CAPÍTULO 2 | CULPA

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Júlia

Já faz uns dez minutos que ele saiu da minha sala, e eu ainda estou sentada na minha cadeira, olhando para a pasta que ele me entregou, sem ter coragem de abrir e ver se tudo o que ele falou é mesmo verdade, mesmo eu sabendo que é, porque ele jamais mentiria para mim, e esse foi o meu maior erro, não ter escutado ele, não ter confiado em tudo o que ele sempre me disse.

Meu peito dói tanto, que parece que meu coração vai parar a qualquer momento, se eu soubesse que voltar ao Brasil ia doer tanto assim, eu jamais teria voltado. Reabrir a ferida dessa dor pode não ter mais volta.

Escutar da boca dele que não há mais a possibilidade de existir um nós me machucou de uma forma que pensei que jamais machucaria, e saber que a culpa de todo o nosso relacionamento ter ido por água abaixo foi minha culpa não está ajudando.

Forço as minhas pernas a se levantarem e ir até a porta, viro a chave, impedindo de qualquer pessoa que queria me dar as boas vindas hoje não consiga e sigo em direção ao sofá que tem no canto da minha sala, me deito e choro quietinha, não quero que ninguém me escute, mas infelizmente meu coração não aguenta o tamanho da dor que está carregando neste momento e preciso me livrar disso.

Meus pensamentos começam a refletir meus últimos dois anos, tentando esquecer ele em cada gota de álcool que ingeri nas baladas, focar nos estudos para não lembrar do seu sorriso, de beijar outras bocas para tentar apagar o seu gosto da minha memória, e agora isso parece que foi tão idiota de se fazer.

Saber que eu poderia ter ficado aqui no Brasil, estar com a minha família em todas as datas comemorativas, ver meu irmão ficar noivo, e principalmente ter o Rafael ao meu lado ainda, seriam coisas que eu realmente queria ter presenciado. Eu o julguei de uma forma sem igual, e ele nunca me perdoara por essa atitude infantil que tomei, e eu não o culpo por isso.

Começo a pensar como foram esses dois anos para ele, sua família, o que será que pensa de mim depois de eu fugir para o Canada? E a Katie como será que reagiu com o nosso termino, como será que ela está agora? Deve continuar uma princesa. Em meio as minhas lagrimas, sorrio com esse pensamento. Porém ela pode me odiar também, isso faz com que eu me sinta detonada por dentro, saber que em breve vou ter que enfrentar tudo isso.

Depois de tantas lágrimas eu adormeço no sofá, nunca imaginei que meu primeiro dia no Brasil e eu passaria por tanta coisa assim. Desperto algumas horas depois e vou ao banheiro privativo que possui na minha sala e meu estado é deplorável, lavo meu rosto e me arrumo novamente, preciso sair dessa sala, estou trancada o dia todo.

***

Rafael

Após voltar do almoço percebo que a porta da sala da Júlia está fechada desde que sai, será que ela ainda está lá dentro? Será que eu falei demais? Será que ela esta chateada? Será que ela almoçou? Ou será ela está bem? Eu sei que não deveria, mas meu coração ainda se preocupa com ela.

Ponha a cabeça no lugar Rafael, você tem uma nova vida agora, outras prioridades, e a Júlia não é uma delas, então para de pensar nisso e vai trabalhar, que inferno. Entro na minha sala e pego uns papeis e vou em direção a Jéssica, nossa secretaria.

– Srta. Miller gostaria que saneasse e enviasse essas ações judiciais ao escritório de Londres, por favor.

– Claro Sr. Carter, sabe que pode sempre me pedir qualquer coisa né? – Ela fala se insinuando para mim, já não é a primeira vez.

– Obrigada Miller – Finjo não ter ouvido sua insinuação, vejo o elevador parar em nosso andar e o David e a Suzan entrar.

– Boa tarde Rafael – Diz a Suzan vindo me cumprimentar com um abraço.

– Oi Suzan, está linda, com todo respeito David.

– Sem problemas, tudo bem meu rapaz? – Diz ele apertando a minha mão e me puxando para um abraço também.

– Tudo sim David.

– Então, falou com ela? – A Suzan me pergunta ansiosa.

– Sim, ela não falou muito, e depois não a vi sair da sala. A proposito Srta. Miller, viu se a Júlia saiu para almoçar hoje?

– Não Sr. Carter, até percebi que após a longa conversa de vocês a mesma se trancou na sala e não saiu até agora, será que ela esta bem? – Droga, agora vou ficar preocupado. Viro em direção aos pais dela que me olham sem saber o que fazer.

– Eu vou lá falar com ela David, uma hora ou outra a gente vai ter que enfrentar isso mesmo, melhor que seja eu, assim quem sabe consigo levar ela para comer algo, já que está desde manhã sem colocar nada na boca, isso me preocupa – Suzan diz e seu tom é de pura preocupação com a filha.

– Claro querida, vai lá, qualquer coisa me chama, estarei no escritório com o Rafael – David diz.

– Qualquer coisa nos chame esta bem? – Falei sem pensar, droga, não queria demonstrar a ninguém o quanto eu estava afetado por ela estar ali, e nesse momento tudo o que eu demonstrava era preocupação e justamente aos pais dela.

– Fiquem tranquilos, sei como acalmar minha filha – Ela diz indo em direção à porta da sala da Júlia, dando três batidinhas leves na porta e por fim escutamos ela dizer: Entra, então vimos a Suzan festejar do lado de fora antes de assumir uma postura firme e entrar a sala da filha e fechar a porta atrás de si. Fico pensando no que será que elas vão falar? Queria ser uma mosquinha para saber o que a Júlia está refletindo tanto em sua sala após a nossa conversa.

Saio dos meus pensamentos e falo com a Jéssica:

– Miller, não se esqueça dos papeis para o escritório em Londres ok? – Ela assente confirmando e se virando para ir fazer o seu trabalho.

– Vamos a minha sala David? Acredito que temos muito o que falar sobre a empresa.

– Claro, mas acredito que vamos falar algumas coisas que não tem haver com a empresa também né? – Rio com seu comentário, sei que ele quer saber tudo o que a Júlia falou a respeito do que conversamos, mas infelizmente ela não disse nada, então, vai ser só assuntos sobre o trabalho mesmo.

***

No fim estou com dó da Júlia gente, ela não tinha como saber de tudo isso :(


Meu Vizinho - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora