A reunião correra perfeitamente bem. Eu chegara pontualmente na mesma, cumprimentara meus superiores e assistentes e ouvi todas suas instruções para o meu novo cargo. Eu seria praticamente uma assistente pessoal do editor-chefe, recebendo algumas das funções que ele praticava, como entrar em contato com autores, assim como ajudaria a diagramar alguns trabalhos mais prioritários que não podiam ser passados a terceirizados. É claro que desde o começo uma intensa responsabilidade já recairia sobre meus ombros, mas era o mínimo que eles esperavam de alguém que tinha a competência suficiente para ser a estagiária. Eu teria um dia de home-office para lidar mais com as questões de diagramação e o secretariado pessoal do editor-chefe. Expus minhas experiências e opiniões de forma clara, ganhando olhares de aprovação. T.J. também estava lá, vestindo um colete branco com estampa de margaridas. Foi bastante agradável e eu senti que a Editora DDrafts seria um ótimo local de trabalho, não só por tudo que me proporcionaria profissionalmente como também pelas pessoas que seriam minhas colegas.
Bem, com a exceção de uma.
Woodham não deu as caras na reunião porque provavelmente não tinha nada a ver com a vida dele, o que me aliviou e muito. No entanto, meus superiores (re) afirmaram que ele era a grande joia da editora e só o que me pediam era para estender um tapete vermelho quando ele fosse passar e lambesse seus sapatos. O que eu faria com o maior prazer e boa vontade, claro, se ainda estivéssemos na semana passada. Agora, eu preferiria lustrar meus próprios sapatos com fezes de vaca a sequer olhar em seu rosto e fingir um sorriso. De qualquer forma, aparentemente ele estava em etapas de terminar seu novo livro e provavelmente a aparição dele seria frequente pelo prédio, para discussões administrativas, o que não me animou em nada. A perspectiva de esbarrar nele era abominável.
Isso porque, em um ímpeto de coragem, eu havia sido impetuosa e irônica, já que odiava que alguém me tratasse como lixo quando eu havia lutado para estar onde estava. Mesmo que essa pessoa fosse alguém que havia me ajudado a chegar até aqui, indiretamente. Conhecendo-me, entretanto, sabia que essa atitude aconteceria provavelmente todas as vezes que nos encontrássemos até que ele baixasse a cabeça para mim e se desculpasse por sua atitude, o que, considerando seu orgulho e classe, eu não via acontecendo pelas minhas próximas três reencarnações. E tudo resultaria, obviamente, em eu atirando farpas nele toda vez que fosse obrigada a encarar seu rosto odiosamente bonito ao invés de obedecer meus superiores e trata-lo como uma joia.
Basicamente, uma catástrofe.
E embora meus planos mentais consistissem em me manter o máximo possível afastada dele, o destino que eu tanto louvara e confiara insistia em rir da minha cara e mexer seus pauzinhos.
— Lora, deixe-me passar o endereço da festa — T.J. aproximou-se de mim puxando seu celular do bolso enquanto saíamos da sala e eu continuamente apertava a mão dos funcionários que me desejavam boa sorte e se despediam sorridentes. Olhei confusa para ele, não me recordando de ele ter falado de festa nenhuma.
— Hã, claro. Que festa? — perguntei, tirando meu próprio aparelho da bolsa que eu carregava e abrindo no mapa para marcar a localização. T.J. soltou uma risadinha.
— Parece que teremos alguns anúncios importantes, além da sua apresentação ao resto da equipe, então o chefe decidiu que alugar um salão e contratar um buffet seria mais prático, já que vai acabar reunindo gente demais — ele explicou, mas permaneci confusa.
— E isso foi tudo arranjado de ontem para hoje? — estava boquiaberta, recebendo meu celular de volta.
— Não subestime o poder do dinheiro. Somos uma editora bastante lucrativa e renomada, conseguimos alguns serviços assim. Além do mais, sempre fazemos as festas anuais da empresa no mesmo lugar, somos clientes VIP — ele deu ombros. — Vai ter que se acostumar com as exibições de poder e dinheiro do nosso chefinho — Concordei com a cabeça, checando o endereço, sabendo que aquilo tudo estava além da compreensão de uma mera mortal como eu. Era um pouco longe de onde eu morava, um táxi provavelmente sairia caro. Se era uma festa de empresa, era bem capaz que teríamos de ir formalmente, sendo então ônibus e metrô um meio de transporte um tanto questionáveis. — Por que você parece hesitante? — T.J. perguntou, pronto para abrir a boca para perguntar de Vincent, provavelmente, quando ouvi atrás de mim:
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I - Quem Eu Quero Encontrar
RomanceLora Preston tem 26 anos e chegou onde ela queria chegar. Trabalhou duro, se esforçou e superou as dificuldades para que pudesse encontrar com quem ela sempre quis. Contratada pela editora de seu autor favorito, aquela era a chance única de realizar...