cinco

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   O relógio me alerta: nove da manhã. Ninguém deve estar acordado e nem vão acordar tão cedo. Decido voltar a dormir já que meu corpo dolorido pede por isso mas não fico muito na cama. Meio dia eu me levanto em um estado completamente deplorável que chega a dar dó. Minha garganta dói e a área ao redor do meu nariz está congestionada. Pular na piscina não foi o problema e sim voltar pra casa com o ar condicionado. Fico surpresa com o quão rápido a gripe se instalou em mim, mas fico feliz quando me lembro que esse é um bom motivo pra ficar bem aqui, no sossêgo do meu quarto o dia todo. Ouço a voz de Neox do outro lado assim que atendo o telefone.

- Você ainda tá viva? Bati na sua porta mil vezes e nada.

- Desculpa, tô gripada, toda destruída. Vou começar a trabalhar agora. - Bocejo enquanto respondo, ouvindo vozes e risadas do outro lado da linha.

- E por acaso vai passar o dia aí dentro? - Dessa vez é Eagle quem responde, irônico que só ele. Devo estar no viva voz.

- Pretendo. Tô com o seu notebook aqui, vou dar uma olhada nos e-mails. - Me levanto, gemendo de dor, meu corpo está moído. - Não quero passar gripe pra vocês então é melhor eu ficar aqui.

- Quer que a gente compre remédios? - Eagle volta a falar, aparentemente preocupado.

- Não, tudo bem. - Retruco, procurando pelos comprimidos na caixa. - Eu tenho uma mini farmácia na mochila, fica a dica.

- Certo, vamos começar a gravar aqui. Se precisar é só ligar. - Neox me diz.

- Vou ficar bem, obrigada Neox. - Desligamos o telefone e eu tomo meu remédio com um copo de água da noite passada.

   Decido me concentrar no trabalho e começo a ler alguns e-mails, anotando tudo o que tem de ser passado para os meninos depois. Escolho uma playlist animada do Spotify e me perco no momento. São tantas coisas pra resolver, tantas coisas pra ler que eu me sinto realmente útil ajudando meus amigos. Só tenho medo de como vai ser quando a faculdade começar daqui a duas semanas. Agora as coisas são tranquilas, eu basicamente fico em casa o dia todo lendo comentários, ajudando a gravar vídeos ou participando deles. Mas quando minha rotina mudar aí sim vou entender o que é ser uma mulher de negócios. Toda essa história me preocupa porque não quero ter que desistir de nada, no começo eu tinha em mente que era tudo temporário, todo esse lance de ajudar os meninos da casa. Tecnicamente eu seria mais ajudada do que eles. Eu seria mais beneficiada porque teria uma casa, um emprego e companias pra me ajudar a me virar aqui em Orlando, já os meninos da casa só teriam uma ajudinha por algum tempo, alguém pra tirar um pouco o peso das suas costas. Acho que tudo o que eles fizeram por mim nos últimos tempos são motivos mais do que suficientes pra continuar aqui com eles.

- Opa! Haha - Ouço o bordão de IShow vindo do quintal, não muito longe da porta do meu quarto que sai para fora. Ele começa a conversar com seus inscritos animado e sendo o IShow com que todos já estão mais do que acostumados. Ele brinca e faz vozes engraçadas, chamando também a minha atenção e me fazendo ir até a porta de vidro, abrir uma fresta da cortina e observá-lo por um pouco.

   Não deixei que os acontecimentos da noite passada tirassem meu foco do trabalho, mas agora vendo o motivo da minha preocupação, isso se torna meio impossível. IShow estava trabalhando bem no meio da madrugada como sempre faz, e não devia. O modo como ele se aproximou, como quem só queria dizer um oi, me fez querer ser simpática, mas minha simpatia o trouxe para perto de mim. Agora, o vendo de perto, me sinto tentada a ir até lá, mas o que realmente me faz me aproximar dele com pressa e sentindo cada músculo meu reclamar é outra coisa.

- Victor, cuidado! - Grito, o mais alto que minha voz rouca permite. Ele para de falar e me encara, surpreso e desentendido. Então IShow vê pra onde meu dedo aponta e dá um salto para trás, tão assustado quanto eu. - Ela tava pronta pra dar o bote.

The Mess I Made | IShowOnde histórias criam vida. Descubra agora