❌ Último Ato de Sanidade

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Aparentava ser só mais um dia comum ensolarado.
Em um parque onde se assemelhava ambiente.
Então de repente, o tempo começou a ficar nublado.
E no meio das pessoas, dois corpos se observavam frente à frente.
Parecia que eles por anos já se conheciam.
Mas estavam fixos sem ao menos dizer uma palavra.
O contraste das sombras das nuvens os distorciam.
E deixar soltar uma frase parecia ser uma decisão fraca.

Os pássaros voando para longe esvaíram a visão.
Voltando para eles, que do nada, sentados agora estavam.
Próximos um do outro no banco entre eles, havia um pequeno vão.
Algo para quebrar o silêncio era o que ambos aguardavam.
Então ele olhou de lado e observou nela algo em suas mãos.
Um livro, um caderno? De capa vermelha, era o que parecia.
Ele sorriu levemente e disse algumas palavras com convicção.
E as pessoas ao redor, o vento, nada mais se ouvia.

Ela observou atentamente o rosto dele, mas tudo começou a escurecer.
E ele quase não enxergava mais, então, algo arrastando até si, foi só o que pôde sentir.
De olhos fechados, o rosto dela em frente ao seu, é somente o que ele vê.
Queria poder sentir essa parte, mas nada mais conseguia distinguir.
Tudo então depois disso se transformou em escuridão.
Ele abriu os olhos e no escuro percebeu que estava sozinho.
Todos que o cercavam, e inclusive ela, de repente sumiram.
E ele nada demonstrou, quando devia ficar com medo e entristecido.

Parece que ele sabia desde o início que o fim não seria outro.
E o caderno jogado no chão não fazia nenhuma diferença.
Após isso, uma série de pesadelos ocorreu sem o menor esforço.
Seu subconsciente o queria punir por desejar aquela presença.
E antes de se levantar do banco e perder seu último ato de sanidade.
Ele escutou o bipe do monitor cardíaco chegar à zero.
E o rosto dela jamais voltaria a ver, um sofrimento pela eternidade.
Essa dor de não poder dizer "adeus", é pior até que o inferno.

Exílio • 2017

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