|| Pedro Amaral ||
Levantei-me do chão, depois da habitual conversa diária que partilhava com o meu pai, depois dos treinos no Caixa Futebol Campus. Observei Francisca na mesma posição que antes estava mas, desta vez, a jovem recitava poemas de um pequeno livro que na mão tinha, completamente distraída do ambiente à sua volta. Poesia pessoana, suspeitava eu.
Era a primeira vez, em quase três semanas, que a voltava a ver. Ela deixara de comparecer no mesmo horário que eu e, por momentos, pensei que estivesse a evitar-me. Mas, logo depois afastei tais pensamentos. Afinal, se nós nem nos conhecíamos assim tão bem, qual era a necessidade?- Francisca. - saudei, chegando ao seu encontro. Ela encarou-me com um sorriso tímido, logo se levantando também. - Nunca mais te vi por aqui. - acrescentei e ela riu fraco.
- Durante estas três semanas, vim pela parte da manhã, devido ao estágio que estou a fazer. Foi necessário trocar horários com uma colega e não pude vir de tarde. Agora já tudo voltou ao normal, por isso aqui estou. - explicou e acenei em compreensão. - Tu nunca falhas o teu horário. - apreciou e foi a minha vez de rir.
- É a hora que me dá mais jeito vir porque assim, consigo ficar mais tempo com o meu pai antes de o cemitério fechar. - expus e vi-a assentir. - Hmm, eu gosto muito de conversar contigo mas, sou só eu que acho que não estamos no local mais indicado? - a sua risada bonita fez-me rir igualmente.
- Sem dúvida. - concordou, levando uma mecha do seu longo cabelo para trás da orelha.
- Aposto que tens fome. - deduzi e ela tornou a rir.
- Muita. - admitiu, corando, o que me levou a rir perante o seu constrangimento. - A fila da pastelaria em frente ao local onde trabalho estava demasiado grande e, desculpa lá mas, a paciência nunca foi o meu forte. - defendeu-se e eu ri.
- Então é melhor ficar sem comer? - indaguei, surpreso e ela riu, revirando os olhos.
- Não ficaria sem comer, como é óbvio. Apenas iria merendar mais tarde. - deu de ombros.
Uma vez chegados ao exterior do cemitério, olhamo-nos intensamente, sem saber o que dizer.
- Aceitas um convite para lanchar? - ganhei coragem para perguntar e foi a sua vez de rir da minha timidez.
- Sim. - a sua resposta positiva fez-me sorrir.
- Tens carro? - interroguei e ela negou.
- Por enquanto, não. Está no mecânico. - fez um careta de desgosto e eu ri. - A boa notícia é que, no final desta semana, o meu pai já o pode ir buscar. Faz-me cá uma falta para o estágio que nem imaginas. - reclamou e eu sorri do seu jeito descontraído.
- Então vens comigo. - avisei e ela agradeceu.
Encaminhei-nos para o automóvel e ela sorriu em agradecimento quando lhe abri a porta para que pudesse entrar.
- E, se me permites, posso saber o que estudas, Francisca? - perguntei curioso, quando já estávamos na fila do Starbucks, local escolhido pela jovem durante o nosso trajeto, este que fora feito, num silêncio que não consideraria constrangedor mas também não muito confortável. O constrangimento ainda era notável.
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Fénix | Pedro Amaral
Hayran KurguDois jovens adultos. Dois corações que na dor se perderam. Dois corações que no amor se encontraram.