Capítulo 5

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O tempo era uma coisa interessante lá para as bandas da fazenda Salgueiro, algo muito incomum, principalmente em se tratando do Nordeste do Brasil. Não era difícil que o céu mudasse de sol para chuva ou de chuva para sol, inclusive no mesmo dia e Alice tinha a impressão que naquela região isso acontecia quase que como o humor de uma mulher na tpm, do nada. Era engraçado e as vezes inconveniente.

Aquele era um dos momentos inconvenientes.

Logo quando acabou de tomar café foi avisada da chegada de Jonas e Sr. Nonato, e, ao contrário do que ela pensou, eles chegaram sozinhos. Jonas com a mesma cara de poucos amigos e o pai um tanto desconfiado e sem graça. Ela pensou em chama-los para o escritório, mas achou melhor iniciar a conversa de uma forma mais descontraída, na varanda, e quem sabe até dar um passeio pelas baias que ficavam próximas ao curral.

-Bom dia senhores! como tem passado? - Alice falou com o tom imponente, de quando tratava de negócios.

-Bom dia, Dona Alice, estamos bem graças a Deus, e a senhora? - respondeu sr. Nonato.

-Muito bem como os senhores podem ver, acordo sempre bem disposta quando o dia amanhece assim, ensolarado, dia bom para o trabalho e para fechar bons negócios - Alice respondeu sorridente, e olhando para Jonas perguntou: - Os senhores pensaram sobre a minha proposta?

Como havia perguntando diretamente olhando para ele, não pode fugir, e, com a mesma petulância de sempre, falou quase que num rosnado: - Acho que não estaria aqui se não tivesse pensado.

Alice, que já esperava pela resposta atrevida, não se preocupou em responder, se dirigindo ao Sr. Nonato que repreendia o filho com o olhar, mudou de planos e convidou-os para tomar um café.

-É muita bondade da senhora dona, mas a gente comeu antes de sair de casa - respondeu Jonas tentando melhorar o tom sem muito sucesso.

-Ah, mas quanto a isso não se preocupem, eu também comi antes dos senhores chegarem, mas Dona Cecília faz um café tão gostoso que eu nunca me privo de repetir, e hoje ela fez uns biscoitinhos de manteiga então que huuuum, valem a pena serem degustados - respondeu Alice já se sentando na mesinha da varanda.

-Pois então é desfeita não experimentar, dona Alice - Falou sr Nonato um pouco mais à vontade.

-Bom, podemos começar nossa conversa aqui mesmo, não acham? - falou Alice sabendo que sua desenvoltura deixava Jonas ainda mais empertigado, e ela estava amando fazer isso. E continuou - Tem algo que vocês queiram me perguntar que não ficou claro nos documentos que o meu advogado lhes enviou?

Jonas achou que a essa altura já estaria acostumado com o jeito daquela mulher, sempre tão direta e articulada, que perguntava olhando nos olhos sem meias palavras, mas pelo visto ele estava longe de achá-la normal. É claro que continuaria passando a impressão de que estava chateado por causa da história dos bois, o que de fato estava, mas o maior incômodo na verdade era por se sentir inferior quando estava do lado dela, burro e abobalhado, diante daquela mulher que tinha tantas qualidades e, além disso, era bonita como o diabo.

Ele havia lido e relido o contrato que o advogado da fazenda lhe entregara dois dias atrás e considerou que era razoavelmente vantajoso para si e para seu pai em relação ao que dona Alice iria ganhar, achando tudo muito estranho, o contrato previa inclusive uma remuneração extra à medida que a parceria desse certo, o que para ele não fazia o menor sentido já que o contrato deixava bem claro que toda a premiação decorrente das competições seriam deles e que a fazenda arcaria com todas as inscrições, transporte e demais custos, parecia muito bom para ser verdade.

-Eu achei o contrato muito bom - respondeu por fim - muito bom para ser verdade, nunca ninguém nos fez uma proposta assim e eu ainda acho, me desculpe a sinceridade, que a senhora tem segundas intenções.

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