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Dirigimo-nos até ao exterior, o André seguia na minha frente e era perceptível que todo o seu corpo se encontrava tenso. O moreno nunca foi o tipo de rapaz que se envolve em lutas, procurava sempre resolver tudo através do diálogo e por muito que certas situações o transtornassem tentava sempre mostrar-se paciente. Uma característica que adquiriu devido à sua profissão, enquanto jogador era obrigado a manter a calma e a ignorar muitas provocações de equipas adversárias.

-Onde queres falar? - perguntou ríspido sem sequer olhar para mim.

-Aqui! -disse constatando que não se encontrava ninguém na parte de trás do bar. -Porque é que fizeste aquilo, André? - questionei sem rodeios, não conseguia controlar a raiva que sentia.

-Ele estava-te a beijar, caralho! - respondeu, como se fosse algo óbvio, num tom de voz elevado.

-E o que é que tu tens a ver com isso? -interroguei no mesmo tom.

-Tu querias que ele te beijasse? -perguntou ignorando o que lhe havia dito e olhou-me com repulsa. -Quem é aquele merdas sequer? 

-Se tivesses chegado mais cedo percebias que quem o beijou fui eu e não interessa quem ele é! Há muito que perdeste o direito de te intrometer na minha vida. Nós não somos nada, André! - respondi e consegui vê-lo contrair-se com as minha palavras.

-Já percebi tudo! -disse rindo-se, fiquei a olhar para ele sem perceber nada. -Não passou de uma vingança não foi?

-Vingança? -questionei confusa.

-Sim, mas infelizmente eu apanhei-te então o teu plano ficou a meio! -falou passando as mão pelo cabelo num gesto nervoso.

-Que raio estás para aí a dizer? - interroguei já impaciente e completamente desorientada.

-Eu bem estranhei que me tivesses deixado ficar em tua casa hoje de manhã. -falou sem conseguir controlar novamente o seu sorriso que carregava sarcasmo. -Agora tudo faz sentido! Ias deixar-me entrar novamente na tua vida para mais tarde me revelares que tinhas outro, não era? Não passou de uma estúpida vingança, apenas para me magoar de volta. 

-Tu realmente nunca me conheceste, André. Sê feliz e, por favor, nunca mais me voltes a procurar. -disse tentando esconder o quanto aquilo que ele tinha dito me tinha magoado.

-Com todo o gosto. -respondeu frio e ali estava ele, o André que tinha terminado comigo há 8 meses e que sempre mostrou não ter qualquer tipo de consideração por mim. O André que tinha partido o meu coração.

Virei costas e dirigi até casa, quando cheguei apenas desabei. Chorei por ele e, principalmente, por ser parva a ponto de lhe dar o poder de me abalar desta forma. 

Estava cansada de toda a inconsistência e instabilidade que o moreno trazia para a minha vida. Tinham passado uns meros dias desde que o reencontrei e ele conseguiu desorganizar tudo o que eu já tinha construído sem ele. E o pior de tudo é que eu preferia todo este caos do que uma vida sem ele. O nosso passado e tudo o que o jogador tinha significado para mim era impossível de esquecer, porém tentar apaga-lo de novo era a única opção que me restava.


Na manhã seguinte, a primeira coisa que fiz ao chegar à faculdade foi procurar por Francisco. Apesar de não conseguir controlar o que o André fazia, não conseguia deixar de me sentir culpada e sentia que lhe devia um pedido de desculpas.

Avistei-o sentado numa das mesas da sala comum, estava no computador e parecia concentrado, pois ainda não tinha olhado na minha direcção. As marcas que André lhe tinha deixado eram bem visíveis na sua face, principalmente no seu lábio inferior inchado.  

-Francisco? -chamei receosa assim que cheguei à sua mesa e vi-o sorrir o que me fez relaxar. -Como é que estás? Eu queria pedir-te desculpa por ontem. -falei apressadamente.

-Não tens que pedir desculpa, não tens culpa, Ana. Eu estou bem e se tivesse que levar um murro cada vez que te beijasse eu acho que ia aceitar na mesma. -disse e senti-me corar.

-Eu não queria que te tivesses magoado. Desculpa por não ter feito mais, mas tudo aquilo apanhou-me de surpresa. -expliquei, tentando ignorar aquilo que o loiro me tinha dito.

-Sabes o que me magoa realmente? Saber que estás presa a essa relação tóxica e que não consegues dar uma oportunidade a ti própria de ser feliz. -falou e senti-me novamente envergonhada, os seus olhos claros pareciam tentar ler cada detalhe meu como se fosse um mistério. -Tu estás com ele ou não?

-Não, não estou, Francisco. Mas não é assim tão simples. -disse desviando o meu olhar do seu.

-Mas devia ser simples, Ana. Não entendes isso? Eu sei que não me deves justificações nenhumas, mas todos conseguem ver que ele não é a pessoa certa para ti. Tudo o que custe a tua paz, não vale a pena. -afirmou e senti-me triste, triste por não ser capaz de olhar de outra maneira para o Francisco, eu sabia que ele era uma excelente pessoa, mas estava demasiada presa ao André para conseguir ver o resto. 

-Eu não sei o que te dizer, Francisco. -disse sincera.

-Não tens de me dizer nada, Ana. Só quero que penses bem sobre o assunto. -falou compreensivo. -Para além disso, hoje vai haver um concerto de jazz num café na baixa e gostava que fosses comigo. Não precisas de me responder agora, tens até às sete para me dar uma resposta. -convidou abrindo o seu sorriso perfeitamente alinhado. 

-Não sou a maior fã de jazz--. -confessei sorrindo de volta.

-Então é mais uma das coisas às quais devias dar uma oportunidade. -falou e dei por mim a perguntar-me se este rapaz alguma vez ficava sem resposta.

-Então até logo, Francisco. -respondi e pude ver que ficou surpreendido.

-Isso é um sim? -interrogou e sorri acenando a cabeça para confirmar. -Então até logo, Ana. -despediu-se sorrindo ainda surpreendido.

O resto da manhã foi passado nas aulas. Ainda tinha dúvidas se tinha sido correto aceitar o convite do Francisco, mas não ia voltar com a minha palavra atrás. 

As suas palavras ecoavam na minha cabeça: "Tudo o que custe a tua paz, não vale a pena."  Contudo, como é que se explica a alguém que o amor que sinto pelo André, não deixando de ser aquilo que mais guerras interiores me trazia, era também o meu maior ponto de paz?



Olá, olá

Desculpem a demora para actualizar a história, prometo que amanhã vou tentar publicar o próximo capítulo sem falta. Muito obrigada pelas 300 visualizações, estou realmente contente por ver resultados.

Votem e comentem. Espero que gostem, obrigada! 😘😘

Beijinhos


Game On | André SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora