Domingo de carnaval e eu estava acabada, eram duas horas da tarde quando eu acordei e a galera mais próxima tinha ficado por aqui mesmo, eu lembrava de poucas coisas da noite de ontem. Foi uma loucura. Eu entrei na brincadeira do beer pong e acabei tomando porre, só me lembro de ter beijado o Guilherme e de todo mundo pulando na piscina no fim da festa, fora isso não me lembro nem de como vim dormir.
Desci toda acabada mesmo porque eu não sou obrigada a nada. Mas em compensação tinha um puta de um café da manhã na mesa, não foi o Alan quem fez isso. Já estavam todos na mesa comendo, comendo pra caramba diga-se de passagem. Dei bom dia, peguei um pouco de comida e fui para a varanda. Hoje fazia quatro anos desde que meu primo, Gabriel, faleceu em um acidente de moto. Foi exatamente no carnaval, ele estava bêbado para uma porra e inventou de pilotar. Todo mundo avisou, insistiu para ele não ir mas quem disse que ele ouviu?! Depois do Alan, ele era o mais próximo de mim. Me tratava como uma filha/irmã. Nós éramos um trio imbatível como diz minha tia, e perder a linha assim me faz lembrar dele. Não é algo que eu goste.
Eu tinha quatorze anos na época, foi uma loucura quando tudo aconteceu. O Alan foi um dos que mais sentiu e depois disso foi que minha família se distanciou um pouco. Nós tentávamos ignorar o fato de o Gabriel ter morrido tão novo, e por pura irresponsabilidade para não causar conflitos, mas era impossível esquecer de como tudo aconteceu. Desde então nesses últimos três anos, eu tive algumas crises de pânico quando o Alan ficava bêbado e também não curtia beber tanto a ponto de perder a linha. Hoje em dia já está tudo bem mais controlado. Mas isso não quer dizer que não seja foda.
Sentei na varanda olhando para o mar, me lembro de um sonho em que o Gabriel aparecia para mim como um anjo e dizia que surfar estava acalmando ele e que não deveríamos nos preocupar, ele estava olhando por nós e torcendo por mim. Foi bem na época em que eu tive várias crises. Desde então o mar é como uma conexão de nós três.
Ele era filho da tia Geovana que depois de tudo chutou o balde e foi para os Estados Unidos. Ela era irmã da minha mãe.
Perdi a noção do tempo ali sentada, terminei de comer e fiquei ali olhando para o nada. A bad tinha batido forte e eu nem queria que ela fosse embora.
"Ei, gatinha" Alan me chamando de gatinha, já sei que algo está errado.
"Oi."
"Aquele filho da puta não ia gostar de ver a nossa princesa assim" eu obrigava eles a me chamarem de princesa e beijarem meus pés. Eu era um nojo.
"Eu sei que não, mas ele é um filho da puta então eu não ligo para o que ele gostaria ou não, ele nem tá aqui"
"Para de ser ridícula, ele vai puxar teu pé" a gente sempre tenta levar na esportiva todo esse lance, fazer piada pra não ficar com esse assunto pesado. Porque querendo ou não aquele desgraçado faz muita falta. Lembro até de quando fizemos um pacto de não pensar mais nisso e nem tocar no assunto, o que era impossivel.
"Ele vai puxar o teu que vendeu a prancha que ele surfava só pra encher a cara de cachaça" Sim, ele fez isso! Foi logo depois que tudo aconteceu, ele ficou revoltado e vendeu tudo o que unia os dois, como a prancha em que os dois usavam pra surfar e com o dinheiro ele encheu a cara até ir parar no hospital. Eu só tenho gente doente como primo, puta merda.
"Porra, nem me lembra! Não sei quem é mais filho da puta" Tive que rir, nós três só faziamos merda.
"imagina como ele estaria se estivesse vivo? Ele já teria engravidado alguma mina, certeza!"
"E matado esses baitolas que chegam perto de você, também" É verdade, ele era o tipico cliche que não deixa ninguem chegar perto da prima/irmã.
"E você seria bem pior, porque pra uma cópia de Gabriel você é um lixo!"
"Ah nossa, obrigada! Agora trate de ficar feliz porque tu perdeu um mas continua com um primo gostoso!"
"Tu só faz piadinha bosta né"
"Porque talvez eu seja um bosta"
"nunca concordei tanto!" Nós ficamos ali implicando um com o outro até o pessoal aparecer e começar a encher o saco, Guilherme não estava no meio e isso rendeu boas zoações em relação ao beijo, que cá pra nós eu nem me lembrava direito.
Nós ficamos conversando até tarde, por incrível que pareça ninguém sentiu fome, a ressaca estava forte. rindo de puro nervoso.
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Blank Book
Fiksi RemajaA vida perfeitamente imperfeita de Maria Fernanda, uma jovem de 19 anos que está conhecendo o mundo fora das redomas.