05.

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|| Pedro Amaral ||

- Então, meu? Estás bem? - Jota despertou a minha atenção, enquanto finalizávamos os últimos exercício do treino da tarde.

- Sim, sim, está tudo bem. - afirmei distraído, tentando fazê-lo esquecer o assunto.

- Pedro. - chamou e bufei, sabendo que não iria conseguir esconder o que quer que fosse do meu melhor amigo. Parei os movimentos com a redonda e imitei o seu gesto, quando este se sentou no relvado.

- O mister vai repreender-nos. - avisei e ele riu, dando de ombros.

- Inventamos uma desculpa qualquer quando ele reparar. - combinou e acenei, rindo. - Agora, desembucha. Quero saber o que tanto te preocupa e te está a tirar o foco do treino - pausou por meros segundos - o que não é normal. - completou e suspirei.

- Estou nervoso. - confessei, focando o meu olhar na bola que guardava junto de mim. - Como sabes, hoje é o vigésimo-primeiro aniversário da Francisca e estou a pensar pedir-lhe em namoro. - continuei e ele riu na minha cara, o que me irritou.

- Tu estás nervoso, só, por causa disso? - gracejou e mostrei-lhe o dedo do meio.

- Não é SÓ isso.- dei enfâse no . - E se ela não aceita ou mesmo não.. - fui interrompido quando senti a bola que ele tinha nas mãos, voar para a minha cabeça. - Caralho meu, essa doeu! - resmunguei, atirando-a de volta e que ele, sem qualquer dificuldades, apanhou.

- Moo cabeças. - disse e eu ri com o nome que trocávamos entre nós, no mundo do futebol. - Nós não devemos estar a falar da mesma miúda porque, a Francisca que eu conheço, e que todos nós conhecemos, é aquela que todos os finais de semana, está sentada nas bancadas deste campo e em qualquer outro a gritar o teu nome, é aquela que adora conviver com a tua família e os teus amigos, é aquela que adora bajular-te por todos os lugares que passa, é aquela que não se cansa de dizer-te o quanto te adora e que, mais do que isso, o demonstra. Essa Francisca, tenho a certeza, aceitará o teu pedido de namoro e até te vai agradecer por o teres feito. - olhou-me com um sorriso sugestivo e dei-lhe um estalo na cabeça, que o fez praguejar. - Agora deixa de lado estas inseguranças que, me estás a parecer demasiado florzinha. - gozou e bufei, não deixando de o acompanhar.

- Obrigado, puto. - sincero, agradeci e ele sorriu, abraçando-me pelos ombros enquanto me despenteava os cabelos. - Quem é o florzinha agora? - foi a minha vez de fazer troça e o mais novo riu.

- Jota, Pedro! - ouvimos os nossos nomes e, num ápice levantámo-nos, encarando o mister que se dirigia a nós.

- Qual é a suposta desculpa? - perguntei, num tom baixinho, e ele deu de ombros.

- Deixa isso comigo. - pediu e dei de ombros, confiando plenamente na sua ideia, fosse qual fosse.

- Mister, nós estávamos a apertar os atacadores. - Jota mentiu e não hesitei em levar a minha mão direita à testa, o que fez o treinador rir e o meu colega olhar-me confuso.

- As tuas botas não têm atacadores, João Filipe. - murmurei, entre dentes, e ele olhou para os seus pés, não evitando corar, o que nos fez cair na gargalhada.

- Desculpe, mister. - o jovem desculpou-se e o mais velho riu, desvalorizando a situação com um dar de ombros.

- Tudo bem. É só para avisar que o treino terminou. - apontou para o seu relógio de pulso e olhámos à nossa volta, vendo o relvado vazio.

Olhámos o homem, um pouco embaraçados, e ele riu.

- Bom treino, putos. - elogiou, deixando um palmadinha nas nossas costas. - Vemo-nos amanhã. - despediu-se e nós rimos, correndo em direção ao balneário.

Fénix | Pedro Amaral Onde histórias criam vida. Descubra agora