Segunda fase - Meu paraíso particular - Capítulo 8

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 Exaustão. Essa talvez fosse a palavra que mais expressasse meu atual estado. Exausta mentalmente. Fisicamente nem tanto. Entretanto, eu não me deixava abater. Ou melhor, eu não podia me permitir tal luxo, já que Reece precisava de mim. E eu não estou reclamando. Absolutamente não. Apesar de todo o cansaço dos últimos meses, eu não podia reclamar de nada. Tinha o apoio de Eros, dos meus pais e amigos. Porém o principal era...eu tinha o apoio de Reece. Parece até estranho dizer que eu tenho o apoio dele, uma vez que quem precisava de todo o apoio e cuidado era ele. Entretanto, meu filho vinha mostrando uma maturidade e paciência um tanto assustadoras para uma criança da sua idade.

É difícil imaginar uma criança com toda sua vitalidade tendo que aceitar todas restrições impostas pela doença, e ainda assim dizer com toda sua doçura e inocência, como Reece me disse várias vezes: Está tudo bem, mamãe. O importante é que eu estou com vocês e estão cuidando de mim. Vai dar tudo certo.

Confesso que chorei nesse dia e só pude agradecer a Deus por ter me concedido a graça de ter um filho tão incrível como ele.

Ha exatamente um mês eu estive diante daquele infeliz que se dizia pai de Reece para contar a ele sobre a doença do filho. E a partir daquele dia eu evitei qualquer pensamento que me levasse àquele traste. Aquela pessoa horrível e odiosa não merecia ser lembrada por mim e muito menos por meu filho.

Foi até difícil para algumas pessoas acreditarem quando souberam das atitudes de Warren. Ou melhor dizendo, a falta de atitude dele. Ele sequer deu um telefonema ou fez suas famosas visitas inesperadas e indesejadas. Era como se ele nunca tivesse sido informado sobre a doença do filho. Eu também não contei ao Reece que fui ver o pai. Melhor assim.

Eu só queria agora cuidar bem, e muito bem do meu filho. E era por isso que eu jamais ia reclamar dessa minha exaustão mental. Era válido. No final do dia eu conseguia deitar a cabeça em paz no travesseiro, sabendo que eu estava fazendo tudo o que estava ao meu alcance para que ele vivesse bem, apesar da doença.

E sei que estava conseguindo. A prova disso era ver a alegria estampada no rosto dele enquanto brincava sob a sombra no jardim, rodeado por nossos amigos. Meus pais, Bella e Fiorella, Cilla, Margareth e Theo além do Ryan, coleguinha de escola de Reece.

Eros e eu resolvemos fazer uma pequena reunião e convidar nossos amigos, mas nada de especial. Ou talvez fosse sim, muito especial. Estávamos nos reunindo com as pessoas que nos apoiaram em nossos dias mais difíceis. Estamos sobrevivendo a eles, então podemos dizer que sim, era um momento especial.

–Você parece estar a quilômetros de distância daqui.

De pé, em frente a pia da cozinha, eu apenas inclinei a cabeça para trás, repousando-a no peito de Eros que abraçou minha cintura, deixando um beijo carinhoso em meu pescoço.

–Pensando em tudo o que nos aconteceu nos últimos meses.

–Espero que não esteja pensando naquela coisa que nem devemos nomear. Falar no nome dele é o mesmo que invocar o diabo.

Eu ri das palavras de Eros, afinal ultimamente ele usava quase os mesmos termos que eu para me referir à Warren.

–Não especificamente. Claro que meu pensamento resvalou nele e você sabe o motivo. Mas na verdade estou pensando em como eu estou cansada mentalmente. E sei que você também está. Mas nem por um segundo pense que estou reclamando. Por meu filho eu faria tudo e muito mais.

–Sei disso. E nem ousei pensar que está reclamando. E percebo seu cansaço. Aliás é por isso que venho evitando tocar em um assunto com você. Eu sei que, apesar de você já ter demonstrado sua força várias vezes, esse não é o momento de se aventurar em nada. Precisamos de um pouco de tranquilidade para dar toda nossa atenção ao Reece. Às vezes penso que ainda não estamos fazendo o suficiente.

Meu inferno particular - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora