Capítulo Um

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Quando os raios de sol invadiram meu quarto soube no mesmo instante que já era o momento de se por de pé, mas mesmo assim minha mãe fez questão de subir até o quarto e gritar junto com o despertador.

-Já são seis horas Sam! Levante da cama. -eu a encarei sem nenhum sorriso.
-Bom dia para você também mãe. Obrigada.
-Se arrume. - me ignora -Eu e seu pai vamos te levar pra escola.

Não questionei, pois sabia que minha entrada na escola só seria permitida com a ida deles. Logo cedo, bem cedo, minha irmã Olga sorria e cantarolava no carro, respirei fundo pela terceira vez antes de me dar o luxo de abrir a boca para dizer algo, queria fazê-la calar a boca, mas ao mesmo tempo não estava com saco para iniciar uma discussão.

Preferi o silêncio.

-Expulsa? - minha voz saiu junto a de meus pais, até eu estou surpresa.
-Sim Samantha, expulsa.
-Senhora diretora... -meu pai tenta interceder.
-Você não pode fazer isso! É o meu último ano. -me ponho de pé.
-Pensasse nisso antes. - respiro fundo engolindo uma boa resposta.
-Diretora eu sei que Sam não é uma menina fácil.
- E não é mesmo. -retruca.
-Mas ela tem notas excelentes. -papai me defende. -Não poderíamos rever essa expulsão? Ela promete se comportar de agora em diante. - me encara.
-Senhor Carlos, eu compreendo que tanto o senhor como sua esposa não concordem com minha decisão, mas já não é de hoje que Samantha se mete em confusão.
-Confusão? -reclamo. -A única coisa que fiz e faço é defender muitos desses jovens que sofrem bullying e que ninguém vê. E quando digo ninguém é ninguém. -a encaro a incluindo nesse ninguém.
-Não foi apenas isso Samantha e você sabe. - cruzo os braços. -Se me recordo você citou essas palavras. - ela pega um papel rascunho. -Que droga você tem feito por essa escola além de ficar com sua bunda na cadeira de diretora? Não consegue enxergar com esses par de óculos? Seja menos vaca e pare de...
-Já entendemos diretora. - é a vez de minha mãe se pronunciar.
-E tem muito de onde vem isso. -ela guarda o bilhete -Infelizmente senhor, sua filha é impulsiva e...
-Não. -me encara. -A única coisa que fiz foi defender muitos desses alunos que sofrem bullying, se cortam, por que alguns aqui se sentem alguma coisa por andar com a galera "descolada" ou fazer parte de algum grupo importante. A senhora não consegue enxergar o caos que é essa escola, deveria fazer alguma coisa pra mudar isso, foi só o que quis dizer.
-Entendo sua preocupação, mas a senhorita deveria aprender a falar menos e não se intrometer no que não lhe desrespeita. -ela se põe de pé. -Sou qualificada para exercer essa função e não preciso que ninguém me diga o que fazer.
-Belas palavras diretora, creio que se a senhora falasse menos e agisse mais essa escola seria diferente, mas com certeza a senhora tem estado muito ocupada abrindo as pernas para o professor de matemática e não encontra tempo pra enxergar o resto.

Ela me encara chocada.

-Isso é um ultraje!
-Diretora... - meus pais se põe de pé.
-Vocês deveriam educar essa garota.
-E agora dizer a verdade é falta de educação?
-Samantha! - minha mãe me repreende.
-O que? - sorrio com a cara de raiva da diretora.
-E-eu creio que a expulsão de minha filha é um assunto indiscutível, certo? -diz receoso.
-Indiscutível senhor Carlos. Ela está expulsa. -diz firme.

Se antes havia alguma chance de continuar aqui, neste momento tive a certeza de que não existe mais.

Saímos dali todos em silêncio.

-Precisava dizer tudo aquilo? -ela diz assim que seguimos pra casa.
-Mas mãe...
-Mas mãe nada Samantha! -me calo- Desde quando você fala dessa forma com as pessoas?
-Desde que vocês me ensinaram o quão ser honesta e ajudar o próximo é importante, voces me ensinaram que isso nos torna pessoas melhores e é isso que eu quero ser, vou ajudar quem precisar independente do que acontecer. - ela se cala.
-Criamos um monstro. -rimos

Passamos uma semana em busca de uma nova escola e a única que encontramos foi a três quadras de minha casa e como castigo durante um mês eu não poderia pegar condução, viria andando pra casa por todo aquele caminho, como disse minha mãe era pra eu "pensar" no que falo e não cometer o mesmo erro.

-Ansiosa para o dia de hoje? -encaro Olga em silêncio.-Pelo visto não. Muda essa cara! Deveria estar feliz de alguma escola aceitar sua carta de recomendação. -ri.
-E você deveria calar a boca.
-Cala a boca você!
-Hey! Já chega não? Você precisa ir Sam, vai se atrasar.
-Mas ainda é cedo.
-Você vai andando esqueceu? Leva quase meia pra chegar lá. -reviro os olhos.
-Tchauzinho.

Andar por todo aquele novo caminho foi algo que nunca tinha feito a pé, me senti um tanto relaxada por caminhar com meus fones ouvindo minha canção favorita, fiz questão de criar uma nota mental de tirar um tempo para fazer caminhadas. Por todo trajeto pude ver uma grande quantidade de jovens seguindo a mesma direção que eu, logo deduzi que fazíamos parte da mesma escola.

Cerca de meia hora mais tarde me encontro em frente a grande escola, o lugar era totalmente diferente de onde eu estudava, havia alunos com violão, algumas meninas fazendo acrobacias em um outro lugar, jovens rindo e conversando, ainda era cedo, mas algo dentro de mim se aqueceu.

É parece legal.

Entretanto o sorriso que outrora havia em meus lábios sumiu ao ver uma movimentação estranha próximo a lixeira, todos riam de algo muito engraçado, a atenção das pessoas assim quanto a minha foi voltada para eles, e assim que aquele grupo se dissipou pude ver qual era o real motivo de todo aquele riso. Um menino alto, magro, usando óculos tenta sair da lixeira, sem pensar duas vezes sigo até ele e o ajudo.

-Porque está fazendo isso? -diz surpreso.
-Por que você precisa de ajuda. -digo como óbvio, mas ele parece não entender. -Eles sempre fazem isso com você?
-Já estou acostumado.
-E porque você não reagi?
-Como se fosse fácil. -me calo -Mas mesmo assim obrigado.

Ele segue sozinho e dentro de mim cresce outra vez o sentimento de revolta.

Não vai ser fácil estudar aqui.

Três Regras Para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora