P O R C E L A I N ( JIKOOK )

Hanged On a Letter

Deixo a paz a vocês; a minha paz dou a vocês. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo. 
João 14:27

Jeon Jungkook

Jimin, se você esta lendo isso provavelmente eu já seja só um cadáver frio e sem alma. 

É dificil colocar minhas últimas palavras em apenas uma folha de papel, eu nunca imaginaria que um dia eu faria isso, mas quem imagina né? Pode parecer macabro, mas eu não seria capaz de te deixar com apenas uma folha de papel, eu quero que você leia cada linha, e cada parágrafo do meu sofrimento. E é por isso que eu te deixo esse caderno. 26 Páginas escritas com o ultimo impulso e fervor de vida que ainda me restavam.

Não te culpo pelo que fez, todos nós um dia ou outro acabamos pagando pelo que cometemos, e eu não quero ir embora dessa terra com mágoa no meu coração. Mas mesmo eu não querendo ver você sofrendo meu bem, isso me traz um certo alívio, porque sempre achei injusto eu ser o único a sofrer nesta relação. Você sempre disse que minha ambiguidade era desconcertante, mas a forma com que o seu eu, saia de anjo para demônio com facilidade, em menos de segundos, era a coisa mais ambígua que eu já presenciei.

Tudo que amei, amei sozinho. Já você me "amou" durante 24 meses e 10.000 dólares ou mais não vamos por em conta aqui.

Te desejo uma vida longa e plena, espero que o seu destino nunca acabe sendo igual o meu. Espero também que finalmente possa desfrutar do meu dinheiro acumulado na sua conta ao longo dos meses. Não pude passar minha velhice com você, mas vou embora feliz por saber que passei os meus últimos dias ao seu lado. Te amarei por toda a eternidade.

                                                                                                                                                       Jeon Jungkook

ANTES

O estado lamentável que Jungkook se encontrava fazia com que Jimin tivesse nojo. O mais velho nunca pensou que descobrir a verdade sobre o relacionamento doeria tanto para o outro. Mas quando a verdade foi dita em alto e bom som, foi como se o chão sob os pés do mais novo tivessem sido arrancados. As palavras tóxicas ainda ecoavam nos seus ouvidos. A penumbra deixava a sala com um aspecto assustador, e Park sentia seus pelos se eriçar toda vez que Jeon voltava a arremessar objetos contra as paredes, deixando com que os estilhaços se espalhassem pelo chão.

- " Sempre foi pelo dinheiro,eu nunca iria querer algo com um doente que nem ele " - Jungkook repetia as palavras flagradas e proferidas momentos antes. - Sempre foi sobre dinheiro Jimin ?

De repente os movimentos bruscos cesaram, e ele caminhou até o sofá deixando com que seus pés se cortassem devido aos cacos, formando conjunto com as palmas das mãos que se encontravam no mesmo estado.

O outro apenas assentiu com um movimento singelo, se encolhendo sob as sombras no canto da sala.

- No começo eu amava estar com você, de verdade, mas depois percebi que não era você que eu queria. Você exigia mais do que eu conseguia suportar, e eu não sou perfeito, foi ai que eu vi uma oportunidade de tirar vantagem da situação. - Assumiu envergonhado e Jeon riu de forma seca.

- Então eu estava pagando para um garoto de programa esse tempo todo? Você só aceitou a porra do meu pedido por interesse ? - A voz antes irônica aumentou gradativamente se tornando raivosa.

- Não me chama assim, eu não sou esse tipo de pessoa.

- Quer que eu te chame de que ? Vadia, Vagabundo, oportunista, putinha, qual cai melhor hein ?

Aproximou-se rapidamente apertando o rosto do outro contra a sua mão brutalmente, deixando com que o sangue dos cortes recém abertos manchasse o rosto alheio.

- Para com isso, não encosta em mim ! - Se desvencilhou do aperto do outro e deu alguns passos para trás, assustado.

