8.

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Acordei sem saber muito bem se o que tinha acontecido não tinha passado de um sonho, o meu cérebro adorava pregar-me partidas a respeito do André.
Assim que olhei para o relógio, vi que este marcava as 10 horas da manhã o que significava que estava meia hora atrasada para a minha primeira aula. Levantei-me sobressaltada e vesti-me o mais rapidamente que pude.

Quando desci as escadas, ainda a acabar de calçar os meus ténis, quase tropecei ao encontrar um André visivelmente ressacado e em tronco nu por trás do meu balcão.

-Bom dia, Ana. -sorriu de modo provocador ao ver-me embasbacada a olhar para ele. Cristo, que visão! -Espero que não te importes, mas a minha camisa cheirava imenso a álcool e tabaco o que não estava a ajudar a minha indisposição. -explicou e suspeitei que os seus verdadeiros motivos iam muito para além disso.

Apeteceu-me dizer-lhe que por mim até podia tirar as calças. Foco, Ana. Foco.

-Bom dia! Não podes beber assim, André. O que é que te deu? -perguntei tentando recompor-me e acabei de descer as escadas.

-Eu só... -hesitou. -Eu sei que foi totalmente irresponsável, não era a minha intenção ficar naquele estado. Acho que só queria beber para te esquecer mas acabei por vir parar a tua porta. Por isso, missão falhada. -sorriu embaraçado.

-Estou muito atrasada para a aula! -disse tentando mudar o assunto, não sabia o que lhe responder. Esta faceta direta e sem filtros do André era uma novidade para mim. Ele sempre foi muito reservado quanto ao que sentia e a tudo o que se passava dentro da sua mente. -Tens comprimidos para a dor de cabeça na terceira gaveta. -indiquei.

-Fica. -pediu e antes que eu pudesse abrir a boca continuou -Por favor, Ana. Já perdeste grande parte da aula, podias ficar aqui e tomávamos o pequeno almoço juntos. Posso fazer panquecas! -disse e não pude deixar de me rir com a sua última frase.

-Tu a cozinhar? Que bicho te mordeu, André Miguel? -perguntei divertida e vi-o fingir-se de ofendido.

-Não acredito que estás a duvidar dos meus dotes culinários! Bem, agora é uma daquelas alturas da vida em que tens de tomar uma decisão importante. -falou tentando manter-se sério. -Podes sair por aquela porta, ir para a aula e ficar sem saber se eu realmente sei cozinhar ou podes ficar aqui e dentro de 20 minutos saborear as melhores panquecas que alguma vez existiram.

-Não sejas tão modesto! -disse mostrando-lhe a língua e vi-o sorrir com ternura, aproximando-se.

-Eu tinha tantas saudades tuas. -pegou-me na mão e beijou-a. -Tu nem imaginas. -sussurrou e antes de fazer algo que me arrependesse, levantei-me e comecei a juntar alguns utensílios que o chefe Silva ia precisar.

-Estás a espera de que? -falei olhando para ele. -Não me digas que as melhores panquecas que alguma vez existiram se fazem sozinhas? -questionei e pude vê-lo gargalhar, ele era um homem tão bonito.

Sentei-me perto da bancada e fiquei simplesmente a observá-lo a bater os ovos, leite e farinha desajeitadamente.

Ali estava ele, sem camisa e com aquela barba de 3 dias ligeiramente desalinhada que o deixava tão irresistível. Neste momento, conseguia ver-me a fazer muitas coisas com ele e nenhuma delas incluía comer panquecas.

Eu sabia que aquilo não estava certo. Não era correto permitir que ele entrasse tão facilmente na minha vida depois de ter prometido a mim mesma que jamais o faria. Mas o moreno seria sempre a minha maior fraqueza. São tantos os "e se" que pairam na minha cabeça. E se ele me magoar outra vez? E mais importante que isso: e se ele realmente mudou?

-Voilá! -disse apresentando-me o resultado final do seu trabalho. Conseguia ver o seu olhar atento pousado sobre mim enquanto dava uma garfada nas suas panquecas.

Game On | André SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora