio foi instalado sobre a mesa.

- É claro que eu aceito - Jimin pronunciou estendendo a mão para que o anel fosse colocado em seu dedo.

E foi a partir daquele momento que a vida de Jeon Jungkook caminhava pouco a pouco, rumo a seu final trágico.

HOJE

Jimin não era mais guiado pela razão, os seus pés faziam todo o retorno para casa  automaticamente, e logo se pegou correndo no meio da rua. Sinto a respiração rápida e o coração acelerado demasiadamente. O céu nublado, as ruas vazias e o clima triste, eram o cenário perfeito para complementar o seu estado atual. Se ele havia sido amaldiçoado a viver uma vida triste após a morte do outro, a maldição tinha se concretizado com sucesso. Checou o restante de dinheiro que tinha na carteira e logo se viu caminhando rumo a loja de bebidas mais próxima dali, não iria se embebedar sem nenhum motivo aparente. Não se via tendo que lidar com uma ressaca na manhã seguinte quando a vida já estava ruim demais para piorar. A farmácia de esquina foi o seu segundo destino.

Chegou no apartamento sujo por volta das 7 da noite, passou tempo demais buscando coragem na praça em frente ao prédio para o que viria a seguida. A louça transbordava sob a pia pouco higienizada, restos de comida eram evidentes sobre a pequena mesa de centro da sala, e roupa suja se encontrava espalhada por todo o apartamento. Os lixos não retirados a semanas já fediam, seu estado era realmente deplorável. Sentou-se no sofá manchado por café e provavelmente um pouco de refrigerante também, possuía uma garrafa de uma bebida alcoólica com o teor maior do que você conseguiria imaginar em uma das mãos e inúmeras caixas de ansiolíticos na outra. 

Sabia exatamente o que fazer, era simples, e a partir dali ninguém mais poderia o parar.