- Ah - Falou debochado - agora que a sua mascara caiu esta com raiva por que não vai conseguir mais nada ? - O mais novo arrancou algumas notas de sua carteira e jogou sobre o outro - Pega essa mixaria ai, já que gosta tanto de dinheiro assim.

- O único sentimento que passa por mim agora é nojo Jungkook, nojo de você, eu queria você morto agora, porque eu prefiro isso do que estar do seu lado agora.

O mais novo entrou em choque e essa foi a deixa para que o outro caminhasse em direção a porta, desviando de um pedaço de porcelana em pedaços caído no chão.

- Quer saber Jeon ? Por que você não faz o favor de se matar logo ? Não vai fazer diferença mesmo, se quiser eu até posso ir no seu velório entregar flores para a sua mãe.

Nenhuma resposta foi ouvida.

No elevador Jimin pensou em voltar e se desculpar, as palavras tinham sido mais pesadas do que ele imaginou, e agora sentia o peso delas sobre as costas, mas ele não o fez. Seguiu seu caminho, não tinha noção de que suas palavras seriam a bala perfeita para a arma engatilhada de Jeon Jungkook.

Jeon preparou tudo meticulosamente a sangue frio. Comprou um caderno novo, esse seria o portal necessário para que sua versão da história fosse corretamente entregue a Park. Fez a transferência de seus bens, com a ajuda de um testamento autenticado, por fim deixou com que todo o dinheiro presente em sua conta fosse doado para a caridade.

Quando mais nada o prendia nesse mundo e seus últimos passos haviam sido concluídos, ele foi até a loja de ferragens no centro da cidade e adquiriu, depois de uma demorada escolha, o último instrumento que usaria em sua vida, uma corda.

No seu último dia ele observou as coisas a seu redor como nunca tinha feito antes, analisou a beleza dos pássaros coloridos que tingiam o céu, as flores recém desabrochadas fazendo conjunto com a grama verde. E por último não poderia deixar de visitar o seu lugar preferido em todo aquele mundo medíocre, o museu. Despediu-se de cada uma daquelas obras, especialmente do anjo em luto, o ser perfeito de asas debruçado sobre uma placa grande de pedra. Foi enfim pego pela melancolia do momento e permitiu que algumas singelas lágrimas fossem derrubadas.
Ele queria se encontrar ou até mesmo se fundir à aquela figura angelical quando em fim estivesse sem vida. Mas sabia que não teria o prazer de admirar aquilo, porque era um pecador, e pecadores não iam para o céu.
Seguiu caminho para casa, o alívio por não sentir-se mais magoado, já tomava conta de si, assim como o alívio por mais tarde não ser capaz de sentir mais nada. Descalçou os sapatos e dobrou as meias cuidadosamente sobre eles, retirou o caderno da escrivaninha e o colocou no embrulho mais bonito que tinha em casa. Escreveu na embalagem que o destinatário era unicamente Jimin, e o repousou do lado da mesa onde o abajour se localizava, ao lado de onde seu corpo ficaria pendurado, como mais um dos ornamentos que enfeitavam a sala. Pegou a corda e com toda força que reuniu deu o nó que havia treinado por alguns dias, amarrou uma das pontas sob o lustre e deixou a forca para baixo, pendeu o peso sobre a corda e passou seu pescoço na corda, sentindo o aperto ainda leve fazer cocégas em seu pescoço. Pulou da cadeira que sustentavam seus pés e de repente o oxigênio não existia mais, era agoniante e seus pulmões pareciam estar em brasa viva. Como reflexo natural do seu corpo seus braços e pernas se debatiam, os olhos vidrados em um ponto fixo estavam arregalados. Mas a imagem de Jimin sorrindo veio em sua mente, a forma como o seu corpo se encaixava ao do pequeno quando eles dormiam juntos, a textura macia do cabelo dele quando os dedos de Jeon acariciavam as madeixas, e no final sentiu a textura dos lábios do outro sob os dele. E com um último beijo da morte pode descansar feliz por ter partido desse plano com a imagem de seu amado em sua cabeça. Morreu com um semblante feliz.