XIV

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  XIV 


Aline

Uma das coisas que eu mais odeio no mundo, é deixar-me agir pela emoção ao invés da razão, agora eu sei perfeitamente que não deveria ter me intrometido na vida alheia.

Assim que cheguei ao quarto de Enrico, a porta estava entreaberta, dei dois toques, mas ele extremamente surtado não pareceu me ouvir, então eu entrei.

Tudo ali estava um lixo.

A cama estava desarrumada, tinha cacos de vidro espalhados por todo o canto e ele estava de costas.

- Vai embora. - ele gritou, aparentemente sentindo minha presença.

- Enrico, nós podemos conversar? - perguntei.

- Não, não podemos. Vai embora e leve sua filha. - ele diz ainda sem me olhar.

Respiro fundo.

- Você não pode se maltratar desta forma.

- Quem é você para dizer o que eu posso ou não fazer?

Após dizer isso, ele se vira de frente pra mim e noto que seus olhos estão inchados aparentemente de tanto chorar.

- Eu me importo.

- Não preciso que se importe, preciso que você vá embora e leve Liz.

- Você tem que parar de se afundar, não percebe que todos sofrem o vendo deste jeito? Suas irmãs e tua mãe o querem de volta.

Ele riu.

- Não tem como terem-me de volta, elas que se acostumem comigo desta forma. - disse friamente.

- Eu sei que você sofre. - digo.

- VAI EMBORA. - ele grita.

Eu realmente não deveria ter perdido o meu tempo, naquele momento eu me sentia ainda mais tola por insistir em manter uma conversa com alguém que não faz questão alguma de ficar bem.

Sem respondê-lo e na verdade, apenas obedecendo-o, giro em meus calcanhares e vou em direção a porta.

Por um momento achei que ele pediria desculpas pela forma rude na qual me tratou, mas nem isso, ele não parecia arrependido de nada.

Assim que saí, deixei a porta aberta e ele a bateu com força fazendo com que eu tremesse por dentro de susto.

- Como foi? - Catarina pergunta com expectativa.

- Horrível. É impossível conversar com teu irmão quando ele está em momento de surto. - respondi seriamente.

Ela abaixa a cabeça.

- Talvez nunca volte a ser o que era antes.

- Ele disse que vocês precisam se acostumar com o novo jeito dele.

- Não nos faz feliz a forma que ele tem vivido. - ela murmura com os olhos cheios de lágrimas.

- É preciso ter paciência Catarina, sei que é difícil, mas entenda que pra ele, vê-lo daquela forma é complicado também. - defendo.

- Pode ser. - disse dando-me de ombros.

Terminei sua unha em modo automático, os barulhos de coisas quebrando cessaram-se rapidamente, tanto que, Liz até acabou dormindo.

ENRICOOnde histórias criam vida. Descubra agora