Um encontro inusitado

395 30 4
                                    

Era um dia comum como todos os outros. Seguia a rotina de acordar, escovar os dentes, fazer minhas necessidades, fazer a barba, passar o fio dental, lavar o rosto, pentear o cabelo, bagunçar o cabelo, vestir uma roupa engomada, pegar um café frio e um pão mofado para ir comendo durante o caminho do trabalho. E no caminho, a rotina continuava. Passar na banca de jornal, comprar a folha da previsão do tempo, cumprimentar alguns conhecidos pelo caminho e abrir a locadora para mais tarde, os mesmos rostos de sempre entrarem para trabalhar.

Seria um dia comum se enquanto eu estava parado em frente a banca de jornal, uma figura feminina estranha não tivesse se postado ao meu lado e murmurasse xingamentos revoltados enquanto lia a capa de uma revista de fofoca qualquer.

— Idiotas! Completos idiotas! — a voz doce dela ecoou por minha cabeça e virei o rosto para mirá-la, não conseguindo enxergar mais do que um lenço cobrindo-lhe os cabelos, óculos enormes tampando-lhe a face quase por inteira, e um sobretudo escondendo o seu corpo por completo.

Ela me pareceu, por primeira impressão, uma atriz antiga, pois se vestia como. Era perceptível a sua juventude, mesmo coberta com tantas máscaras... E pela voz melódica era impossível a possibilidade dela não ser atraente passar por minha mente... Não que eu tivesse sido atraído por ela naquele primeiro momento pela sua talvez aparência, mas sim porque ela parecia ser uma mulher repleta de mistérios e um pouco de mistério era o que me faltava.

— Quem eles acham que são? — outra vez ela pronunciou palavras nervosas e acabou jogando a revista junto com as outras, cruzando os braços e não saindo do lugar.

Me coloquei um pouco para frente para conseguir ler a manchete que a revista trazia e sorri ao ver do que se tratava.

"Novo affair misterioso de Dulce Maria."

— Não acredito que ela esteja namorando com ele... — comentei com a mulher que imediatamente virou a cabeça para mim, parecendo assustada com a minha iniciativa de conversa.

— E porque não? — ela murmurou, se mostrando interessada em escutar o que eu estava disposto a falar.

— Acho que atores e atrizes tem pouco tempo para namorar, sem contar que deve ser horrível iniciar uma relação no meio de tantos flashes e outras coisas ao seu redor. Essa atriz, Dulce María, está no auge devido as suas excelentes atuações, sem contar que ela sabe escolher muito bem os roteiros ao qual seguir, mas exatamente pelo fato dela estar no auge, acho que a vida amorosa deve ter sido deixada de lado... Pelo menos por um tempo. — sorri para ela ternamente e ela permaneceu muda, como se mastigasse a minha opinião intrigada — Mas porque você está tão irritada? É só uma matéria boba. Amanhã provavelmente estarão comentando a Britney Spears ou sobre a Angelina Jolie e o Brad Pitt... — comentei e enquanto eu tomava um gole do meu café ela perguntou:

— Você é gay?

Cuspi o café que bebia longe e a encarei desnorteado. Não me recordava de ter demonstrado ou dado nenhum sinal sobre a minha sexualidade, muito menos de ter dado algum sinal de ser homossexual. Notei um sorriso tímido surgindo nos lábios avermelhados dela e ela logo abaixou a cabeça, envergonhada pelo que havia falado, me fazendo sorrir involuntariamente.

— Não, não sou. Porque você cogitou nessa idéia?

— Normalmente os homens não pensam que nem você, tenha certeza. Quando vêem que uma atriz famosa está namorando, falam algo como: "Droga, a gostosa já tá trepando com outro!". Nunca vi um homem analisar as coisas como você.

— Não acho que são todos os homens que falam isso, quer dizer, qual é a possibilidade de um homem comum sair com uma mulher famosa? Uma em um milhão?

— Não é porque a mulher é famosa que não pode se apaixonar por um homem normal...

— Mas a mulher famosa vive rodeada de outras celebridades, e creio que não tem muitas chances para conhecer ou se envolver com pessoas novas, ainda mais com pessoas com trabalhos simples, como um médico, ou um dentista, ou quem sabe até um gerente de loja...

— Você trabalha com o que?

— Sou gerente de uma Blockbuster — dei de ombros e ela sorriu.

— Se eu fosse famosa, sairia com um gerente de uma locadora.

— Você não se interessaria em um cara pacato como eu quando se tem milhares de modelos e atores caindo aos pés de mulheres famosas.

— Acho que um homem pacato seria o ideal para amenizar a vida sobre os holofotes de qualquer mulher, sendo ela famosa ou não. Só de encontrar um homem que não pense como 99%, acho que o meu dia será melhor! — sorrimos um para o outro e não entendi como consegui reunir algumas palavras para formar a frase que era inacreditavelmente absurda.

— Você pode... Me... Bem... Passar o seu telefone?

Ela pareceu corar por debaixo dos óculos e abriu um sorriso sem graça, ajeitando o laço do pano e se movendo impacientemente para o lado. Pensei sentir uma gota de suor descendo por minha nuca, o que tornaria aquele momento a cena mais intrigante do suposto filme da minha vida. Era como "a hora da verdade", e quando a boca dela se abriu, prendi a respiração igual a um menino inexperiente de doze anos, ansiando pelo primeiro encontro.

— Você gostaria de sair comigo? — ela perguntou sem se convencer muito e eu confirmei com a cabeça, agitado como nunca antes.

— Adoraria — afirmei — Como você acha que não são todos dias que se encontra um homem que pense como eu, eu acredito que não são todos os dias que se encontra uma mulher que dê para conversar de maneira tão agradável como agora... — ela sorriu mais uma vez e olhou para baixo, movendo os pés de um lado para o outro, mostrando estar ansiosa e acanhada que nem eu.

— Eu gostaria de passar o meu telefone para você, mas não moro aqui, estou de passagem... — e assim que ela terminou de falar, senti um bloco de cimento caindo em cima da minha cabeça e me despertando para a realidade. Era claro que ela não me passaria o telefone, eu era um homem pacato, anormal e que tinha hipóteses loucas sobre artistas famosos, sem contar que trabalhava em uma locadora! Não a culpei, pois se estivesse no lugar dela, faria o mesmo.

— Ah, tudo bem...

— Não! — ela percebeu o tom desanimado de minha voz e tentou se explicar — Não pense que é porque não quero sair com você, acredite, eu quero! — as bochechas dela ganharam cor rubra e eu sorri que nem um bobo, ainda sem muito acreditar no que ela dizia — Eu só... Ah, espere, ao invés de telefone, posso passar o número do meu celular?

— Pode sim, e eu passo o número do meu... Até quando você vai ficar aqui?

— Até sábado... — ela pegou o próprio celular e me entregou — Quinta eu estou desocupada...

— Então... Quinta-feira? Podemos sair para jantar?

— Eu realmente adoraria! — ela abriu mais um sorriso e assim que devolveu o meu celular, olhou no relógio de pulso e suspirou — Tenho que ir. Estou atrasada para o trabalho.

— Eu também estou... Então... Até quinta?

— Sim — ela sorriu ainda mais — Até quinta.

~~~~

Essa fanfic é tão curtinha, mas acho tão bonitinha! Amanhã volto pra postar mais um pedacinho! Votem ai e comentem o que acharam desse cap...

Beijinhuxxx

Encontro por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora