CAPÍTULO 3

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--Ah, eu não sei! Tenho o pressentimento de que você é uma ótima pessoa, apesar de rir da piada idiota que o seu namorado fez sobre mim - Ele parecia chateado.  

--Me desculpe... - Falo lembrando do quão idiota o meu namorado pode ser -  Não coloque muita fé em mim não! - Falo com um sorriso forçado tentando amenizar a situação.

Ele sorri também, mas não está muito contente. 

Saio de perto dele e vou caminhando para a entrada do estacionamento afim de ir de uma vez por todas pra casa.

--Ei - Me viro assim que o novato me grita. Ele vem correndo em minha direção, quando chega próximo à mim, coloca a mão nos joelhos se curvando, mostrando que estava cansado. Qual é, ele correu apenas 2 metros! - Não quer que eu lhe acompanhe até em casa?

Eu poderia aceitar a sua oferta, mas eu definitivamente não estava afim de mais encrenca com o Aaron.

--Agradeço, mas não será necessário - Esboço um sorrisinho de canto de boca e continuo o meu caminho.

--Eu insisto - Ele diz, já ao meu lado.

Reviro os olhos e me conformo, já que sabia que ele não ia desistir tão fácil.

--Por que ele te trata desse jeito? - O novato pergunta após vários minutos de um silêncio constrangedor - Quer dizer, não precisa falar se não quiser - Olho para ele por uns segundos e me pergunto se posso confiar nele. Ele tem um rosto angelical e delicado e suas atitudes são verdadeiras... Talvez eu possa desabafar um pouco com ele, falando apenas o extremo necessário.

--Bom, eu não sei direito.. - Ele me olha com um semblante confuso - An.. Ele é assim com todo mundo sabe? É o jeito dele.

--Mas você pretende levar esse relacionamento muito adiante? - O olho de canto de olho. Mas que pergunta era essa? É óbvio que eu quero! Quero me casar e construir uma família com ele.

--Claro.

--E você acha que ele vai mudar? - Ele chuta uma pedrinha do chão várias vezes, e de repente essa pedra se tornou muito mais interessante do que essa conversa.

--Sim, eu acho. Todos mudam não é? - Aperto as alças da minha mochila de costas como se a minha vida dependesse disso. 

Ele se vira pra mim, me encara por longos segundos e por fim suspira pesado.

--Olha, não vou te dizer o que fazer, o rumo que o relacionamento de vocês vai tomar e eu definitivamente não vou te julgar, até porque esse não é o meu papel e nem me diz respeito - Abro levemente a boca chocada com o que ele acabou de me falar. Todas as pessoas que sabiam da minha situação me julgavam e me xingavam de vários nomes, entre eles idiota, estúpida e burra, além da frase mais clichê "você deve gostar de apanhar, só pode". Ele foi o único que me entendeu - Eu sei que não é da minha conta, porém gostaria que você conversasse com ele sobre as agressões, isso é inaceitável! 

--Eu sei... eu não gosto de apanhar, mas você já amou tanto alguém a ponto de relevar qualquer mancada que essa pessoa dá?  

--Não

--Então você não sabe o que eu sinto. Eu amo o Aaron, por isso tenho fé na sua mudança.

A conversa terminou dando lugar novamente ao silêncio constrangedor. De longe vejo a minha casa e agradeço mentalmente por finalmente termos chegado em minha casa.    

--A minha casa é ali... Muito obrigado pela companhia e pela conversa, eu realmente precisava disso.

--Não precisa agradecer, mas me prometa que vocês terão aquela conversa! - Ele arregala um pouco os olhos quando diz a sua pequena e sutil bronca. Nesses míseros segundos me pergunto... Como, em tão pouco tempo, consegui estabelecer com ele uma intimidade tão grande a ponto de desabafar sobre os meus problemas? Decido pensar nessa pergunta à noite antes de dormir, que é o momento perfeito para pensar sobre os problemas e suas demais soluções. 

--Prometo - Curvo os meus lábios levemente, lhe dando um sorriso singelo de agradecimento. 

--Olá, tudo bem? Eu sou o Lucca Evans e você é..? - Ele estende a sua mão pra mim que eu reajo franzindo as sobrancelhas. - Vamos fingir que eu não te conheci no estacionamento da escola após você ter passado uma vergonha gigante na frente da escola toda - Ele parece aliviado após ouvir a gargalhada que eu dei ao fim de sua frase.

--Ah, ok.. Olá Lucca Evans prazer em conhecê-lo, eu sou a Marjorie Garcia - Pego a mão dele e nós gargalhamos juntos após o cumprimento. 

...

De longe vejo o Lucca colocando os  materiais no seu armário, não hesito em acenar pra ele que acena de volta.

--Que merda é essa? - Aaron está bravo. O que aconteceu com o "Eu não posso gostar demais da minha garota?" de dias atrás? Além de agressivo ele é bipolar também?

--Como assim?

--Você se insinuando pro novato.. Ta dando pra ele é? - Arregalo os olhos e meu queixo cai. Demoro um pouco pra raciocinar, mas sim, ele estava mesmo falando aquilo!

Eu iria me casar e construir uma família com esse cara?

--O quê? Claro que não! Porque acha isso, eu amo você.

--Ama nada, só está comigo pela popularidade, conheço o seu tipinho - Ele se referia a mim com repulsa. O QUE ACONTECEU COM O MEU NAMORADO?

--Aaron para com isso, eu tenho uma coisa bem séria pra conversar com você depois! 

--Eu quero terminar, portanto conversar com você não está na minha lista de prioridades! Passar bem - Ele vira violentamente pra se afastar, me deixando sem fala. A minha primeira reação foi puxar o seu braço... tentativa sem sucesso - Me solta praga - Esse foi o início do meu caos! Quando Aaron puxou o braço dele das minhas mãos, o puxão foi tão forte que me fez desequilibrar e cair de vez no chão. O chão é o meu amigo de todos os dias.

 Maldito salto alto! Se não fosse por ele, talvez eu estivesse de pé e sem dores. 

Meu corpo inteiro doía e eu estava sem fôlego, Aaron já estava longe, provavelmente fugindo da responsabilidade, como o covarde que ele sempre foi. 

--Marjorie - Alguém me sacudia forte, eu não tinha forças para abrir os olhos para saber quem era - MARJORIE! 

--Ta..a doen...do - Eu me lembro de ter sido as últimas palavras que eu falei antes de apagar completamente.

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