Coloquei minhas mãos sobre o colo numa vã tentativa de esconder o tremor, que denunciava meu nervosismo. Como eu queria que Priscilla estivesse aqui comigo, assim eu não seria o único alvo daquele olhar quase frio. Isso não estava certo, afinal, os profissionais da área deveriam ser mais simpáticos, não é?
Mas também o que eu esperava? Não deveria ter ido na conversa mole da minha amiga. Eu estava diante do melhor profissional do ramo, o grande responsável pelo programa de sucesso que motivou homens e mulheres em várias partes do mundo. Entretanto, eu já sabia que ele não prestava mais o atendimento que eu queria, e mesmo assim, acreditando que ele faria um favor para a melhor amiga de sua prima... eu insisti. E agora tinha que encarar o olhar analítico, frio e sem emoção de Eros Ruggiero.
Cansada de esperar por uma resposta, eu suspirei e tentei dar um sorriso, colocando uma mecha do meu cabelo ressecado atrás da orelha.
—E então? Vai me ajudar?
Ele direcionou novamente os olhos para os papeis em sua mão e precisei controlar minha vontade de estapear o belo rosto. Eu estava aqui, com aqueles cabelos já sem a tintura que usei durante anos, com os fios ressecados e com trinta quilos a mais do que deveria ser meu peso e aquele homem, que era versão viva de algum Deus grego sequer demonstrava empatia. Que porra! Qual era o problema dele afinal? Eu abri novamente a boca para perguntar, mas ele finalmente agiu, jogando os papeis sobre a mesa e me encarando.
—Não.
Eu senti a raiva borbulhar, subindo pelo meu estômago até explodir e eu me coloquei de pé, olhando para ele com fúria.
—Por que me fez perder tanto tempo assim? Estava escrito na sua cara que não ia aceitar.
—Eu não vou embarcar numa furada, senhora Hayden.
Eu engoli a saliva amarga, ao mesmo tempo sentindo meus olhos marejados. Ok... eu sabia que noventa e cinco quilos para uma pessoa da minha estatura era muita coisa, mas ele precisava se referir a mim como uma barca furada? Sem dizer nada, peguei minha bolsa e girei, louca para sair daquela sala e nunca mais ter que olhar na cara daquele homem.
—Espere. Não era essa a atitude que esperava de você.
Eu girei novamente e o vi agora de pé e se aproximando de mim. Franzi a testa sem entender o que ele quis dizer com aquelas palavras.
—E esperava o que depois de dizer que sou uma furada?
—Eu disse que não vou embarcar numa furada. E eu digo isso simplesmente porque os motivos que a senhora alegou não me agradam.
—O quê?
—Sente-se novamente, por favor.
Eu obedeci, quase mecanicamente, agora um pouco atordoada pela súbita gentileza dele. Novamente aqueles incríveis olhos perscrutaram todo meu rosto antes de começar a falar.
—Eu teria o maior prazer em ajudar se a senhora tivesse me dito por exemplo, que quer emagrecer porque está preocupada com sua saúde. Porque está preocupada com a quantidade de remédios que toma para controlar sua pressão, porque está preocupada com a possibilidade de desenvolver alguma doença por causa do excesso de peso. E por que não? Porque não está satisfeita com seu corpo, porque quer recuperar sua autoestima.
—Mas é isso.
—Não. —Ele negou balançando a cabeça. — A senhora quer eliminar os quilos a mais, mas não pensando em seu bem-estar, em sua autoestima. Não está pensando na senhora e sim em agradar ao seu marido que a trocou por outra.
Eu curvei um pouco meu corpo para frente, sentindo a dor daquelas palavras. Mas me recuperei rápido e o encarei com ódio.
— E qual o problema em querer reconquistar meu marido?
—Onde fica o amor nessa história? —Ele se inclinou um pouco para frente, ficando com o rosto perfeito bem perto do meu. — Ele alguma vez a incentivou a mudar? A se cuidar e voltar a ser o que era?
Eu me calei, engolindo seco.
—Diga.
Ele insistiu e eu apenas neguei, ouvindo o suspiro dele. Então eu senti a mão quente segurar meu queixo e fazendo com que eu erguesse a cabeça.
— Se tiver que fazer, faça por você e não por ele ou por qualquer outra pessoa. Ninguém tem que mudar para conquistar alguém. Se for preciso emagrecer, pintar o cabelo, mudar completamente o visual ou até mesmo sua essência por causa de alguém, isso não pode ser amor.
Ele se levantou e esticou a mão para mim, que peguei sem ao menos perceber. Eu o segui por uma das duas portas que estavam fechadas e percebi que era uma sala com uma mesa típica para exame e vários outros aparelhos, inclusive uma esteira. Mas ele me fez parar em frente a um espelho de corpo inteiro... e eu imediatamente fechei meus olhos.
—Não fuja. Abra os olhos e me diga o que vê.
Eu obedeci e antes que eu percebesse as palavras escaparam sem controle.
—Vejo uma mulher muito mais velha que meus vinte e sete anos, com os cabelos que estão bem longe de sua cor natural, roupas estrategicamente escolhidas para esconderem a gordura, pele sem vida...
—Ok... Você me disse sobre sua aparência, seu exterior. Agora eu quero enxergar dentro de você através de suas palavras.
Eu fiquei um longo tempo encarando o espelho, tentando enxergar dentro de mim mesma. Quando por fim consegui, eu não me via no espelho pois as lágrimas embaçavam minha visão.
—Perdida. É assim que estou.
—Estou ouvindo você. Continue.
Eu pensei na faculdade, coisa que há tempos não pensava e a primeira palavra saltou de meus lábios.
—Frustração.
E depois disso, outras tantas vieram. Algumas que eu nem imaginei que pudessem estar ali dentro de mim.
—Acomodação. Apatia. Vergonha. Depressão. Falta... —Eu solucei. — Falta de amor próprio.
Horrorizada com o que eu via, escondi meu rosto entre as mãos, chorando sem controle.
—Meu Deus! Eu odeio isso...
Eu não sei se ele sentiu pena de mim ou se apenas decidiu mesmo me ajudar. Eu posso ter visto meus defeitos, meus erros, mas não significa que tinha mudado meu modo de pensar. Eu queria voltar a ser a Summer de antes para reconquistar meu marido.
—Eu vou ajuda-la, senhora Hayden. Mas eu devo avisá-la de que não costumo pegar leve. Não vai ser fácil.
Eu ergui a cabeça e passei as mãos secando minhas lágrimas.
—Eu sou forte.
Afirmei e tive a impressão de ver os olhos dele brilharem. Mesmo se eu não fosse forte... eu me tornaria. Tudo por amor ao meu marido, ao meu filho... à minha família.
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Meu inferno particular - DEGUSTAÇÃO
ChickLitSeis anos de vida conjugal. Seis anos dedicados ao marido Warren Hayden e ao filho Reece. Summer sempre se preocupou em ser a dedicada, amorosa e perfeita esposa e mãe. Seus planos de ingressar em uma faculdade foram adiados uma, duas...três vezes a...