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|| Pedro Amaral ||

Entrava em casa, depois de mais um treino, o último antes do jogo com o Leixões, que se realizaria amanhã pelas dez horas da manhã, no Caixa Futebol Campus.

Hoje era, também, dia de Benfica, a partida que eu iria assistir na companhia de Francisca, depois de esta semana nos termos encontrado todos os dias, no nosso ponto habitual, embora não fosse o mais feliz, seguindo para diversos locais da cidade capital, onde aproveitámos para nos dar a conhecer mais um ao outro.

- Pedro, querido. - ouvi a minha mãe chamar e sorri, indo ao encontro da mulher que tratava do jantar.

- Oi, mãe. - beijei os seus cabelos e baixei-me um pouco para que ela pudesse beijar-me a bochecha. - Desculpa, esqueci-me de avisar. - olhei-a com uma expressão culpada. - Não vou jantar em casa. - continuei, apreciando a carne que ela cozinhava e que cheirava muito bem.

- Está tudo bem. - sorriu-me. - Vais ver o jogo da equipa principal com o Ferro e o Jota, não é? - perguntou, pois já era algo habitual.

- Pois, sobre isso.. - murmurei, coçando os cabelos, num gesto de atrapalhação que não passou despercebido pela mais velha.

- Pedro Miguel, o que é que tu não me estás a contar? - interrogou, genuinamente curiosa, e eu ri alto  quando esta desligou o fogão e cruzou os braços, esperando que eu começasse a falar.

- Eu vou com uma rapariga. - comecei e vi o seu sorriso crescer aquando da informação que lhe fornecera. - O nome dela é Francisca. Tem vinte anos e é estudante finalista do curso de radiologia e radioterapia. Infelizmente, não nos conhecemos em circunstâncias felizes mas, o tempo que juntos já passámos, permitiu-nos criar e viver momentos que ultrapassam esse facto. - contei, evitando o olhar da minha progenitora, para esconder o embaraço.

- Onde é que se conheceram? - quis saber.

- No cemitério. Foi numa das visitas que fiz ao pai, à três semanas atrás. Ela perdeu o seu irmão gémeo para uma doença rara no sangue, que os médicos nunca foram capazes de identificar. A Francisca tinha oito anos quando ele partiu. Eu nunca me identifiquei tanto com alguém, como o fiz com ela. Ela compreende-me. Aliás, nós nos compreendemos um ao outro. Ela é simplesmente linda em todos os aspectos. - dei de ombros, não evitando um sorriso ao lembrar a morena.

- Pedro, tu estás apaixonado ou é impressão minha? - inquiriu com um sorriso enquanto se encaixava nos meus braços.

- Não é possível, mãe. Só esta semana é que nos aproximamos mais. - rebati, não evitando um riso nervoso, e ela riu.

- E desde quanto é que isso te impediu de sentires algo por essa jovem? Pedro, querido, não é o tempo das coisas mas a intensidades com que as vivemos. - sábia, aconselhou e acenei, sorrindo fraco.

- Obrigado por tudo, mãe. Amo-te. - sussurrei, contra os seus cabelos, deixando um beijo nos mesmos.

- Nunca te esqueças que és o meu orgulho e a luz dos meus olhos. Eu amo-te, meu filho. - apertei-a nos meus braços, pretendendo que tivesse a noção da gratidão infinita que para com ela nutria.

Afastou-se, limpando as lágrimas, e sorriu-me.

- Vá, não te quero assim! - pedi e ela riu, acenando.

- Eu estou bem. - assegurou. - Agora vai lá tomar um duche e arranjar-te para não deixares a moça à espera. Eu vou preparar-te uma tigela com cereais, para comeres qualquer coisa antes de ires. - avisou e sorri, deixando um beijo na sua testa.

- És a melhor! - exclamei, abandonando a divisão, e ela riu.

- Sei. - disse, rindo, e gargalhei com a sua expressão.

Fénix | Pedro Amaral Onde histórias criam vida. Descubra agora