03 - Cristais de Açúcar

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"Então... como foi?" Zayn perguntou as costas de Louis.

Era um domingo qualquer, o que significava que Louis tinha sido encarregado da louça do dia. Espuma, cheiro de maçã e frustração se agarravam em seus pulsos, uma combinação deplorável para um dia tão bonito. Ele se virou lentamente, pesando as palavras para não parecerem tão miseráveis quanto ele se sentia.

A luz amanteigada da tarde se derramava pela cozinha e pela pele de Zayn, deixando todas as superfícies pinceladas por um suave brilho cítrico. Cabelos escuros, assim como cílios de azeviche, contrastavam contra olhos dourados, firmes como pedras de ágata. Zayn possuía um rosto aristocrático, ângulos afiados que sempre faziam Louis se perguntar como Harry o pintaria. Talvez, algo em sombras de preto, branco e cinza, com algumas pinceladas de dourado para destacar os olhos.

Ele meneou a cabeça segurando a imagem de Harry pintando só por mais alguns segundos, a deixando ir em um fôlego.

"Foi um pouco... estranho, mas nada entre mim e Harry tem sido muito confortável ha um bom tempo." Disse Louis, espalhando as Mãos sob a bancada. "Zee, você acha que ele sabe... Que eu... gosto dele?"

Ele viu Zayn lhe lançar um olhar suave, as bordas de uma emoção que Louis não soube etiquetar. Sua palma foi coberta pela mão do amigo, o toque quente e confortável.

"Eu não sei, Lou. Não sei se ele sabe, mas você não acha que ja está na hora?" Zayn apertou seu pulso, o prendendo com o olhar. "Lou, presta bastante atenção. Você me disse que o Harry correspondeu ao beijo, que ele..."

"Não! Não foi assim, Zayn!" Louis sentiu sua própria voz se elevar, e se obrigou a diminuir o tom com um esforço cruel. Se afastando do toque do amigo, ele abraçou o próprio corpo abaixando a cabeça. "Ele estava bêbado, eu senti o gosto de álcool nos lábios dele, Zayn. Se Harry gostasse de... mim, desse jeito, ele com certeza já teria feito alguma coisa a muito tempo. Você conhece ele, se Harry quer, ele toma."

Zayn o fitou, os olhos desfocados e contemplativos, dedos se arrastando no verniz da madeira. Por um breve momento, Louis pensou que Zayn estava traçando  o ritmo do primeiro movimento de Gaspard de La Nuit, mas em um fleche, o padrão mudou e ele tomou uma respiração resoluta.

"Eu não... não tenho certeza se essa regra se aplica a você, Lou." Com um suspiro ele emendou. "O Harry pode até tomar aquilo que ele quer, mas acho que ele não faria isso com você, não quando isso significaria..." Ele traçou um desenho no ar, as formas estranhas e indistintas. O gesto era auto ilustrativo, sem necessidade de se quer uma palavra.

Enquanto Louis abaixava as pálpebras, ele sentiu as palavras de Harry como um sopro contra o coração: —Eu só não quero... te perder. — foi o que ele disse, um cacho marrom colado na têmpora, algo frágil e afiado refinado em uma dor que Louis nunca tinha visto naqueles olhos.

"Zayn, eu..."

"LOU! TÔ INDO NA CASA DA SARAH." Félicité gritou, seguida por um barulho de porta se fechando.

Soltando um suspiro, ele completou. "...não tenho tempo para acabar de arrumar essa casa antes que mamãe e Lotie cheguem."Ele arriscou um olhar para o relógio, amaldiçoando os ponteiros que corriam para às cinco. "Fica pro chá? Por favor, Zayni.

Zayn o encarou, depois olhou para suas mãos que ainda estavam úmidas e envolvidas em seus braços. Louis sabia que o amigo tinha percebido que ele não queria falar mais de Harry e, muito menos, sobre a volta de Lottie.. Ambos os assuntos lhe traziam um misto de culpa e impotência, uma onda negra que se espalhava por seu peito feito um câncer. Então, quando Zayn adquiriu um olhar apaixonado, algo reservado apenas para Liam, Louis agarrou a oportunidade de o escutar, agradecido por ele entender os seus sinais tão bem.

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