Isac

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Isac era um exemplar perfeito da intersecção de tudo o que é gay com tudo o que é pervertido. Preferencialmente ele era homossexual mas transava com qualquer coisa que se movesse (e inclusive com algumas coisas que não se moviam, como atesta o infame caso do abajur). Tinha "se encontrado" aos 18 e havia tido as primeiras experiências desagradáveis com mulheres antes disso. Depois que foi transformado, Isac descobriu que só gostava de sangue masculino, então decidiu vestir a camisa (ou tirá-la, quando for o caso) e sair do armário.

A liberdade proporcionada por poderes sobrenaturais era implacável. Ao contrário de Prometéa, Isac já era arrombado antes de ser transformado, então ele não tinha problemas com sua ex-virgindade anal. Atualmente ele vivia em um apartamento de luxo que dividia com seu senhor. Os dois dividem suas proclividades concupiscentes, que é uma forma eloquente de dizer que são basicamente duas putas, exceto na parte de receberem dinheiro e trabalharem duro como pessoas honestas. Praticamente o mesmo homem não pisava duas vezes naquele apartamento. Isac outro dia preocupara-se de talvez estar esgotando o estoque de homens homossexuais pegáveis de João Pessoa.

Isac revirou-se na cama e abriu os olhos. Estava com o cú ardendo. Aparentemente tivera uma noite agitada, embora lembrasse dela apenas em flashs ocasionais de memória. Haviam usado drogas pesadas, provavelmente daquelas que oficialmente ainda nem tinham sido inventadas. Seus amiguinhos provavelmente tinham saído durante o dia, incapazes de acordá-lo do sono de pedra que tomava conta dos vampiros durante o dia, provavelmente saíram ainda em dúvida se ele estava apagado ou se estava morot. Ele riu ao pensar que ambas as possibilidades estavam igualmente certas, depois foi ao banheiro tomar banho e depilar o saco.

Extremamente vaidoso e um diletante da estética, Isac tinha tatuagens por todo o corpo. Selos ocultistas, desenhos bonitos, signos satanistas e até mesmo algumas coisas que ele nem se lembrava o que eram, mas que indiscutivelmente colaboravam para a estética do conjunto. Também vestia uma maquiagem bem evidente e depilava todos os pêlos do corpo, com exceção (na maioria das vezes) das sobrancelhas. Batom preto e sombra de olho esfumaçada eram apenas o mais leve em seu arsenal. Não precisava malhar para manter o corpo em boa forma, visto que tinha sido transformado no auge de sua forma física.

Isac saiu do banho e olhou para o suave brilho da Lua encoberta pelas nuvens de chuva. Tomou uma taça e encheu com vinho, depois estirou a mão que segurava a taça cheia para a janela e disse, em voz alta.

-- A tu, ó mãe sombria! Matriarca de todos nós! -- E depois ficou esperando um trovão que nunca veio dar o efeito final. Ao invés disso, ouviu-se o chiar arisco de um gato, à distância, e um menino pequeno chorando no andar de baixo. Isac não se deixou chatear e bebeu o vinho com vigor.

Ele sempre fora assim, meio teatral demais. Sempre tivera uma queda por teatro e poesia. Tentou participar de várias peças escolares quando era criança, e mesmo de peças profissionais e artísticas a serviço de vários grupos e companhias de teatro quando era adolescente, mas nunca conseguiu abandonar suas manias de improvisar o texto de última hora e portanto acabara mal.

Na própria visão, Isac era um gênio. Ele se via como o único capaz de captar a verdadeira essência negra do mundo, os outros apenas achavam que ele era meio excêntrico (idiota é a palavra mais cabível). É uma história complicada e ele é bastante sensível a respeito disto tudo.

O vampiro encheu os bolsos com chocolates e vestiu suas roupas pretas andróginas e pesadas. Nunca se viu gótico mais hardcore que esse. Na visão geral parecia que eram as roupas que o estavam carregando, e não o contrário. O verdeiro protótipo extremo da moda gótico-satanista.

Isac desceu o elevador, para o andar da garagem onde um carro esporte de uma montadora suíça e com nome difícil, que provavelmente continham um número, o aguardava. Sim, ele tinha dinheiro, e dinheiro para caralho (porque era a única coisa que ele gostava, depois de sangue). Pilotando sua máquina fantástica, totalmente preta e decorada com todo tipo de crucifixo, pentagrama e o que mais fosse considerado "oculto" (inclusive um charuto autografado pelo Aleiseter Crowley), acelerando pela noite, fedendo a dinheiro e perfume, Isac correu ao encontro dos seus.

Uma História GóticaWhere stories live. Discover now